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segunda-feira 27 de setembro de 2021 às 07:49h

Crise hídrica prejudica abastecimento de casas e impõe mudanças na rotina de brasileiros

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Em três décadas de roça, dona Maria Rosa Arezi, de 63 anos, produziu de tudo um pouco — apenas orgânicos — no solo de sua propriedade em Cascavel, no Paraná. Porém, a água secou e as plantas morreram. O lago do terreno, que já teve quase 80 mil metros cúbicos cheios, sumiu após quase dois anos de chuva abaixo da média no estado. E, para o próprio sustento, a família precisou vender os equipamentos de irrigação que eram usados no trabalho.

— Ficamos com medo de ficar sem água para a casa e por isso paramos a produção. Não tem mais condições. Não tem mais água. Não tivemos outra saída, nem noção de quando a chuva vai voltar — conta.

Conforme o jornal Extra, áreas rurais e urbanas do território nacional já sofrem com torneiras secas por conta da crise hídrica, que também deixa o país em risco de um apagão elétrico. E a seca prolongada já impacta o dia a dia de muitas famílias Brasil afora, que mudam de hábitos e até de meios de produção e renda.

A região mais atingida é a Bacia do Paraná, que abastece Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e o Distrito Federal. De acordo com relatório do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão de chuvas para a primavera — que começou na última terça-feira — não é das mais animadoras.

Segundo o relatório Prognóstico Climático da Primavera 2021, do Inmet, a região Sul tem maior probabilidade de continuar com chuvas abaixo da média histórica durante o período, quando deveria começar a estação chuvosa para recuperar os reservatórios.

No bairro Uberaba, em Curitiba, Letícia Andrade, de 23 anos, e todos os seus vizinhos tiveram que improvisar maneiras para estocar água.

— Não é raro a gente ficar três dias sem água, às vezes até mais. Todo mundo daqui tem galões para guardar um pouco para os dias secos — diz.

Pedro Augusto Breda Fontão, professor do Departamento de Geografia do Setor de Ciências da Terra e coordenador do Laboratório de Climatologia (Laboclima) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz que esse é o resultado do fenômeno La Niña, que já afetou o Sul do país em 2020.

— Ele deixa as águas do oceano mais frias e isso vai causar chuva irregular, mal distribuída, com volumes abaixo do esperado e, consequentemente, não serão recuperados níveis dos reservatórios que já estão em estado crítico — afirma.

A região metropolitana de Curitiba já vive um intenso rodízio no abastecimento de água à população. Ele é suspenso por 36 horas e, depois, é liberado pelo mesmo período.

— Se um reservatório grande secar e precisar desligar algumas captações, seria um colapso. É isso que o rodízio tenta evitar — afirma Cláudio Marchand Krüger, professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da UFPR.

Ainda segundo o relatório do Inmet, desde janeiro de 2019 o Paraná teve 23 dos 32 meses até agosto de chuvas abaixo da média e a previsão é que até fevereiro de 2022 não choverá acima dela — caracterizando uma das três maiores secas desde o início das medições, no início do século XX.

— Desde 1999 há alertas de que a população da região metropolitana de Curitiba ia crescer, o que aumentaria a demanda de novos mananciais e reservatórios, mas nenhum foi feito — diz Fontão.

Preocupação nacional

Outros estados da Bacia do Paraná também sofrem com a estiagem. O Mato Grosso do Sul teve, segundo o Inmet, os mesmos 23 dos 32 meses entre janeiro de 2019 e agosto de 2021 de chuvas abaixo da média. A previsão também é de que, até fevereiro de 2022, não tenham chuvas suficientes para a recuperação do que não choveu até agora.

O estado de São Paulo também já está adotando rodízios em algumas cidades. Em Bauru, por exemplo, são 24 horas de abastecimento e 48 horas sem água. Em Valinhos, a lanchonete na qual André Luís Pires, de 27 anos, trabalha só continua aberta porque os donos passaram a comprar água. Apesar do rodízio de 24h/24h, na última semana o comércio ficou de segunda a sexta-feira sem abastecimento.

— São R$ 600 a mais só com galão de água. Émais fácil acertar os números da mega-sena do que saber quando ela vai cair na caixa de novo. O que dá a gente reutiliza. Com a água que lavamos a louça, por exemplo, nós limpamos o chão. E assim vamos levando — conta o rapaz.

Em MG, Bugre, no Vale do Rio Doce, começou a interromper a oferta após o posto de água que abastece a cidade quase secar. Uberaba definiu multa de R$ 293,47 para quem desperdiçar água.

— Aqui a água não cai de 7h até às 17h. Então, passo a madrugada inteira fazendo as coisas, limpando a cozinha. Vou dormir às vezes às 6h da manhã para dar conta de tudo — diz Dhara Kelly, de 21 anos, dona de uma lanchonete em Uberaba. — Durante o dia, guardo a água que tem na caixa para uma emergência.

A Companhia Saneamento de Goiás também colocou em prática o seu plano de racionamento e alguns bairros de Goiânia e Aparecida de Goiânia devem entrar em sistemas de rodízio nos próximos dias.

No Rio, abastecido pela Bacia do Paraíba do Sul, o principal reservatório (Paraíbuna) tem apenas 21% do seu volume útil. Em 2015, na última grande crise hídrica do estado, esse índice chegou a ficar em -1,64. Na avaliação do professor de Recursos Hídricos da Coppe/UFRJ, Paulo Canedo, o volume atual é preocupante:

— Vamos depender das chuvas, especialmente no verão, e teremos de poupar em 2022.

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