Apesar de faltar cerca de um ano para a disputa pela presidência do Senado, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) já antecipa movimentos segundo Caetano Tonet e Julia Lindner, do jornal Valor, para voltar ao posto ocupado por ele entre 2019 e 2021. Alcolumbre fez gestos nos últimos meses tanto para a base do governo quanto para a oposição com o intuito de se cacifar ao cargo como nome de consenso.
O parlamentar, que é aliado de primeira hora do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já deixou claro que quer ser o candidato do seu grupo político à sucessão do mineiro.
Após se consolidar entre os pares como um postulante à presidência do Senado em 2025, Alcolumbre agora aguarda os movimentos das maiores legendas da Casa – PSD (15 senadores), PL (12), MDB (11) – para ensaiar os seus próximos passos.
Entre os emedebistas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a defender no ano passado que o partido tivesse um candidato independentemente do cenário. Agora, ao Valor, Renan admite que pode rever a posição e diz que irá conversar com os seus correligionários sobre o tema a partir de fevereiro.
“Eu pedi para a bancada definir isso. Nós ainda vamos discutir. Por enquanto, não há nada definido”, disse o alagoano.
Renan disse ainda que, pela proximidade com Pacheco, vê com naturalidade a candidatura de Alcolumbre. “Davi tem uma proximidade muito grande com o Rodrigo, então a possibilidade da candidatura dele sempre esteve muito presente”, avaliou.
Até 2019, o Senado costumava priorizar o candidato do maior partido da Casa. Com a tradição, o MDB ficou no comando do Senado por 18 anos consecutivos. A situação mudou justamente com a eleição de Alcolumbre, em 2019, que teve o apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Atualmente, a bancada da legenda de Alcolumbre possui sete integrantes – é a quinta maior, empatada com o Podemos.
Por ser o maior partido da Casa, o PSD deverá ter candidatura própria”
— Angelo Coronel
Outro partido da base aliada que cogita lançar um candidato é o PSD, sigla de Pacheco. A senadora Eliziane Gama (MA) já afirmou a colegas que gostaria de entrar na disputa. O senador Angelo Coronel (BA) defende que a legenda tenha um nome no pleito e se coloca, ao lado de Elizane e do líder Otto Alencar (BA), como um possível postulante.
“Por ser o maior partido da Casa, o PSD deverá ter candidatura própria. Há um estímulo por parte de vários colegas para que tenhamos um nome. O partido representa quase 30% do colégio eleitoral mínimo de eleição, que são 42 votos. Está cedo ainda. Vamos deixar a coisa amadurecer”, pontuou Coronel.
Otto, por outro lado, afirma que não há nada definido e que só vai tratar do tema dois meses antes da eleição.
Além do presidente do Senado, Alcolumbre confia na boa relação com o presidente da legenda, Gilberto Kassab, para garantir votos na maior bancada da Casa. Aliados do amapaense afirmam que o parlamentar é rotineiramente convidado para migrar para o PSD por Kassab.
Líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB), vê Alcolumbre como favorito e acredita que os partidos da base vão entrar em acordo para não perderem espaço na Mesa Diretora e nas comissões.
“Davi é incansável e um gigante para trabalhar. Tem habilidade, resultados e capacidade de articulação política para agregar ao seu entorno e fazer valer o seu favoritismo. Não acredito que eles vão lançar candidatos justamente para não correr o risco de ficar sem espaço na mesa, como aconteceu com a oposição na última eleição”, declarou Efraim.
A força do governo também será importante, como de costume, para definir o resultado. Por isso, Alcolumbre já pediu apoio diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado. Na época, ele garantiu atuar para viabilizar a indicação do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Pessoas ligadas a Alcolumbre sabem que é inevitável a oposição lançar um adversário, mas acreditam que poderá ser apenas para marcar posição e dar uma resposta ao eleitorado.
Alcolumbre tem feito gestos a essa ala oposicionista ao também apoiar a agenda que busca limitar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e o avanço do marco temporal de terras indígenas. Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ele também poderá pautar a fixação de mandatos para ministros do Supremo neste ano.
O líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), é apontado como um possível candidato para enfrentar Alcolumbre. Ele já tentou disputar contra Pacheco no último pleito. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) é outro nome cotado.
O cenário de um eventual apoio da oposição, ainda que velado, pode depender do resultado das eleições municipais. Pessoas ligadas a Alcolumbre e Pacheco creem que, se a direita tiver um resultado expressivo, isso poderá impactar na correlação de forças dentro do Senado.