Em campanha para presidir o Senado na segunda metade da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) tem aumentado segundo Lauriberto Pompeu , do O Globo, sua influência no Executivo e conseguiu emplacar aliados em ao menos oito órgãos federais até agora. O mais recente foi no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), responsável por analisar fusões e aquisições de empresas. Ele ainda negocia a indicação de um nome para ocupar uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal. Interlocutores do Palácio do Planalto afirmam que a estratégia, chancelada por Lula, visa a manter o senador próximo e evitar que ele cause dores de cabeça ao governo.
A preocupação se empara no histórico recente. Atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal do Senado, Alcolumbre é tratado nos bastidores como uma “eminência parda” na gestão do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a quem ajudou a eleger. Nos últimos meses, em busca de apoio para voltar ao comando da Mesa Diretora — ele ocupou o posto de 2019 a 2021 —, o parlamentar amapaense fez acenos à oposição ao dar vazão a pautas que contrariam os interesses do Planalto. Entre elas, o projeto que cria um marco temporal para demarcação de terras indígenas e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza posse de qualquer tipo de droga.
Apesar do flerte com a oposição, Alcolumbre foi responsável pela indicação do ministro da Integração, Waldez Góes, e é quem controla a escolha de cargos federais no Amapá em órgãos como Ibama, Telebras e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Além disso, emplacou um primo como diretor da Sudam e um irmão no conselho deliberativo do Sebrae no estado.
Sua influência também se expandiu ao Judiciário. O jornal O Globo informa que apurou que, a pedido de Alcolumbre, Lula indicou um nome ligado ao senador para integrar o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá. Procurado, o parlamentar não se manifestou.
Conterrâneos reclamam que as indicações dos cargos nos estados são todas de Alcolumbre. O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), é um dos que tem se queixado de não ser atendido.
Como coordenador da bancada do Amapá, Alcolumbre também organiza a indicação de emendas parlamentares. Foi ele, por exemplo, quem conduziu uma reunião na terça-feira com o governador Clécio Luís (Solidariedade) e parlamentares do estado para tratar do tema.
Fator Arthur Lira
As indicações no Amapá, contudo, não têm sido suficientes para Alcolumbre, que mantém uma relação de altos e baixos com o Planalto, o que inclui cobranças do parlamentar por uma maior influência em decisões do governo. Além disso, o espaço dado por Lula ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), incomodou senadores, que exigem mais espaço na máquina pública federal.
Nesse cenário, Alcolumbre negocia a indicação de uma das vice-presidências da Caixa. Ainda que seja senador, é Alcolumbre hoje o principal interlocutor entre o governo e o União Brasil, mesmo em relação a cargos que seriam da “cota” da Câmara.
No caso do Cade, Lula optou por um nome endossado pelos senadores para a vaga. Consultor do Senado, Carlos Jaques tinha o apoio de Alcolumbre para assumir o posto. O novo conselheiro admite a influência, mas evita atribuir nominalmente a algum senador.
— (Atribuo a nomeação) Ao Senado, sim, mas como um todo. Sou servidor concursado da Casa desde 2004, especialista na área de direito concorrencial — disse ele.
Alcolumbre também já mostrou a intenção de influenciar na escolha da vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que está aberta. O plano era emplacar o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, abrindo uma vaga na Corte de Contas, que seria ocupada por Pacheco. Apesar disso, até mesmo aliados do ministro do TCU admitem que ele não é o favorito ao Supremo.