O assassinato do corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, atingido por dez tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana, no último dia 8, trouxe à tona as relações do crime organizado com autoridades, entre elas, policiais civis e militares, conforme registra Alfredo Henrique, em reportagem do portal Metrópoles.
“Uma organização criminosa não sobrevive sem os braços dados com o estado”, afirmou ao Metrópoles a desembargadora Ivana David, que já atuou como juíza corregedora dos presídios paulistas, entre 1999 e 2008, testemunhando o surgimento e ascensão do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Para ilustrar o envolvimento de atores do estado com o crime organizado, ela usa exemplos em vários níveis e contextos.
“Celular não voa nem anda sozinho, alguém colocou ele dentro da cadeia e, isso, é fruto de corrupção. Isso também ocorre com atores do estado ajudando na lavagem de dinheiro, em homicídios, com o narcotráfico, com várias condutas criminosas que se retroalimentam. Quando se estuda as organizações criminosas, é comum constatar a simbiose com o estado, que atua junto e contribui para a existência da organização criminosa”.
A desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) destaca que, pouco antes da execução, ligada ao PCC — como aponta investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) –, Gritzbach havia fechado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), no qual deu o nome de um delegado e de um investigador-chefe do DHPP, que teriam lhe pedido R$ 40 milhões para retirar o indiciamento do corretor de uma investigação sobre o assassinato de dois membros da facção criminosa.
“A gente está falando do desvio de milhões [de reais], nós estamos falando de autoridades que tergiversam [usam de evasiva] com prova, na fase de investigação, para beneficiar em troca de dinheiro alguém envolvido numa conduta criminosa. Isso chama a atenção, claro”, disse a desembargadora.
Propina milionária
Em depoimento feito à Corregedoria da Polícia Civil, obtido pelo Metrópoles, Gritzbach afirma que o delegado Fábio Baena Marin e o investigador-chefe Eduardo Lopes Monteiro, ambos do DHPP, à época, receberam ao menos R$ 11 milhões de propina, em dinheiro vivo, para retirar o nome de investigados em inquéritos por homicídio e envolvimento com o tráfico de drogas.
O inquérito policial de homicídio, mencionado no depoimento, era o mesmo no qual Gritzbach era investigado pelo suposto envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC, facção que o havia jurado de morte e que ele também ajudou na lavagem de dinheiro.
Sobre isso, a desembargadora Ivana David afirmou que, agora, cabe às corregedorias das polícias Civil e Militar providenciar procedimentos de cunho administrativo, já feitos, como o afastamento dos policiais de suas funções. “Concomitantemente a isso, são instaurados inquéritos [policiais]. Os policiais civis respondem na justiça comum e os PMs no Tribunal de Justiça Militar [TJM]”, complementou.