terça-feira 14 de janeiro de 2025
Lula durante evento com pastores evangélicos em São Gonçalo, na eleições — Foto: Ricardo Stuckert
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segunda-feira 13 de janeiro de 2025 às 13:55h

De olho em 2026, PT tenta estreitar diálogo com evangélicos

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Segundo Gilberto Nascimento, do PlatôBR, há tempos o PT tenta se aproximar dos evangélicos, sem conseguir grandes resultados. A maior parte desse segmento religioso costuma ser hostil ao presidente Lula e ao seu partido. Nas últimas eleições, a maioria das igrejas evangélicas e seus líderes se alinharam ao bolsonarismo. O ex-presidente Jair Bolsonaro teve o apoio dos evangélicos nas eleições de 2018 e 2022. Há bispos e pastores considerados progressistas ou de esquerda, que apoiam Lula, mas são minoria nesse meio.

Segundo pesquisa Quaest sobre o desempenho do governo Lula, divulgada em dezembro, 56% dos evangélicos desaprovam a gestão do presidente, enquanto 42% aprovam. Entre os católicos, é exatamente o inverso: 56% aprovam, e 42% rejeitam. Há previsões do IBGE de que em uma década, no máximo, os evangélicos serão maioria no Brasil, desbancando a hegemonia católica.

Por isso, no final do ano, o PT convidou líderes evangélicos para debater com seus dirigentes e militantes, em um seminário em Brasília, numa clara estratégia de se aproximar mais dos evangélicos e melhorar a relação com bispos e pastores conservadores que lideram milhões de fiéis pelo Brasil.

Uma das constatações do evento é de que grande parte dos evangélicos no Brasil – a maioria é formada por mulheres e negros, segundo atesta pesquisa do DataFolha, e tem baixos salários – admite ser beneficiada por projetos sociais de renda e educação, mas não reconhece o governo Lula como responsável. E esse é o principal segmento da população que o PT e o governo Lula pretendem atender, segundo seus discursos.

“Essas classes ascenderam. Mas, para as igrejas evangélicas, é a Teologia da Prosperidade que garantiu essa ascensão, e não a política pública. Então, falta essa presença efetiva do PT entre os evangélicos para tentar explicar isso, que foi a política pública e o partido que fizeram aqueles projetos”, afirmou Ismael Lopes, psicólogo e economista, fiel da Nossa Igreja Brasileira Batista, do Rio de Janeiro, e membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, um dos participantes do evento.

Também falaram no seminário, entre outros, Sinhara Garcia, odontóloga e fiel da Igreja de Cristo da Aldeota, e a advogada Thaís Santos, que se diz hoje uma “desigrejada” (sem igreja), ambas de Fortaleza (CE) e integrantes do movimento “Cristãos pela Democracia”. Elas tentaram explicar aos militantes porque fiéis evangélicos se identificam mais com propostas conservadoras e rejeitam ideias de esquerda.

“Não são os temas morais, como aborto, que vão fazer a gente se unir. Há diferenças na linha de pensamento, de fato. Mas as políticas públicas sociais, que são importantes, podem permitir a aproximação. É possível construir parcerias. E ver onde encontrar o ponto de conexão das políticas públicas sociais do PT com os trabalhos sociais das igrejas evangélicas. Também trabalhamos muito no social. Lutamos pelas mesmas bandeiras, que são a saúde, educação, meio ambiente”, disse a evangélica Sinhara, que frequenta a Igreja de Cristo no bairro de Aldeota.

Ao falar sobre o aborto, Sinhara observou que “muita coisa precisa ser conversada”, pois não seria uma questão apenas de ser a favor ou contra. “Eu sou profissional de saúde. Como profissional de saúde, entendo que o aborto precisa ser tratado como uma política pública de saúde. Já vi uma jovem, por não querer a criança, que chegou a abortar com uma barra de ferro introduzida nela, e quase morreu. Então, é preciso criar políticas públicas que trabalhem esse assunto”, afirmou.

Segundo Ismael Lopes, o PT e as chamadas correntes progressistas esquerda não costumar estar presentes no ambiente evangélico, ao contrário dos conservadores, avessos à militância de esquerda, que teriam uma presença muito forte nas igrejas, de longa data. “Eles estão sempre lá, no cursinho preparatório, no cursinho de música. É o ambiente da igreja, um ambiente comunitário e familiar, no qual se ajuda o adolescente que está envolvido com droga, ajuda-se o pai que é alcoólatra. Enfim, tudo isso cria um vínculo afetivo com a comunidade de fé”, explicou Lopes. “E aí, o discurso fundamentalista vem após isso, como uma capa que representa essa comunidade, essa sociabilidade. A esquerda está ausente nesse ambiente. A gente está lá, só que somos minorias”, disse o fiel da Nossa Igreja Brasileira Batista.

Sinhara disse também que a esquerda tem preconceito contra os evangélicos. “É preciso vencer esse preconceito, furar essa bolha de não aceitar os evangélicos. O PT, a esquerda e o campo progressista precisam entender que esse campo evangélico é plural. E existe sim como entrar nesses locais, nessas igrejas, nessas comunidades, através das políticas públicas sociais”, orientou a fiel evangélica. Ela entregou a dirigentes do PT um relatório “representando vozes de várias lideranças”, que sugerem formas “para conseguir chegar às comunidades evangélicas”.

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