De repouso no Palácio da Alvorada, por conta de um procedimento médico para afastar as dores no quadril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve aproveitar os próximos dias para definir os rumos da reforma ministerial. E, apesar da pressão de setores do PT e de militantes do movimento de moradia, os alvos preferenciais do corte continuam sendo a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT-PI).
Segundo interlocutores do governo, conforme Renan Truffi, Fabio Murakawa, João Valadares e Marcelo Ribeiro, do jornal Valor, os dois estão “praticamente guilhotinados”, ou seja, devem mesmo ser demitidos para darem lugar a nomes do Centrão, grupo político ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Na terça-feira, Lula teve uma reunião com Padilha para tratar justamente das mudanças que o governo terá de fazer para abrir espaço para o bloco partidário de Lira. No Palácio, já é dada como certa a entrada dos deputados André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) no governo.
A dúvida ainda é como será feita a “dança das cadeiras”. Uma ala da articulação política defende que Lula ofereça ao Centrão o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, que hoje está sob o comando de Esther Dweck. Neste desenho, ela seria deslocada para o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), pasta considerada sensível por controlar o programa Bolsa Família.
Ainda no campo especulatório, ressaltam fontes do Planalto, Dias, como ex-governador, poderia ir até para o Ministério da Gestão. Neste caso, Dweck iria ter papel de destaque na gestão do novo PAC, que deve ser lançado pelo governo em agosto.
A saída é costurada por lideranças do PT como forma de recompensa a Dias. Lula teve 76,86% no Piauí. Oito das 10 cidades que mais votaram em Lula no segundo turno estão no Piauí. A avaliação é de que voltar para o Senado depois de apenas seis meses de governo seria uma derrota para o grupo político de Dias, que disputa no Estado com um dos principais líderes do Centrão, Ciro Nogueira, presidente nacional do PP.
Mas líderes do Centrão resistem a aceitar um ministério “menor”. Segundo interlocutores do grupo, caso o governo não queira ceder o MDS, o bloco irá insistir numa pasta de “porte parecido”, como o Ministério da Educação ou Saúde. Este último, no entanto, está nas mãos de Nísia Trindade e Lula já avisou que não aceita negociá-lo.
Mas, em reserva, mesmo diante da resistência de lideranças do PP, alguns integrantes do Centrão avaliam que o partido poderia aceitar MDS mesmo sem o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), diante do capilaridade do ministério.
A presidente da Caixa, Rita Serrano, por sua vez, deve mesmo dar lugar a um nome do Centrão. Os cotados, até o momento, são Gilberto Occhi e Margarete Coelho, ambos do PP. Occhi é conhecido por ter sido ministro da Integração Nacional durante a gestão Dilma Rousseff (PT) e tem a seu favor o fato de já ter sido presidente da Caixa na gestão Michel Temer.
Já Margarete Coelho entrou na lista de cotados para a Caixa por ser mulher. O motivo é que Lula não quer ser acusado de deixar seu governo com menos equidade de gênero. Ex-deputada federal, Margarete também é ex-vice-governadora do Piauí e, atualmente, exerce um cargo na Diretoria de Administração e Finanças do Sebrae.
Outra com o cargo ameaçado é a ministra do Esporte, Ana Moser. Com a pasta cobiçada pelo Centrão, o governo cogita transformar a ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei em Autoridade Olímpica do Brasil.
Apesar do início das negociações para embarque do Republicanos e do PP no governo, Lula só deve apresentar o cardápio fechado de opções aos líderes partidários na próxima semana. No rearranjo, segundo fontes no Congresso, a tendência é que os Correios e a Funasa sejam entregues para PSD e Republicanos, respectivamente. Isso já teria sido, inclusive, alinhado com Lira, Elmar Nascimento (BA), líder do União na Câmara, e Danilo Forte (União-CE).