Principal tendência interna do PT, a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) vive um racha em sua cúpula, com um grupo liderado pela atual presidente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann, e outro organizado em torno do prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, nome mais forte para assumir a presidência do partido em 2025.
A disputa interna ficou evidente durante o seminário que o PT organizou na semana passada, em Brasília, para discutir os rumos do partido. A reunião do Diretório Nacional, no sábado (7), também ficou marcada por visões divergentes sobre o pacote fiscal do governo de Lula da Silva (PT).
A CNB, que já foi conhecida como Articulação Sindical e Campo Majoritário, reúne alguns dos quadros de maior peso no partido, como Lula, José Dirceu, Alexandre Padilha, além de Gleisi e Edinho. Durante o seminário em Brasília, houve duas plenárias diferentes da CNB, uma organizada pelo grupo da atual presidente do PT e outra por aliados de Edinho.
É comum nos seminários do PT que as tendências internas organizem plenárias próprias. Na edição deste ano, a CNB decidiu convidar para a plenária da corrente apenas os quadros que estão na Executiva Nacional do PT ou que tenham mandatos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
A decisão acabou excluindo outros militantes históricos do grupo, como o próprio Edinho e José Dirceu. Os “dissidentes”, então, decidiram organizar uma plenária paralela, aberta a todos os integrantes da corrente.
A disputa entre os grupos está diretamente ligada à sucessão de Gleisi. O PT definiu que as eleições do próximo diretório nacional, incluindo a presidência, vão ser realizadas em 6 de julho de 2025. Até lá, o PT vai debater qual deverá ser o perfil do partido no próximo período.
O grupo de Edinho defende que o PT amplie o diálogo com setores hoje refratários à sigla, incluindo setores mais alinhados ao centro e à direita. Também propõe uma renovação no discurso e na prática política, de modo a aproximar outros segmentos da população.
Edinho já declarou que o PT jamais vai ser um partido do centro, mas defende que é importante baixar a temperatura da polarização no país.
Gleisi e seus aliados seguem a linha de que o PT precisa fincar o pé na esquerda, sem abrir mão das ideias centrais que regem o partido. Seria um PT mais voltado às suas bases históricas. Na visão de dirigentes petistas, é esse o confronto de ideias que vai orientar o debate sobre sucessão da atual direção nos próximos meses.
Na reunião do Diretório Nacional no último sábado, outro tema que provocou divergência interna foi o pacote de gastos do governo federal. No encontro, os petistas debateram duas propostas de resolução, uma da CNB e outra escrita pelo grupo da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), com adesão de correntes minoritárias.
O texto da CNB não continha críticas ao pacote fiscal. Já a outra proposta era abertamente contrária a pontos do pacote, como a mudança nas regras do salário mínimo e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). A resolução da CNB recebeu 42 votos, contra 38 da proposta das tendências minoritárias.
No fim das contas, foi aprovada uma emenda à resolução vitoriosa, com a defesa de que não haja mudanças no BPC. “Ainda sobre as medidas de contenção do crescimento da despesa, o PT recomenda a nossas bancadas que avaliem com profundidade e debatam com o governo os impactos da proposta que envolve o BPC, de forma que ela venha a incidir sobre eventuais desvios e fraudes ao sistema, preservando integralmente os direitos estabelecidos na constituição.”