Em uma carta de duas páginas, o almirante-em-chefe da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), Remigio Ceballos Ichaso, e o ministro da Defesa, general Vladímir Padrino López, ratificaram “lealdade absoluta” ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e respaldaram o “espírito republicano” do chefe de Estado. A FANB e a polícia venezuelana também “rejeitaram, contundentemente, as desesperados e secidiosas abordagens contidas em um texto publicado nas redes sociais, em 5 de agosto, por parte do senhor Edmundo González Urrutia, ex-candidato presidencial, e da ultradireitista María Corina Machado.
Ichaso e Padrino López acusam os opositores de terem uma “larga e obscura trajetória como promotores de ações radicais e absolutamente inconstitucionais, antidemocráticas, contrárias a todas as leis e aos mais elevados interesses do povo da Venezuela”. O próprio Maduro publicou o texto, em seu perfil na rede social X, e destacou “as firmes convicções” da FANB de proteger o povo da Venezuela e defender a pátria dos “fascistas”.
Na segunda-feira (5), María Corina e Edmundo González divulgaram um documento no qual fazem “um chamado à consciência dos militares e policiais para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias”. “Nós, venezuelanos, não somos inimigos das FANB. (…) Pedimos a vocês que impeçam a selvageria do regime contra o povo e a respeitar, e fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho”, afirma a mensagem da oposição, que provocou reação imediata do regime de Maduro.
Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, abriu investigação criminal contra os dois opositores por seis delitos, incluindo instigação à insurreição. O Tribunal Supremo de Justiça intimou Edmundo a comparecer, nesta quarta-feira (7/8), ante a Corte, depois de se proclamar presidente eleito.
“Relação particular”
Presidente do Observatório da Venezuela da Faculdade de Estudos Internacionais, Políticos e Urbanos da Universidad del Rosario (Colômbia), Ronal Rodríguez explicou ao Correio que a relação do Palácio de Miraflores com as Forças Armadas é “bastante particular”. “Por ter origem civil, Maduro teve que pactuar com os militares para manter sua lealdade. Ele abriu espaços nos setores da mineração e petrolífero, lhes deu um banco e um canal de televisão, além de lucros e domínio territoriais”, comentou. “A relação clientelista se marca por benefícios e mútuas dependências. Na Venezuela, existe uma dinâmica de interesses e de um ecossistema rentável para os setores armados.” No caso de uma eventual saída de Maduro, Rodríguez lembra que muitos oficiais terão que assumir as consequências de seus atos.
“Qualquer processo de transição política deve entender que a instituição armada não funciona como um exército tradicional. Suas múltiplas dependências com o governo a fizeram muito mais suscetível e vulnerável. Alguns analistas creem que um racha entre militares e Maduro significaria a derrocada da Revolução Bolivariana. O que liga os militares, hoje, não é mais um espírito de corpo ou uma institucionalidade, mas uma dinâmica de interesses.”
Por Ronal Rodríguez, cientista político e presidente do Observatório da Venezuela da Faculdade de Estudos Internacionais, Políticos e Urbanos da Universidad del Rosario (Colômbia)