Apesar da inédita disputa pelo apoio de lideranças evangélicas e pela conquista do voto evangélico que se viu na última campanha eleitoral, a maior parte dos deputados que estarão na próxima legislatura da Câmara dos Deputados será formada segundo Chico Alves, do UOL, por católicos. A constatação é do estudo Religião e Poder, coordenado por Magali Cunha, doutora em Ciências da Comunicação e integrante do Instituto de Estudos da Religião (ISER). A partir do próximo ano, a proporção será de três deputados católicos para um evangélico.
Dos 513 integrantes da Câmara, 404 tiveram sua identidade religiosa revelada no levantamento. São distribuídos da seguinte forma:
— Católicos 44,4% (228)
— Não identificados 21,2% (109)
— Cristãos 16,2% (83%)
— Evangélicos 14,6 (75)
— Sem religião 2,3% (12)
— religião afro 0,6% (3)
— Espírita 0,4% (2)
— Espiritualidade indígena 0,2% (1)
A coordenadora do estudo reconhece que a presença evangélica na Câmara é significativa, mas está abaixo do que a Frente Parlamentar Evangélica projetou. “Eles planejaram chegar a 150 deputados, mas os evangélicos declarados que acabaram eleitos são 75”, contabiliza Magali. “Se somados aos que se identificam genericamente como cristãos, mas de tendência evangélica, o número chega a 96, que é igual ao que tinham antes”.
A conclusão, segundo a pesquisadora, é que os bispos e pastores não têm o poder eleitoral que pensavam ter e que propagam ter. Para Magali, um dos fatores que colaboram para isso é a cobertura da mídia, com uma espécie de obsessão quanto aos pentecostais e neopentecostais, que acaba escondendo os evangélicos históricos, como os presbiterianos, batistas e luteranos. Outro item é o uso massivo das redes sociais – inclusive com influenciadores – e dos próprios meios de comunicação, como emissoras de TV e rádio.
Os católicos são maioria no Brasil, mas politicamente muitas vezes por opção ficam na sombra dos evangélicos. “Também são conservadores. Há uma aliança católica com o bolsonarismo, tanto que Bolsonaro nunca deixou de se declarar católico”, recorda. “Interessante observar qual será o papel dos católicos no Brasil pós-Bolsonaro”.