sábado 29 de junho de 2024
Foto: Ag. Câmara
Home / DESTAQUE / Crítica de Haddad ao poder da Câmara ‘trava’ negociação sobre arcabouço fiscal
terça-feira 15 de agosto de 2023 às 08:10h

Crítica de Haddad ao poder da Câmara ‘trava’ negociação sobre arcabouço fiscal

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou em entrevista divulgada nesta última segunda-feira (14) o “poder muito grande” da Câmara dos Deputados frente ao governo federal e Senado e criou atrito com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que decidiu cancelar a reunião marcada para a noite dessa segunda em que seria discutido o projeto de lei do novo marco fiscal. A reação de Lira, que foi às redes sociais reclamar contra “manifestações enviesadas”, levou Haddad a sair do gabinete para esclarecer suas declarações à imprensa.

A fala que estremeceu a relação entre o ministro e o presidente da Câmara ocorreu em entrevista ao programa “Reconversa”, no YouTube. Haddad destacou que as negociações com os deputados não estão fáceis, que há “uma coisa estranhíssima que é uma espécie de parlamentarismo sem primeiro-ministro” e que a Câmara está “com um poder muito grande”.

“Passei nove anos em Brasília, no primeiro governo Lula e na Dilma, e nunca vi nada parecido. Tem que haver uma moderação aí, que tem que ser construída. Ela ainda não está às mil maravilhas”, falou o ministro. “A Câmara está com um poder muito grande e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas, de fato, ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida”, reforçou. As informações são de Raphael Di Cunto, Guilherme Pimenta, Rafael Bitencourt e Jéssica Sant’Ana, do jornal Valor.

Ele também disse que construiu “boa relação” com o presidente da Câmara em dezembro, com a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição, embora tenha ressalvado que eles aparecem sempre sorrindo nas fotos, mas há “debates acalorados” nas reuniões. Guardou o principal elogio, porém, para o diálogo “espetacular” com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O que irritou mais Lira foi o comentário de que as instituições ficam e as pessoas passam, o que considerou uma fala dirigida a ele. “O bom da democracia é que a pessoa não vai ter esse poder para sempre. A instituição pode ter, mas você não sabe na mão de quem ela [instituição] vai estar daqui com dois, quatro, dez anos”, disse Haddad.

A entrevista fez com que Lira cancelasse a reunião com técnicos da Fazenda, líderes partidários e o relator do novo marco fiscal do país, o deputado federal pela Bahia, Cláudio Cajado (PP), para discutir as emendas do Senado ao projeto. A intenção era iniciar o debate em torno do texto, embora aliados dele ressalvassem que o mais provável era a votação ocorrer só na próxima semana, após a reforma ministerial que deve incluir PP e Republicanos no ministério.

Os deputados precisam decidir se concordam com as emendas do Senado que tiraram o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e as verbas para ciência e tecnologia da nova regra fiscal, se mantém a atual forma de correção do Fundo Constitucional do Distrito Federal e, a mais polêmica, se permite ao governo federal incluir cerca de R$ 30 bilhões em despesas “condicionadas” no projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 que será enviado dia 31.

O encontro entre os deputados para debater essas emendas foi adiado para algum outro dia desta semana, e Lira foi ao Twitter defender que a Câmara “tem dado sucessivas demonstrações de que é parceira do Brasil, independente do governo de ocasião”, com a votação de “todos os projetos de interesse do país” com “seriedade e celeridade”. “Manifestações enviesadas e descontextualizadas não contribuem no processo de diálogo e construção de pontes tão necessários para que o país avance”, afirmou.

Lira ainda rebateu nas redes sociais que “é equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja” e que essas negociações têm ocorrido com “credibilidade e diálogo permanente” com os deputados. “Essa missão é do governo, e não do presidente da Câmara, que ainda assim tem se empenhado para que ela aconteça”, disse.

Após a repercussão da entrevista, e cancelamento da reunião, Haddad telefonou para Lira para se explicar e ouviu do presidente da Câmara a “recomendação” de que fizesse as afirmações publicamente, à imprensa, porque teria parecido uma “crítica pessoal”. “Longe de mim querer criticar a atual legislatura. Era justamente uma reflexão para que a gente estabelecesse regras mais estáveis e duráveis pensando no futuro da relação entre Executivo, Senado e Câmara Federal”, disse Haddad.

Ele buscou minimizar a repercussão ao dizer que as declarações foram tomadas como crítica à atual legislatura, mas que fez uma reflexão sobre o fim do presidencialismo de coalizão, que vigorou nos governos anteriores do PT com a ocupação de espaços no Executivo pelos partidos em troca do apoio deles no Congresso. “Isso não foi substituído por uma relação institucional mais estável”, disse, na entrevista.

Veja também

MME destaca iniciativas brasileiras para a transição energética em fórum mundial do agronegócio

Ministério de Minas e Energia (MME) participou do painel Biocombustíveis e Descarbonização durante o Global …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!