Pré-candidato ao governo do Paraná em 2026, o senador Sergio Moro (União-PR) se tornou um conselheiro e articulador para as eleições municipais do seu estado. Ainda que seja citado como o nome forte do partido, os pedidos de Moro ao União Brasil evidenciam que o parlamentar não se sente contemplado nas negociações políticas feitas pela cúpula local da sigla. As informações são do jornal, O GLOBO.
Após ter sido absolvido no processo que pediu sua cassação na Justiça Eleitoral, Moro passou a preparar o terreno para uma candidatura a governador. Nas últimas semanas, o senador pediu à sigla mudanças nos rumos dos diretórios de quatro municípios: Maringá, Londrina, Francisco Beltrão e Araucária. Ele também indicou o nome de candidatos para comandar essas representações do União Brasil.
As divergências com o presidente estadual do partido, o deputado federal Felipe Francischini, são explícitas. Moro tem deixado claro que não foi ouvido pelo dirigente nas definições de algumas cidades.
Em documento enviado à cúpula nacional do partido sobre os quadros de Maringá, por exemplo, ele deixou claro o seu descontamento:
“Trata-se de minha terra natal, lá e na região conquistamos a maioria esmagadora dos votos. Por decisão isolada do atual Presidente do UB/PR não nos foi dada qualquer possibilidade de indicar componentes do diretório municipal ou da chapa de vereadores”, escreveu Moro.
Francischini minimiza a disputa e alega que as discordâncias são naturais no período eleitoral.
– Agimos afinados. Está tudo normalizado aqui. Alguns pedidos foram aceitos, outros não. Tudo dentro do diálogo interno democrático – declarou.
Presidente da sigla, Antônio Rueda, por sua vez, afirmou que as intervenções solicitadas por Moro não foram necessárias porque o senador e o deputado entraram em um acordo sobre as definições nas cidades. Em Londrina, por exemplo, Moro teve seu pedido atendido após as queixas serem registradas no mesmo documento. A carta foi endereçado a Rueda, ACM Neto, vice-presidente do partido, e a Davi Alcolumbre, secretário-geral.
“O diretório está sob o comando do vereador Jairo Tanura, que afirma-se candidato a prefeito, mas que sequer é colocado nas pesquisas. Precisamos recompor o diretório anterior em vista dos compromissos por mim assumidos. Buscaremos viabilizar a candidatura a prefeito ou, caso não seja mais viável, uma composição que atenda aos interesses de todos os filiados do UB e não de apenas um grupo”, registrou Moro.
Procurado, Jairo, que saiu do comando do diretório de Londrina após articulação de Moro, evitou comentar sobre o assunto, mas declarou que não é mais pré-candidato a prefeito. A legenda agora se encaminha para apoiar Tiago Amaral (PSD), candidato do governador Ratinho Júnior (PSD). A deputada federal Luisa Canziani, presidente do PSD em Londrina, diz que a aliança entre os dois partidos está fechada.
Em Maringá, Moro não conseguiu emplacar o candidato de sua preferência. Ele reclamou que o deputado estadual Do Carmo “não conseguiu viabilizar até o momento uma candidatura competitiva para prefeito” e disse que preferia que o partido lançasse o ex-deputado estadual Doutor Batista, o que não foi atendido pela legenda, que manteve a candidatura de Do Carmo, cuja convenção já foi realizada.
O União Brasil busca uma aliança com o PSD no estado e tem o objetivo de fechar um acordo com o governador para que ele apoie Moro como seu candidato à sucessão.
A intenção de Moro de disputar o governo do Paraná tem o apoio da cúpula nacional do União Brasil. Além de Rueda, o senador Davi Alcolumbre, secretário-geral da legenda, já sinalizou favoravelmente ao correligionário.
Em junho, o ex-presidente do Senado encontrou com Moro no Salão Azul da Casa Legislativa e disse alto para quem ao redor quisesse ouvir que seria cabo eleitoral para eleger o ex-juiz como governador. Rueda afirma que a influência de Moro é “sempre muito forte”. Ele foi ouvido, por exemplo, antes de o partido decidir manter a pré-candidatura de Ney Leprevost para a prefeitura de Curitiba, apesar do forte assédio da campanha de Eduardo Pimentel (PSD) por uma aliança.
— Se Moro entrar naquela campanha, ele [Ney] pode sim surpreender — disse Rueda ao GLOBO em julho.
Mesmo que a legenda tenha encaminhado algumas definições no estado, pré-candidatos de outros partidos ainda não desistiram de convencer o União Brasil a recuar de ter candidatura própria.
O governador Ratinho Júnior, por exemplo, foi na quarta-feira a São Paulo tentar convencer Rueda a não lançar Ney Leprevost como nome do partido na disputa em Curitiba. Ratinho quer o apoio da sigla para Eduardo Pimentel (PSD), e até ofereceu a candidatura a vice ao União, que posteriormente foi sacramentada com a indicação do ex-deputado federal Paulo Martins (PL).
O presidente nacional do União Brasil reforçou que o partido mantém a intenção de lançar Leprevost na disputa. A deputada federal Rosângela Moro é apontada como possibilidade dele vice na chapa, mas ainda não há definição.
Ratinho, no entanto, ainda tenta uma composição com o União Brasil. Para isso, o governador agora acena com uma indicação para a primeira-secretaria da Assembleia Legislativa do Paraná.
Integrantes do PSD avaliam que se o União Brasil insistir em concorrer contra Eduardo Pimentel em Curitiba uma aliança entre Moro e o governador para 2026 será prejudicada. Ainda assim, a avaliação do grupo governista é que o fato de o ex-juiz ter se livrado da cassação mudou bastante o quadro político no Paraná, e deixou o senador com bastante força para disputar o governo estadual.