Líder evangélico influente na política fluminense, Everaldo Dias Pereira, o Pastor Everaldo, está de volta, conforme matéria de Marcelo Remigio, no O Globo. Após passar quase um ano na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, devido à acusação de envolvimento no esquema de desvios na Saúde do Rio durante o governo Witzel, o religioso reassumiu a presidência do PSC há um mês e lançou sua candidatura a deputado federal. Sua meta, afirmam aliados próximos, é fazer, pelo menos, 100 mil votos.
Para garantir a vitória nas urnas, Everaldo terá um exército de pastores e líderes comunitários que pedirão votos em todas as regiões do estado, grupo de cabos eleitorais recrutados ao longo dos anos por sua atuação em programas sociais, como o Cheque Cidadão. O benefício era distribuído pelos governos da família Garotinho e da ex-governadora Benedita da Silva (PT) por meio de igrejas.
Para reassumir o PSC, após autorização da Justiça, Everaldo precisou retomar o comando de fato da sigla, estancando movimentos de outros grupos políticos na disputa partidária interna.
Distante da legenda, o religioso, que sempre decidiu os rumos partidários, encontrou a lista de candidatos à Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) já definida por outro cacique da sigla, o deputado estadual Leo Vieira. O parlamentar escolheu somente nomes entre seus aliados, preenchendo as 71 vagas disponíveis. De acordo com os mesmos interlocutores, 99% da chapa ficou com Leo Vieira. Para o líder religioso, restou formar a nominata de deputados federais.
Mas, das 47 vagas para a disputa da Câmara dos Deputados, Everaldo conseguiu preencher com nomes de sua confiança pouco menos de 30. A lista minguada pode trazer prejuízos ao partido, já que, sem coligação, uma configuração forte de candidatos é a garantia de votos.
Segundo Pastor Everaldo, sua campanha fará dobradinha com o filho Filipe Pereira e com alguns aliados antigos. O número escolhido para sua candidatura é 2022, que não apenas é o ano corrente, mas concilia o 20 do PSC ao 22 do PL de Bolsonaro.
— Não tive muito tempo desde que reassumi o partido, no dia 20 de julho, por isso não fechamos a chapa completa — explica o pastor, de 66 anos, em sua primeira entrevista após voltar à política. — Apesar de não haver coligações, terei apoio de pessoas de outros partidos. Tenho sido bastante procurado — acrescenta, ao falar de apoios.
Em 2018, Pastor Everaldo lançou a candidatura vitoriosa de Wilson Witzel ao Palácio Guanabara. Nesta eleição, o ex-governador tenta viabilizar seu nome novamente ao estado, mas desta vez pelo PMB. Witzel enfrentou um processo de impeachment, que custou seu mandato em abril do ano passado. O ex-governador já havia sido afastado do cargo em agosto de 2020 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), após a Operação Tris in Idem, que apurou denúncias de corrupção na Saúde estadual . A operação ainda resultou na prisão de Everaldo e de dois filhos, Filipe e Laércio Pereira.
Sem arrependimento
Principal fiador da candidatura de Witzel, Pastor Everaldo diz não se arrepender de ter lançado o ex-governador na política:
— Não tenho acompanhado a campanha de Wilson. Mas não tenho arrependimento. Posso dizer que ele foi mais uma vítima da Justiça deste país.
Indagado se guarda mágoas sobre Cláudio Castro, o vice que assumiu o governo do Estado, deixou o PSC e se filiou ao PL do presidente Jair Bolsonaro, Pastor Everaldo demora alguns segundos para responder, mas afirma não haver ressentimentos.
— Sua saída do PSC foi por questões de sobrevivência política. Se ele não saísse, seria alvo de muitas críticas — afirma o candidato que, entre uma análise e outra sobre política, cita trechos bíblicos que norteiam seu dia a dia.
O PSC está entre os partidos que apoiam a reeleição de Cláudio Castro.
Sobre a corrida presidencial, Pastor Everaldo, que em 2014 disputou o Palácio do Planalto, não esconde o seu voto. O religioso diz que votará em Bolsonaro, mas ressalta que a sigla que preside optou por manter uma posição neutra, liberando seus filiados a apoiar outros candidatos.
— Se alguém perguntar em quem vou votar, vou dizer: “Eu voto em Bolsonaro”. Não vou abrir mão de meus princípios. Mas nem por isso vou deixar de respeitar as demais candidaturas — disse, ao analisar nomes da esquerda, como o ex-presidente Lula, a quem não atacou.
Ao falar de sua prisão, motivada pela citação de seu nome na delação premiada do ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos, que foi preso acusado de corrupção — segundo a delação, era o pastor Everaldo quem mandava na saúde —, o religioso diz que aprendeu muito, tem auxiliado famílias de presos e não se considera vítima:
— Fui alvo, não vítima — disse, sem se estender.