O início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não viu mudar significativamente o mapa da polarização brasileira. Segundo o Datafolha, se dizem petistas 30% dos eleitores, enquanto 22% se definem como bolsonaristas.
E não foram 90 dias de calmaria, tendo sido marcados pelo espasmo provocado pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro, pelas dificuldades políticas e econômicas da nova gestão e, agora, a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil.
Ainda assim, em pesquisa anterior, realizada em 19 e 20 de dezembro de 2022, se afirmavam petistas 32%, enquanto 25% se declararam bolsonaristas. Como a margem de erro deste e do atual levantamento, feito em 29 e 30 de março, é de dois pontos percentuais, houve uma oscilação negativa em ambos os casos, um pouco mais pronunciada entre os apoiadores do ex-mandatário.
Além dos extremos já relatados, os índices intermediários também sofreram oscilações. Os próximos do bolsonarismo passaram de 7% para 9%, os neutros de 20% para 22% e os filopetistas, de 9% para 10%. Se mantiveram sem nenhuma preferência 5% nas duas pesquisas, assim como os 1% que não souberam responder.
O mapa emula os conceitos tradicionais de fortalezas dos dois grupos, reforçando alguns estereótipos políticos.
Segundo o Datafolha, se dizem mais petistas raiz os nordestinos (42%, num grupo com 26% da amostra populacional da pesquisa), os menos instruídos (40%, grupo com 30% dos entrevistados), os mais pobres (39%, grupo majoritário de 55% dos ouvidos) e os mais velhos (37% entre quem tem mais de 60 anos, 19% do eleitorado).
Se dizem mais apoiadores duros do ex-presidente quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (32%, num grupo que compõe 7% do eleitorado), moradores do Sul (28%, grupo de 15% da amostra) e do Norte/Centro-Oeste (30%, grupo de 16%) e evangélicos (29%, contingente de 27% dos entrevistados).
O PT já era uma força dominante no país, tendo sido o principal rival do PSDB e depois antagonizado pelos tucanos durante um duopólio que durou do pleito de 1994 ao de 2014.
Depois, o tucanato em nível federal desmanchou-se no contexto da implosão da política tradicional pelas revelações de corrupção nos anos da Operação Lava Jato, que abriu caminho para a ascensão de Bolsonaro —um político das margens do Congresso que conseguiu vender-se como ícone da antipolítica e virou presidente na eleição de 2018.
O ciclo seguinte viu a volta à vida política de Lula, que deixou a cadeia e foi reabilitado pela debacle das sentenças do ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR), desafiando e derrotando Bolsonaro por pequena margem de 1,8 ponto no segundo turno de 2022.
De lá para cá, o ex-presidente não reconheceu a vitória de Lula diretamente e estimulou golpistas a questionarem o pleito. Foi embora do país por três meses, período no qual seus apoiadores provocaram o 8 de janeiro, e voltou na semana passada.
Inaudita no processo, apesar da oscilação positiva dos neutros, é a viabilidade até aqui de alternativas aos dois polos. Na pré-campanha e na corrida eleitoral de 2022, muito foi dito, mas nada obtido por aqueles que tentaram ocupar a dita terceira via, de Luciano Huck a João Doria, passando pelos concorrentes de fato no pleito Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), relegados a menos de 5% do eleitorado.