É inegável que a pandemia trouxe sofrimento para milhares de pessoas, um número expressivo de vítimas e causou severo impacto na economia global. Por outro lado, a pior crise sanitária dos últimos cem anos escancarou a necessidade de a sociedade mundial rever o modelo econômico vigente e de promover uma disrupção. A covid-19 evidenciou a busca por ações para impulsionar o desenvolvimento sustentável, os negócios de impacto e proteger o meio ambiente, preparando-nos para um futuro com graves mudanças climáticas. Para que isso ocorra, entretanto, será preciso revolucionar o sistema financeiro e econômico.
No fim de abril deste ano, durante o Fórum do Desenvolvimento da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), centenas de especialistas, acadêmicos e representantes de organizações internacionais como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização das Nações Unidas (ONU) chamaram a atenção para a necessidade de acelerarmos essas transformações em âmbito global. Esse objetivo somente será atingido com intensa colaboração e união entre as nações e instituições financeiras de desenvolvimento.
Diante deste cenário de profundas transformações, o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Martin Rama, é certeiro ao apontar que a crise pode ser o marco para uma nova perspectiva econômica. Para ele, as decisões tomadas agora em termos de crescimento, inclusão e sustentabilidade vão determinar os rumos da economia latino-americana e mundial nas próximas décadas. Ele cita como exemplo a rápida recuperação da economia global após duas das principais crises do século 20: a gripe espanhola e a 2.ª Guerra Mundial.
A opinião de Martin Rama não é isolada. O economista Luiz Awazu Pereira, ex-diretor do Banco Central e vice-diretor-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), reiterou no fórum a sua preocupação com as mudanças climáticas em curso no planeta. Segundo ele, o fenômeno tem probabilidade elevada de desencadear eventos macroeconômicos financeiros catastróficos. Ou seja, é preciso quebrar paradigmas e adotar um relançamento da economia em bases sustentáveis. Awazu destaca, ainda, que os bancos centrais começaram a se interessar pela mudança climática nos anos 90 e, desde então, passaram a intervir.
A retomada exige um olhar sustentável, visando ao cumprimento da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. Afinal, entramos na última década de ação para atingir as metas previstas. A perspectiva para 2021 é de aceleração de uma agenda global para o financiamento de projetos sustentáveis, o que pode, deve e precisa favorecer o Brasil. Estamos diante da oportunidade de relançamento da economia por meio de investimentos em infraestrutura alinhados com o desenvolvimento sustentável.
Neste contexto, o Sistema Nacional de Fomento (SNF) assume o papel de protagonista da agenda de futuro. Trata-se, mais uma vez, de liderar o compromisso de agir como veículos de transformação, reorientando investimentos em direção a uma economia mais sustentável e inclusiva no pós-covid e incluir o País no roteiro da retomada verde da economia. O SNF possui linhas de créditos e produtos próprios para incentivar os projetos sustentáveis.
Portanto, fica claro que estamos diante de uma oportunidade única de reinventar o modelo econômico e priorizar a mobilização de recursos para a aplicação em projetos verdes. Investir em energia renovável, mobilidade urbana, saneamento, infraestrutura, cidades inteligentes e digitalização não é mais o futuro, é o presente. E a pandemia pode ser o catalisador dessa transformação no Brasil e no mundo.
*PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO (ABDE) E DO BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS (BDMG)