Dissidente russo morreu em colônia penal do Ártico na semana passada. Família acusa regime de Putin de pressionar por funeral secreto. As autoridades russas entregaram o corpo do político da oposição Alexei Navalny à sua mãe, informou sua porta-voz, Kira Yarmysh, na rede X (antigo Twitter) neste sábado (24).
Os parentes de Navalny e sua equipe vinham implorando há dias às autoridades russas para que liberassem o corpo do dissidente após a sua morte, aos 47 anos, em uma colônia penal siberiana na semana passada em circunstâncias pouco claras.
“O corpo de Alexei foi entregue à sua mãe. Muito obrigado a todos aqueles que exigiram isso conosco”, disse Yarmysh. A mãe de Navalny, que viajou para a prisão no extremo norte da Rússia, onde seu filho estava preso, ainda estava na cidade vizinha de Salekhard, acrescentou a porta-voz.
“O funeral ainda está pendente. Não sabemos se as autoridades interferirão para que ele aconteça como a família deseja e como Alexei merece. Nós os informaremos assim que houver novidades.”
A morte do ativista mais conhecido da Rússia na prisão provocou indignação internacional de líderes ocidentais que o consideravam um prisioneiro político do regime de Vladimir Putin.
Alguns líderes ocidentais, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, culparam Putin pela morte de Navalny.
“Satanismo explícito”
Anteriormente, a viúva e a filha de Navalny haviam apelado diretamente ao líder do Kremlin para que liberasse o corpo de Navalny para o enterro. Em uma mensagem de vídeo publicada no sábado, a viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, disse que Putin, que se descreve como um cristão devoto, estava zombando dos restos mortais do falecido e demonstrando “satanismo explícito”.
“Entregue Alexei”, disse ela no vídeo. “Eles o torturaram vivo e continuam a torturá-lo morto. Eles estão violando todas as leis humanas e divinas.” A filha de Navalny, Dasha, também pediu a liberação do corpo de seu pai. Em uma postagem publicada no X, ela escreveu: “Deem à vovó o corpo do meu pai.” Sua avó Lyudmila Navalnaya declarou em um vídeo na quinta-feira que as autoridades de Putin queriam forçá-la a realizar um funeral secreto e ameaçaram violar o corpo.
Segundo Yulia Navalnaya, a atitude de Putin parecia movida por ódio e pelo desejo de vingança. “Não, não é nem mesmo ódio, é satanismo, paganismo”. A fé, disse ela, tem a ver com bondade, com misericórdia, com redenção. “E nenhum cristão de verdade jamais poderia fazer o que Putin está fazendo agora com o falecido Alexei.”
No vídeo, Navalnaya, de 47 anos, condenou a guerra de Putin contra a Ucrânia e disse que ele havia transformado a Igreja Ortodoxa Russa em um braço do regime. “Eles estão simplesmente matando, bombardeando civis adormecidos à noite com mísseis que foram abençoados pela igreja”, disse Navalnaya. O Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo, é próximo de Putin e um fervoroso apoiador da guerra contra a Ucrânia. Os clérigos russos frequentemente abençoam mísseis em cerimônias públicas.
Sob Cirilo, a liderança da Igreja Ortodoxa aprofundou junto com Putin a promoção de uma ideologia que funde respeito pelo passado czarista e ortodoxo da Rússia com uma reverência pela vitória soviética sobre o nazismo. Em 2022, em tom crítico, o papa católico Francisco chegou a afirmar que Cirilo não poderia continuar agindo como um “um coroinha de Putin.”