A guerra mobiliza a atenção dos europeus no momento em que crescem as dúvidas sobre a capacidade do Ocidente de continuar a apoiar a Ucrânia contra a Rússia, o outro grande conflito às portas do bloco.
“A forma de reagir ao ataque terrorista do Hamas contra Israel é um assunto que causa divisão. As opiniões divergem entre si”, sublinhou o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, ao chegar à cúpula, dizendo ser “muito favorável ao direito de Israel se defender”.
Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, reafirmou o seu apoio a “um cessar-fogo para fins humanitários (…) para entregar toda a ajuda que os palestinos necessitam”. “O sofrimento que vemos em Gaza é inaceitável”, insistiu.
Ao lado da Espanha, a Irlanda tem ressaltado a necessária solidariedade com os civis palestinos, enquanto Alemanha, a Áustria e Hungria são os maiores defensores de Israel dentro da União Europeia.
Os chefes de Estado e de governo da UE chegaram a Bruxelas no início da tarde, horas depois de Israel anunciar que tinha entrado na Faixa de Gaza por algumas horas para “preparar o campo de batalha” de uma ofensiva terrestre.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, demonstrou apoio sem reservas a esta operação militar. “Israel é um Estado democrático com princípios muito humanitários que o orientam e podemos, portanto, ter a certeza de que o exército israelita respeitará as regras do direito internacional naquilo que faz. Não tenho dúvidas sobre isso”, afirmou.
‘Pausa humanitária’
Após dias de negociações, o último projeto de declaração da cúpula apela à criação de “corredores e pausas humanitárias” para poder entregar ajuda às populações civis na Faixa de Gaza. A versão anterior referia-se a “uma pausa humanitária”, no singular.
Esta declaração, que ainda pode estar sujeita a alterações até o final da reunião, nesta sexta (27), não inclui a exigência das Nações Unidas de um “cessar-fogo”.
A Alemanha defende o estabelecimento de “janelas humanitárias”, no plural, acreditando que uma pausa poderia pôr em questão o direito de Israel à autodefesa.
Os países condenaram veementemente o ataque inédito promovido pelo Hamas em 7 de outubro, que segundo Israel deixou pelo menos 1,4 mil mortos e mais de 220 reféns, quatro dos quais foram libertos desde sexta-feira à noite.
Entretanto, o consenso é bem menos claro sobre a questão de parar os bombardeios realizados por Israel em retaliação na Faixa de Gaza, que mataram mais de 7 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que controla este território palestino.
Guerra na Ucrânia em segundo plano
A guerra no Oriente Médio também despertou receios de que ofuscará a invasão da Rússia à Ucrânia, iniciada há 20 meses. O conflito israel-palestino ocorre num momento em que a crise no Congresso americano levantou questões sobre a viabilidade da ajuda militar americana a Kiev.
Os europeus se esforçam para tranquilizar seus aliados ucranianos. A UE continuará a apoiar Kiev “enquanto for necessário”, afirmam o rascunho da declaração final.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também reiterou o desejo de ver o seu país aderir à UE o mais rapidamente possível, esperando obter o lançamento das negociações de adesão durante a próxima cúpula europeia, em meados de dezembro. Esta questão deve ser considerada “do ponto de vista da segurança”, apelou Zelensky nesta quinta-feira aos líderes europeus, por videoconferência.
“A Rússia não luta hoje para permanecer em Mariupol ou na Crimeia, mas para poder vir para Tartu (na Estônia) ou Gdansk (Polônia)”, disse ele.
“A Rússia tenta mudar as fronteiras da Ucrânia, não só para capturar uma ou outra das nossas regiões, mas também para mudar todas as fronteiras que não lhe agradam”, ressaltou.
Volodymyr Zelensky garantiu que o seu país se esforça para respeitar os critérios europeus. “Contamos com a sua unidade em resposta: a decisão de iniciar negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia”, afirmou.