Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado sobre a eleição no Recife aponta para um cenário imprevisível no segundo turno. Um dia antes da votação, os primos João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) aparecem cada um com 50% dos votos válidos, um empate técnico e numérico. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos.
O levantamento, encomendado pela TV Globo e pela “Folha de S. Paulo”, ouviu 1.803 eleitores da capital de Pernambuco, entre os dias 27 e 28 de novembro. Levando em conta os números totais, com brancos e nulos, João e Marília têm, cada um, 42% das intenções de voto. Brancos e nulos somam 12% e não sabem 4%. A pesquisa foi registrada com o número PE-08731/2020.
A 48 horas do segundo turno, João Campos e Marília decidiram focar no voto evangélico e católico para vencer a disputa no Recife. Em debate da TV Globo, o último da campanha, os primos fizeram questão de declarar que são religiosos. Ambos se disseram cristãos e afirmaram que pretendem dialogar com as igrejas para articular o combate ao uso de drogas e o tratamento de usuários.
Durante a campanha, o candidato do PSB usou fala de Marília em entrevista antiga, quando era vereadora, que questionava a leitura da Bíblia como norma no ambiente legislativo.
Panfletos contra a petista também foram distribuídos em frente a templos da cidade. “Cristão de verdade não vota em Marília Arraes”, dizia o material. A Justiça Eleitoral proibiu a circulação dos panfletos. No debate, Marília afirmou:
— Cristã eu sou, e você sabe bem disso, apesar de ter atacado minha fé na televisão.
João insistiu no assunto e fez um aceno ao eleitorado:
— Eu nunca critiquei a fé de ninguém. Nós só colocamos uma fala que a candidata fez. Quem quis tirar a Bíblia foi ela.
Neste sábado, 24 horas antes da votação, circulou nas redes sociais um vídeo do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus no Rio de Janeiro, declarando apoio a João Campos. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Malafaia elogiou o pai de João, o ex-governador Eduardo Campos, que “sempre respeitou a igreja evangélica em Pernambuco”.
O pastor diz ser uma escolha difícil para o eleitor, pois ambos os partidos defendem teses de esquerda.
— É uma escolha de Sofia que vocês têm de fazer aí. Mas vocês, cristãos, não podemos em hipótese alguma votar no PT. O PT foi varrido, derrotado fragorosamente no Nordeste. O maior esquema de corrupção do país é do PT. Então vamos dizer não ao PT. É João Campos — declarou Malafaia.
Logo após o primeiro turno, Marília recebeu o apoio de 12 congregações evangélicas. Em evento político para selar a aliança com os religiosos, ela declarou:
— Queria agradecer muito a todos vocês. Não sei como tem gente que tem coragem de chegar e fazer tantas acusações contra a minha fé.
João Campos tem declarado, sempre que o tema da religião é abordado, que o Estado “não consegue fazer tudo sozinho”. Logo em seguida, ele argumenta que a Igreja é uma instituição fundamental para dar assistência aos mais vulneráveis.
O candidato do PSB também já teve várias reuniões com líderes evangélicos.
— Sou cristão, católico, sempre tive relação com a Igreja Católica, e estou conversando com as igreja porque elas têm um papel social importante — diz João Campos.
Logo após o primeiro turno, o prefeito bolsonarista de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, do PL, declarou apoio a Marília Arraes. Segundo integrantes da campanha, ele possui boa relação com líderes de igreja e tem atuado em favor da petista para que ganhe terreno no nicho eleitoral.
No domingo, antes da votação, Marília terá encontro com líderes religiosos. Logo depois, acompanhará sua vó, Vilma Rocha, em seção eleitoral. Às 11h, ela irá a uma missa.