O presidente Jair Bolsonaro (PL) avançou no último mês entre o segmento do eleitorado mais “lulista”. As intenções de voto no atual chefe do Planalto subiram numericamente entre os chamados vulneráveis, aqueles com baixa renda e instabilidade financeira, segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, do final de julho.
Lula (PT), por outro lado, ultrapassou o rival na parcela da população classificada de segura, com maior renda e estabilidade. Todas essas variações, porém, se deram dentro das margens de erro da sondagem para os dois grupos —de três pontos percentuais para os vulneráveis, e cinco, para os seguros.
Se antes Bolsonaro perdia de 57% a 19% entre os vulneráveis, agora a diferença no placar se reduziu para 54% a 24%. Cerca de metade dessa fatia recebe o Auxílio Brasil ou mora com alguém beneficiado pelo programa de transferência de renda, que teve seu valor ampliado de R$ 400 para R$ 600 no período.
Já o petista, que ficava atrás na parcela mais abastada, com 35% contra 38% do adversário, agora lidera com 40% contra 33%.
Esse grupo concentra mais homens, segmento em que o ex-presidente também inverteu o jogo recentemente. A tendência já havia sido indicada pelos recortes de renda familiar da última pesquisa eleitoral, que no total mostrou Lula com 47% e Bolsonaro com 29%, com margem de dois pontos.
O levantamento foi feito com 2.556 pessoas nos dias 27 e 28 de julho, portanto antes da saída de André Janones (Avante) da disputa.
A diferença agora é que o Datafolha agregou a esses dados não só o quanto o eleitor ganha mensalmente, mas também o seu tipo de ocupação, oferecendo uma análise mais completa do seu perfil —as duas variáveis têm uma grande influência no voto, de acordo com o instituto.
A movimentação recente do presidente é mais significativa porque os vulneráveis são mais de um terço do eleitorado (35%), enquanto os seguros representam um quinto (20%). Na análise são considerados também outros três grupos.
Os chamados resilientes, que assim como os vulneráveis ganham até dois salários mínimos mensais, mas são financeiramente estáveis, preferem Lula com folga e não tiveram uma oscilação significativa. Eles somam 17% dos eleitores, fatia que tem margem de erro de até cinco pontos.
Os chamados amparados, com renda instável, porém mais alta (acima de dois salários), agora se dividem entre os dois candidatos. No mês anterior, o petista estava numericamente à frente, com 42% contra 37%, mas agora ambos têm 38%. Esse segmento corresponde a 18% do total e tem margem de cinco pontos.
Já os superseguros, estáveis e ainda mais ricos (acima de cinco salários mínimos), representam 8% do eleitorado e são os únicos que ainda preferem Bolsonaro. O presidente, porém, permaneceu no mesmo patamar (42%), enquanto Lula reduziu a diferença ao oscilar de 30% para 34% —a margem é de sete pontos.
Em relação à terceira via, os seguros e superseguros são os mais simpáticos aos dois principais candidatos alternativos à polarização. Ciro Gomes (PDT) vai a 11% no primeiro grupo, e Simone Tebet (MDB) marca 7% no segundo, sua pontuação mais alta nesse recorte da pesquisa.
Para chegar a esses segmentos, o Datafolha separou os eleitores em três estratos. Os economicamente ativos estáveis (assalariados registrados, funcionários públicos, profissionais liberais, aposentados), os ativos instáveis (assalariados sem registro, autônomos, freelancers, desempregados procurando emprego) e os não ativos (estudantes, donas de casa e desempregados que não buscam emprego).
A opinião dos cinco grupos considerados na análise também varia sobre outros pontos questionados na pesquisa. Os vulneráveis, por exemplo, passaram a avaliar melhor o governo Bolsonaro no último mês —a reprovação do presidente oscilou de 50% para 46%, chegando próximo à média geral.
Esse segmento também é o que mais diz que a quantidade de comida foi insuficiente em casa nos últimos meses (48%, contra 33% no geral) e o que mais cita a saúde como principal problema do país (23%, contra 20%). Entre os seguros, destaca-se o índice dos que mencionam a educação (15%).
1. Vulneráveis
- Quanto ganham: até 2 salários mínimos por família, com renda instável
- Quem são: grupo é majoritariamente feminino, com idade média de 39 anos, e tem índices acima da média de não escolarizados, desempregados, nordestinos e não brancos. Metade recebe ou mora com alguém beneficiado pelo Auxílio Brasil
- Quem preferem: Lula (54%)
- Fatia do eleitorado: 35%
- Margem de erro na pesquisa: 3 pontos percentuais
2. Resilientes
- Quanto ganham: até 2 salários mínimos por família, com renda estável
- Quem são: grupo também é majoritariamente feminino, com idade média de 50 anos, e tem índices acima da média de pessoas com ensino fundamental e aposentados
- Quem preferem: Lula (53%)
- Fatia do eleitorado: 20%
- Margem de erro na pesquisa: 5 pontos percentuais
3. Amparados
- Quanto ganham: acima de 2 salários mínimos por família, com renda instável
- Quem são: grupo é majoritariamente masculino, com idade média de 37 anos, inclui não economicamente ativos, como estudantes, e tem índices acima da média de brancos, com ensino médio ou superior e moradores do Sudeste
- Quem preferem: Lula e Bolsonaro empatam (38%)
- Fatia do eleitorado: 18%
- Margem de erro na pesquisa: 5 pontos percentuais
4. Seguros
- Quanto ganham: de 2 a 5 salários mínimos por família, com renda estável
- Quem são: grupo é majoritariamente masculino, com idade média de 45 anos, e tem índices acima da média de ensino superior, brancos, moradores do Sudeste e do Sul, assalariados registrados e funcionários públicos
- Quem preferem: Lula (40%)
- Fatia do eleitorado: 20%
- Margem de erro na pesquisa: 5 pontos percentuais
5. Superseguros
- Quanto ganham: acima de 5 salários mínimos por família, com renda estável
- Quem são: grupo é majoritariamente masculino e tem índices bem acima da média de ensino superior, brancos, moradores de capitais e do Sul, assalariados registrados, empresários, funcionários públicos e aposentados
- Quem preferem: Bolsonaro (42%)
- Fatia do eleitorado: 8%
- Margem de erro na pesquisa: 7 pontos percentuais