Os 30 Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se reúnem nesta semana em Madri, na Espanha, para discutir os rumos da Aliança Militar. A Coreia do Sul e o Japão também participarão do encontro.
A guerra na Ucrânia será um dos temas principais em discussão. Outro assunto que será amplamente abordado é a adesão de Finlândia e Suécia ao grupo, apesar da resistência da Turquia.
Para o professor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF (Universidade Federal Fluminense) Thomas Ferdinand Heye, a reunião da Otan é uma tentativa da Aliança na busca pelo protagonismo no cenário da segurança internacional.
“A perspectiva da Otan será apresentada através do Conceito Estratégico da Aliança, o primeiro desde o Encontro em Lisboa, há 25 anos. Ou seja, trata-se de um esforço político enorme em ressuscitar a maior aliança militar da história”, explica Heye.
O professor de relações internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Maurício Santoro acredita que o encontro pode traçar estratégias para enfrentar a “ameaça” que a Rússia causa aos Estados-membros da Otan.
“O grande tema da cúpula da Otan no final de junho é como responder a invasão russa na Ucrânia e como enfrentar toda essa guerra, que é uma ameaça para a segurança dos países membros da Otan. Esse vai ser o principal assunto em discussão por lá”, conta Santoro ao R7.
Os dois especialistas não apostam em uma entrada imediata da Finlândia e da Suécia na Aliança Militar, já que o processo tradicional de integração costuma levar anos.
“O processo de adesão de Finlândia e Suécia é algo que deve demorar bastante tempo. Tem uma série de reformas que precisam ser feitas, como adequação de equipamento, de treinamento. Não se espera que ainda nessa cúpula de junho já haja um consenso destes países na Otan”, detalha Santoro.
“O que é viável é elaborar uma posição conjunta e favorável à entrada dos novos candidatos na Otan por parte dos demais aliados, com o claro intuito de pressionar a Turquia a flexibilizar sua posição contrária. Todavia, a posição e os interesses da Turquia de [Recep Tayyip] Erdogan não são claros”, ressalta Heye.
Segundo autoridades turcas, incluindo o presidente Erdogan, suecos e finlandeses abrigaram terroristas curdos — minoria étnica que reivindica a separação e independência de uma parte da Turquia. Apesar da reação contrária à candidatura destes países, o governo de Ancara já mostrou sinais de que aceitaria negociar a entrada destas nações na Aliança.
“Não há propriamente um processo de votação, não é como uma assembleia num Parlamento que se negocia isso nos bastidores. Só há realmente o início da adesão quando esse consenso for alcançado”, destaca Santoro. “Estão debatendo essa questão dos refugiados curdos, mas ainda não há um acordo final”.
A candidatura destes dois países foi motivada pela invasão da Ucrânia, que mais uma vez será centro da discussão da aliança.
“A invasão à Ucrânia está no topo da agenda do evento e estará na cabeça de todos presentes. Uma Otan unida e determinada pode aumentar em muito os custos para Rússia manter as hostilidades contra a população ucraniana”, conclui Heye.