A menos de dois meses da eleição que vai renovar a cúpula do Congresso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tentará emplacar Rodrigo Pacheco como seu sucessor em 1.º de fevereiro de 2021. Líder do DEM, Pacheco é advogado e está sendo apresentado pelo padrinho como um nome “independente”, mas que não criará problemas para o Palácio do Planalto.
Em busca do apoio de uma ala do MDB a seu candidato, Alcolumbre negocia agora de acordo com o Estado de S. Paulo, o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante do Senado, para o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Na disputa de 2019, Renan foi adversário de Alcolumbre, mas renunciou à candidatura quando percebeu que perderia, no rastro das críticas por encarnar a “velha política” e ser réu da Lava Jato. De lá para cá, no entanto, Alcolumbre se aproximou de Renan e os tempos mostraram que a “nova política” anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro era apenas uma palavra de ordem para manter sua tropa de choque unida.
Maior bancada do Senado, com 13 integrantes, o MDB está novamente rachado, mas não pretende abrir mão de entrar no páreo. Os líderes do governo no Congresso, Eduardo Gomes, e do MDB, Eduardo Braga, já se apresentam nas rodas políticas como pré-candidatos à vaga de Alcolumbre. A atual presidente da CCJ, Simone Tebet, também cobiça o posto.
Diante dessa divisão, a estratégia montada por Alcolumbre para fisgar o MDB no Senado não apenas não prosperou como tem provocado impacto na montagem da chapa na Câmara. Nos bastidores, dirigentes do DEM argumentam que, se o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, conseguisse fazer com que senadores de seu partido desistissem da candidatura própria para aderir à campanha de Rodrigo Pacheco, o arranjo poderia ser diferente.
Nesse cenário, Rossi teria chance de ser o nome apoiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o duelo no Salão Verde. Até agora, no entanto, o deputado Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB) é o preferido de Maia para enfrentar o adversário Arthur Lira (Progressistas-AL), que lançou anteontem sua candidatura ao comando da Câmara, com aval do Palácio do Planalto. Líder do Centrão, Lira está conquistando a simpatia de uma ala da oposição com a promessa de espaços na Mesa Diretora da Câmara e em comissões estratégicas. De olho nos votos do PT, ele também pediu uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não há distinção entre ser do Centrão e ser de partido que se diz independente, mas tem ministérios e cargos no governo”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que defende Lira, dando uma estocada no DEM. “Por acaso o DEM é oposição? Estão todos no mesmo balaio”.
Maia, por sua vez, se movimenta para driblar resistências no próprio grupo após anunciar a colegas que está mesmo disposto a indicar Aguinaldo para ocupar a sua cadeira, sob patrocínio do PSL, partido dirigido pelo deputado Luciano Bivar. Desde que Maia deu sinais de quem é o seu favorito, desagradou ao MDB e até mesmo ao DEM. Contrariado, Marcos Pereira (Republicanos- SP) escancarou o mal estar e deixou o bloco para se lançar como “terceira via” na eleição, mas pode se juntar a Lira mais adiante.
Baleia Rossi sempre esperou contar com o respaldo de Maia. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), por sua vez, planejava até mesmo retirar a candidatura à presidência da Comissão Mista de Orçamento para concorrer.
O desafio de Maia, agora, é evitar a debandada de antigos aliados e impedir que a oposição, fiel da balança nesse embate, migre para os braços de Lira. “A preferência (na escolha do nome) nunca é pessoal. É sempre para quem consegue manter de pé um projeto para derrotar essa pressão, essa pata do governo dentro da Câmara dos Deputados”, disse Maia, usando um termo forte, numa referência às negociações do Planalto para a distribuição de cargos e recursos em troca do apoio a Lira.