Quem poderia imaginar, três anos atrás, um petista figurando em um evento do Movimento Brasil Livre (MBL) como convidado, e não como saco de pancada?
Mas veremos essa cena no mês que vem, com a participação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) numa mesa-redonda promovida pelo grupo que foi um dos principais responsáveis pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Em 15 e 16 de novembro, o MBL realiza em São Paulo seu congresso anual, o quinto de sua história, conforme lembrou o jornal Folha de SP neste sábado (5).
Será o primeiro desde que o movimento, que ficou conhecido por sua agressividade retórica contra os adversários e a imprensa e por nunca fugir de uma treta, anunciou a decisão de dar uma espécie de “reset”.
O MBL promete deixar de ser escravo dos memes e tratar com respeito seus adversários. Mas também faz um cálculo político.
Seus líderes querem se diferenciar dos grupos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) -aos quais eles chamam ironicamente de “minions”- e pretendem ser uma direita crítica.
Seguirão apoiando algumas pautas do governo, sobretudo as econômicas, mas querem ter liberdade para comentar acusações de corrupção e pautas que enxergarem como sendo excessivamente conservadoras.
Para quem pediu votos para Bolsonaro no segundo turno do ano passado, contra a candidatura de Fernando Haddad (PT), e flertou com o obscurantismo ao criticar a exposição Queermuseu, em Porto Alegre, em 2017, a mudança não é pequena.
O congresso do MBL foi pensado como uma vitrine desse movimento repaginado, e a programação está investindo bastante na valorização do contraditório.
Chinaglia participará no dia 16 de novembro de um debate sobre a reforma política, com outros parlamentares de diversas tendências.
Pelo PC do B estará presente Orlando Silva (SP), que além de comunista, é ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), entidade que sempre foi considerada antípoda pelo MBL.
Também integrarão a mesa os deputados federais Vinicius Poit (Novo-SP), Daniel Coelho (Cidadania-PE) e Kim Kataguiri (DEM-SP), que é um dos coordenadores nacionais do movimento, além do senador Marcos Rogério (DEM-RO).
Outro evento com a participação de um parlamentar da esquerda está sendo negociado e deve ser anunciado nos próximos dias.
Completam a programação mesas sobre educação política, sátira e empreendedorismo, entre outras.
Também haverá debates com a participação de jornalistas, inclusive este repórter.
O evento servirá como parâmetro para dizer até que ponto o MBL realmente decidiu mudar e se tornar um movimento de direita mais independente.
Os céticos são muitos, o que é normal. Desfazer a impressão pretérita deixada pelo movimento levará tempo.