Durante o ano de 2022, 43 furtos e 25 roubos ocorreram por dia na região da Cracolândia, no centro de São Paulo. Os dados do 77° Distrito Policial, da Santa Cecília, e no 3° Distrito Policial, de Campos Elíseos, que atendem a área, e foram divulgados pela SSP (Secretaria de Segurança Pública).
Roubos e furtos apresentaram, respectivamente, alta de 66% e 45% no último ano nesta região. Os números são superiores aos contabilizados na capital com 140.864 roubos (+9,5%) e 236.145 furtos (+25,7%).
Especialistas apontam no portal R7, que a Operação Caronte, a flexibilização das medidas sanitárias de enfrentamento a pandemia, o retorno das atividades no comércio e o desfalque no número de agentes de segurança são as principais razões do aumento de crimes contra o patrimônio.
Segundo Rafael Rocha, sociólogo e coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, as operações policiais, especialmente em maio, pulverizaram o fluxo da Cracolândia pelo centro da cidade. Essas ações, para o pesquisador, dificultam a oferta dos serviços de saúde e assistência social aos usuários, além de atrapalhar o próprio trabalho da polícia.
“As pessoas estão espalhadas pelo centro. Tem dezenas de grupos circulando, cometendo pequenos crimes e entrando em confronto com os comerciantes. Além disso, o atrito constante com a polícia não parece efetivo ao analisar os péssimos indicadores de criminalidade”, afirma o sociólogo.
Para Alan Fernandes, membro do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), a Operação Caronte teve sucesso no combate ao tráfico de drogas. Entretanto, as pessoas envolvidas com comércio ilegal de entorpecentes migraram para outro tipo de crime: o roubo, em especial de celulares.
Em 2021, a SSP registrou 5.593 roubos e 10.836 furtos na região da Cracolândia. Enquanto, no ano posterior, os números aumentaram de forma expressiva para 9.292 e 15.806, respectivamente.
Além das ações policiais, os especialistas apontam que a flexibilização das medidas sanitárias e a retomada das atividades comerciais no centro de São Paulo também influenciaram esse cenário. Com mais pessoas circulando nas ruas, mais vítimas estão suscetíveis à criminalidade.
Outra problemática indicada por Alan Fernandes é o desfalque no efetivo policial. “O número vem caindo paulatinamente, e está chegando em níveis baixos. Nos últimos anos, a procura pela carreira de policial tem sido menor. Mesmo quando as vagas não estão disponíveis, não conseguem atrair o público”.
Pacote de medidas
O Governo de São Paulo e a prefeitura da capital lançaram nesta terça-feira (24) um novo pacote de medidas a ser implantado na Cracolândia em mais uma tentativa de acabar com o fluxo de usuários de drogas e de traficantes na região.
Na área da segurança, serão instaladas 500 câmeras com inteligência artificial pelo centro, e o mesmo número de policiais atuará em operação delegada — um reforço do policiamento com agentes voluntários durante suas folgas.
De acordo com o pesquisador e membro do FBSP, com a implementação da tecnologia, a população se sente mais observada e segura, enquanto os criminosos se sentem inibidos de praticas delitos. Entretanto, a longo prazo as câmeras não são o suficiente para garantir a segurança. É necessário investir mais no efetivo policial.
O sociólogo Rafael Rocha também ressalta no portal R7, que é imprescindível promover mais investigações e ampliar o serviço de inteligência, aliados ao monitoramento da Cracolândia. “Os autores da cena de uso estão se movimentando espacialmente. Estamos em um momento de reorganização do crime”, alerta.
Outro lado
A SSP, por meio de nota, informa que “tem conhecimento da situação e desenvolve ações na região central, voltadas ao combate à criminalidade, com um trabalho integrado entre as polícias. Somente no começo deste ano, equipes do 7º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) prenderam 72 pessoas em flagrante”.
“Desde o dia 11 de janeiro deste ano, a Polícia Militar de São Paulo realiza a ‘Operação Impacto’, que tem o objetivo de ampliar a ação ostensiva, potencializar a percepção de segurança e reduzir os indicadores criminais, por meio de reforço operacional direcionado e do planejamento estratégico baseado no uso de inteligência policial e geoprocessamento de dados. Até o última quarta-feira (25), isso resultou em 3,5 mil detidos; 6,8 toneladas apreendidas e 810 veículos recuperados no Estado”, ainda afirma a pasta.