Integrantes de peso do MDB montaram uma espécie de força-tarefa para tentar driblar o PSD de Gilberto Kassab e fechar uma fusão com o PSDB. Os tucanos, que já cogitam a possibilidade de se unir ao partido de Kassab, receberam apelos do ex-presidente Michel Temer, do governador do Pará, Hélder Barbalho, da ministra Simone Tebet (Planejamento), além do presidente do MDB, Baleia Rossi, entre outras importantes figuras da legenda.
Os principais nomes do MDB mantêm diálogo com o presidente do PSDB, Marconi Perillo, o deputado federal Aécio Neves (MG), além dos governadores Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Raquel Lyra (Pernambuco) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul).
Para Baleia Rossi, a história do PSDB, que surgiu como uma dissidência do MDB, pode ter peso no momento da decisão.
— Estamos vendo a possibilidade de incorporação. O importante é que não é um movimento isolado de um presidente, mas um diálogo amplo de várias lideranças do partido. Eu tive conversas com Aécio, com o líder Adolfo (Viana, da Câmara), com Beto Richa, com Riedel. O presidente Michel Temer conversou com Marconi. Eu também — disse Baleia.
A possível candidatura de Eduardo Leite à Presidência, seja em 2026 ou 2030, vem sendo citada em meio às conversas como um fator importante para união do PSDB com o MDB. Há quem mencione também planos para Raquel Lyra, importante quadro tucano, como uma postulante ao Palácio do Planalto em futuras eleições.
Diferenças internas
Parte do MDB, porém, tem forte ligação com o governo Lula, que deve buscar a reeleição. O partido não apenas tem três ministérios — assim como o PSD —, mas uma ala é muito ligada ao presidente, como o governador Hélder e o senador Renan Calheiros (AL).
— Leite é um nome forte e que se coloca à disposição. Queremos valorizar a história deles e fazer inclusive uma discussão programática. Apresentar um projeto para o Brasil — acrescentou o presidente do MDB.
De acordo com integrantes do partido, porém, seria necessário ultrapassar algumas barreiras políticas locais. O MDB é muito diverso e tem desde estados mais lulistas aos mais bolsonaristas. Essas diferenças já estão sendo calculadas por líderes do partido, que começam a trabalhar no convencimento de alguns membros, já que em vários diretórios não haverá “sintonia automática”.
Do lado do PSD, as conversas estão concentradas na mesa do presidente Kassab, que também é secretário de governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Uma das vantagens apontadas por aliados de Kassab é uma distância um pouco maior da legenda com o governo Lula, em comparação ao MDB. Isso, sobretudo, depois de o PT ter negado apoio à candidatura de Antonio Brito (PSD-BA) à presidência da Câmara dos Deputados.
No entanto, entraves entre PSDB e PSD terão que ser dissolvidos em pelo menos cinco estados para que as negociações em torno de uma fusão se concretizem. Em Minas, Pernambuco, Santa Catarina, Ceará e Bahia, a postura oposicionista dos tucanos diverge do governismo majoritário adotado pelo partido de Kassab.
Um dos principais impasses é no Ceará, onde o PSD é aliado do PT, do governador Elmano de Freitas, e ainda tem cargo na gestão. As siglas também caminharam juntas e saíram vitoriosas na eleição de Fortaleza com o prefeito Evandro Leitão (PT) e sua vice, Gabriella Aguiar (PSD). Nesta mesma corrida, os tucanos indicaram o vice da chapa do prefeito derrotado José Sarto (PDT). No segundo turno, o PSDB preferiu a neutralidade, mas alas do partido chegaram a acenar para o bolsonarista André Fernandes (PL). Na esfera estadual, os tucanos são oposição ao PT.
Presidenciáveis
A dissonância é similar na Bahia. Enquanto o governo de Jerônimo Rodrigues (PT) tem dois secretários do PSD, o líder da oposição na Assembleia Legislativa é o tucano Tiago Correia.
Já em Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) conseguiu atrair o PSDB para seu palanque, mas não há aliança na esfera estadual. Enquanto o PSD é o maior partido da base de Romeu Zema (Novo) na Assembleia, com dez deputados, os tucanos são oposição ferrenha.Outro ponto levantado por quem participa das negociações é que o PSD já teria um favorito à Presidência em 2026, o governador do Paraná, Ratinho Jr., caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não queira disputar o cargo. O nome de Ratinho deixaria pouco espaço para Eduardo Leite ou Raquel Lyra se colocarem como candidatos.
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, minimiza as disputas locais, afirma que as conversas vão seguir e que a legenda só deve tomar uma decisão em março. Integrantes do partido afirmam que a disputa está em pé de igualdade.