Na última quinta-feira (16), a família de Bruce Willis, de 67 anos, anunciou que o astro de Hollywood foi diagnosticado com demência frontotemporal. A condição neurodegenerativa ainda não tem cura e pode estar ligada a hábitos de risco, como alcoolismo.
Esse tipo de demência, mais comum em indivíduos entre 45 e 65 anos, é causada por desequilíbrios no cérebro, que geram aglomerados de proteínas dentro das células cerebrais. Esse acúmulo impede que as células da região funcionem corretamente.
A longo prazo, conforme os aglomerados aumentam, a área e as funções cerebrais ficam cada vez mais comprometidas.
A progressão da doença, segundo o pós-doutor em neurociências pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Fabiano de Abreu, mostra que o quadro de afasia que o ator enfrentou em 2022 pode já ter sido um sinal da doença.
“Apesar de poder surgir em decorrência de outras condições, como infecções cerebrais e AVCs, a afasia também pode estar relacionada à demência frontotemporal, por isso, o diagnóstico de afasia já acende um alerta de que condições mais perigosas também podem estar presentes”, explica o neurocientista.
O médico neurologista e especialista em doenças neurológicas raras e neurogenética da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo Fernando Freua complementa que “as duas condições podem estar relacionadas, [já que] a afasia, na verdade, é um sintoma. O nome da doença, propriamente, é afasia primária progressiva. Afasia é, [por exemplo], uma dificuldade de linguagem.”
Em março de 2013, Bruce foi capa da revista GQ internacional e contou detalhes sobre os problemas que teve com alcoolismo e um pouco sobre a saída do vício. Segundo o ator, ele bebia vodca direto da garrafa todos os dias. Essa situação também pode ter influenciado o desenvolvimento da doença, segundo os médicos.
“É interessante observar que, mesmo Bruce Willis sendo uma pessoa que passou grande parte da vida exercitando a neuroplasticidade cerebral através da leitura e memorização de roteiros, existem outros fatores que podem desencadear essa situação, como o alcoolismo, com o qual o ator lutou, ou até mesmo fatores genéticos”, diz Abreu.
Os principais sintomas da demência frontotemporal são dificuldade de comunicação e de memória, alterações na personalidade, redução do foco e atenção, pensamentos abstratos e, em alguns casos, dificuldade de movimentação, para engolir e de fala.
A forma mais efetiva de prevenir a doença, comumente esporádica, é estar atento e evitar os fatores de risco.
“As demências em geral podem ser causadas por fatores genéticos, por isso, ter membros da família com doenças neurodegenerativas já acende um alerta, mas o estilo de vida também influencia bastante: hábitos como o uso excessivo de celulares e redes sociais, abuso de substâncias, como álcool, cigarro, drogas, dormir pouco, sedentarismo, obesidade, entre vários outros”, exemplifica Abreu.
Essa atenção se torna ainda mais importante considerando que não há cura para a demência frontotemporal. Bruce deve ser submetido a tratamentos para amenizar os sintomas, como fisioterapia — para combater os problemas motores —–, fonoaudiologia (reduzir os impactos na fala e respiração), além de realizar mudanças no estilo de vida.
Outra forma efetiva de evitar a doença é adotar hábitos que estimulem o exercício mental.
“Jogos de lógica, leitura de livros físicos, dormir oito horas por noite, prática regular de atividades físicas, evitar alimentos processados e optar por dietas mais naturais e balanceadas, preservar os momentos de lazer e evitar o contato excessivo com ambientes estressantes [são cuidados básicos]”, lista o neurocientista da Universidade da Califórnia.
Fernando ainda acrescenta que a alimentação está intimamente ligada à incidência de demência. Dietas como a do mediterrâneo, baseada no consumo de gordura boa, são benéficas.
A família também desempenha papel importante pois “geralmente quem começa a desconfiar de que há algo acontecendo é o entorno, são os parentes ou as pessoas que convivem com aquele indivíduo — começam a identificar algum padrão de mudança de comportamento e algum grau de inadequação social”, conta Freua.
Vale ressaltar que a memorização e leitura praticados de forma constante por Bruce Willis nos últimos anos não foram em vão. De acordo com Abreu, esse histórico pode diminuir a gravidade dos sintomas durante a progressão da doença.
“O exercício cerebral [também] pode ter ajudado a mantê-lo ativo por mais tempo, evitando, por exemplo, o surgimento precoce da doença”, finaliza o especialista da universidade americana.