domingo 22 de dezembro de 2024
Motorista abastece em Havana, em 9 de janeiro de 2024, um dia depois de o governo anunciar um aumento de 500% no preço dos combustíveis a partir de 1º de fevereiro - Foto: AFP
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quarta-feira 10 de janeiro de 2024 às 06:09h

Cuba teme aumento da inflação após alta de 500% nos preços do combustível

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“A gasolina é o termômetro da economia”, afirma Rafael Oliver, de 21 anos, antecipando uma nova escalada dos preços em Cuba, depois que o governo anunciou um aumento de 500% no preço do combustível em uma tentativa, juntamente com outras medidas, de reduzir seu déficit fiscal.

O governo cubano anunciou na segunda-feira o aumento no preço dos combustíveis a partir de 1ª de fevereiro. A gasolina normal, a especial, o diesel e todos os combustíveis serão afetados por esta alta de 500%.

Assim, o litro da gasolina normal passará de 25 pesos cubanos (20 centavos de dólar ou 97 centavos de real) para 132 pesos (1,10 dólar ou 5,3 reais), o que equivale a um aumento de 528%. Enquanto isso, a gasolina especial subirá de 30 pesos (25 centavos de dólar ou R$ 1,2) para 156 pesos cubanos (1,30 dólar ou R$ 6,3), o que representa um aumento de +520%, detalhou o ministro das Finanças e Preços, Vladimir Regueiro, à televisão estatal.

O governo, que subvenciona quase todos os bens e serviços de primeira necessidade, anunciou, no fim de dezembro, uma série de medidas destinadas a reduzir o déficit orçamentário, em um momento em que a ilha enfrenta uma profunda crise econômica.

O ministro da Economia, Alejandro Gil, admitiu que o governo não pode continuar vendendo o combustível a preços “subvencionados” em um país sob embargo dos Estados Unidos e que enfrenta uma aguda escassez de divisas.

“O país não pode manter o preço do combustível, que é o mais barato do mundo quando você o compara aos preços nos outros países”, acrescentou Gil.

Com um salário de 2.600 pesos (21 dólares ou R$ 102), Domingo Wong, um pai de família de 57 anos, não sabe como vai se virar. “Com o novo preço, 10 litros de gasolina são metade do meu salário”, explica à AFP este zelador que aguarda para abastecer sua motocicleta em um posto.

“Consumo 10 litros em uma semana, sem fazer nada especial, só o normal: ir ao trabalho, levar minha fila para a escola, ir para a casa da minha irmã”, explica Wong.

 “Tudo depende do transporte”

O aumento “afeta a todos nós porque está muito caro, o poder aquisitivo não dá para isso”, afirma Juan Antonio Cruzata, trabalhador independente de 59 anos.

Além da dificuldade para comprar combustível, muitos cubanos temem que a medida alimente ainda mais a inflação, já galopante desde 2021. Os preços subiram 39% em 2022 e 30% em 2023, segundo dados oficiais, que especialistas consultados pela AFP consideram subestimados.

“A gasolina é o termômetro de um país, literalmente, da economia de um país porque tudo depende do transporte”, avalia Oliver, enquanto sobe na moto que usa diariamente para prestar serviços de mototáxi.

Ele adverte que “todos os preços em geral vão subir porque até a comida que você come vem em um transporte”.

“Seja a comida, seja a água para os bairros que menos têm (…) Acho que tudo vai ser afetado pela alta do preço do combustível”, concorda Javier Vega, de 33 anos, que trabalha em uma agência privada de transporte.

Vega prevê um aumento no preço das tarifas para seus clientes em um país onde o transporte público já é limitado pela falta de combustível e de peças de reposição.

Com 11 milhões de habitantes, Cuba enfrenta uma crise crônica de combustíveis, agravada em abril de 2023. A alta no preço dos combustíveis “tem como objetivo comprar combustível” e “obter um abastecimento estável”, justificou na segunda-feira o ministro de Minas e Energia, Vicente de la O Levy.

O governo também confirmou um aumento de 25% na tarifa de eletricidade a partir de março para os grandes consumidores residenciais. Também haverá um aumento na conta do gás liquefeito, da água e do transporte público, assim como uma reforma da cartilha de racionamento, a famosa “caderneta de abastecimento”.

Cuba atravessa sua pior crise econômica desde o fim dos subsídios soviéticos nos anos 1990, devido às consequências da pandemia, às fragilidades estruturais e ao recrudescimento das sanções americanas adotado pelo presidente Donald Trump (2017-2021), mantidas essencialmente por seu sucessor, Joe Biden.

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