Com 17 bairros e cerca de 200 mil habitantes, o Complexo de Cajazeiras, no município de Salvador, não possui uma instituição de ensino profissional e superior pública e presencial. Para preencher essa lacuna, um movimento pela instalação de uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba) foi lançado por movimentos sociais, educadores e estudantes. O pleito foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviços Públicos da AL-BA na terça (14), presidida pela deputada Olívia Santana (PCdoB).
“Cajazeiras tem o tamanho de diversos municípios baianos e um vazio no oferecimento de ensino superior e profissionalizante”, afirmou Kilson Mello, representante dos movimentos sociais do complexo, dos principais articuladores pela demanda. Ele frisou que a região possui bairros economicamente importantes para a capital baiana. “Mas ainda carece de equipamentos públicos potentes”, relatou ele.
Além de ajudar no desenvolvimento desses bairros, o instituto federal aumentaria as opções dos jovens daquela área, acredita a pró-reitora de Desenvolvimento Institucional do Ifba, Elis Lopes. A educadora apresentou o estudo de viabilidade para implantação do campus em Cajazeiras e verificou o baixo número dos estudantes do Complexo de Cajazeiras ao ensino profissional.
A professora apontou ainda que o Campus de Cajazeiras entrou na lista dos 300 campi do Instituto Federal que deverão ser implementados pelo Governo Lula e que membros da bancada de parlamentares baianos indicam a possibilidade de conceder uma emenda de bancada para construção da unidade. “A fragilidade que temos no processo é a falta de terreno para implantação da unidade. Precisamos de uma doação ou desapropriação de um local para construção da unidade”, alertou.
O levantamento realizado pela comissão ratifica a necessidade de implantação de novas instituições de ensino, em especial aquelas que oferecem uma formação profissional, visto que tais dados demonstram, seja a nível municipal ou, ainda, observando o perfil da amostra da população de Cajazeiras com registro no Cadastro Único, que a população é formada majoritariamente por mulheres, pretos ou pardos e de baixa renda. “Considerando os dados sobre a faixa etária e sobre a formação educacional, percebe um grande público em potencial, visto que cerca de ¼ da população tem idade de 15 a 29 anos e mais de 50% cursam o ensino fundamental”, disse o educador Nelson Santos, um dos apresentadores do levantamento. “É importante pontuar que para implantação da instituição deve-se levar em consideração os setores de atuação profissional da população. Neste sentido, é pertinente iniciar com cursos seja de qualificação profissional, médio técnico, graduação ou pós-graduação que atendam os setores de serviços e comércio”, completou.
Responsável pela solicitação da audiência pública, a deputada Olívia Santana (PC do B) reconhece a importância de montar um campus do Ifba, em razão do esvaziamento educacional superior na área. “Existe uma dificuldade na cobertura do ensino superior em Salvador. Essa audiência atende ao anseio da população do maior complexo de bairros da América Latina”. “Mas tenho certeza que o próximo instituto federal a ser implantado em Salvador será em Cajazeiras, pela força do grupo que está lutando por isso. Precisamos garantir este terreno com o Governo da Bahia”, disse a parlamentar.
Integrante da Comissão de Educação da ALBA, o deputado Robinson Almeida (PT) comunicou que essa é uma demanda estrutural e fundamental a ser atendida. “Vamos fazer interlocução com o Governo do Estado para lutar por essa demanda. Este equipamento vai levar oportunidade para a juventude”, observou o petista. “Falar do Ifba em Cajazeiras não é só falar da contribuição econômica mas entender o que a população pensa para nossa capital, nosso Bahia e nosso Brasil. E isso só é necessário por investimento em pesquisa e extensão”, disparou o parlamentar Hilton Coelho (Psol).
A secretária de educação da Bahia, Adélia Pinheiro, se comprometeu em defender e apoiar para que a implantação do Ifba Cajazeiras se torne realidade. O chefe de gabinete da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação (Secti), Marcius Gomes, afirmou que é papel deste governo popularizar a ciência, portanto a instalação do instituto é prioridade. O também chefe de gabinete da Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi), Alexandro Reis, destacou que a educação é uma aliada para o combate à violência e ao racismo.
Segundo Juci Silva, diretora do Instituto Steve Biko, a implantação do Ifba em Cajazeiras vai abrir a possibilidade da implantação de universidades em bairros populosos de Salvador. Por sua vez, Vitor Queiros, presidente da Associação Baiana Estudantil Secundarista (Abes), avaliou a iniciativa como fundamental, destacando a importância do instituto federal no bairro como Cajazeiras “Eu quero ter a possibilidade de estudar perto de onde eu moro”, disse.
Também participaram da audiência a deputada Maria del Carmen (PT); o vereador de Salvador Augusto Vasconcelos (PC do B); Edson Lina, representante das escolas estaduais; o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, Ivanildo dos Santos, e o estudante Ian Viana.