A Coreia do Sul anunciou nesta segunda-feira (6) um plano para indenizar cerca de 780 mil vítimas de trabalho forçado no Japão durante a ocupação japonesa, entre 1910 e 1945.
Segundo o governo, uma fundação local ficará encarregada de aceitar as doações das grandes empresas sul-coreanas que se beneficiaram de indenizações do Japão em 1965, que seriam repassadas às vítimas. A decisão foi criticada pelas organizações de defesa de 15 das vítimas, que exigem desculpas públicas e contribuições diretas de duas empresas japonesas.
A prioridade do governo atual é melhorar a relação com o Japão, de acordo com o ministro das Relações Exteriores, Park Jin. “Espero que possamos trabalhar juntos para superar nossa história e desenvolver uma relação que vise o futuro, baseada na reconciliação, boa vontade e cooperação.”
O ministro disse esperar que o Japão “responda positivamente à decisão”, com “contribuições voluntárias de empresas acompanhadas de desculpas por tudo o que aconteceu”. Segundo o governo sul-coreano, aproximadamente 200 mil mulheres de diferentes nacionalidades asiáticas, também foram obrigadas a se prostituir durante a Segunda Guerra Mundial
De acordo com ele, “a cooperação entre a Coreia e o Japão é muito importante em todos os setores da diplomacia, da economia e da segurança, principalmente levando em conta o contexto atual e com a grave situação internacional e a crise mundial”, declarou. “O projeto de indenização é nossa chance de criar uma nova história para a Coreia e o Japão, superando conflitos e divergências”, disse Park Jin.
Em 2018, a Corte Suprema da Coreia do Sul determinou que algumas empresas japonesas deveriam ressarcir um grupo de vítimas sul-coreanas. A decisão piorou as relações bilaterais entre os dois países aliados, já afetada pela disputa histórica.
As novas medidas visam colocar fim a um diferendo que afeta ambas as economias. Neste sentido, a Coreia do Sul anunciou, nesta segunda-feira, que retirará a queixa feita à OMC (Organização Mundial do Comércio) que restringe a exportação de alguns produtos japoneses, à espera de novas negociações sobre a questão.
O Japão instaurou, em 2019, restrições às exportações de certos produtos e componentes químicos para a Coreia do Sul, que poderão ser retiradas em breve, segundo o governo sul-coreano. “Os dois governos decidiram realizar consultas bilaterais ligadas às questões atuais sobre a regulamentação das exportações, da maneira como eram feitas antes de 2019”, indicou o Ministério do Comércio sul-coreano.
Japão não pedirá novas desculpas
O ministro japonês das Relações Exteriores, Yoshimasa Hayashi, também elogiou o plano sul-coreano de indenização, que ajudará, segundo ele, a reestabelecer “boas relações” entre os dois países. Mas o ministro avisou que o Japão não se desculpará novamente. Ele citou uma “declaração comum” de 1998, lembrando que o premiê japonês da época, Keizo Obuchi, declarou sentir um “profundo remorso” pelo sofrimento e os danos causados pela colonização nipônica da peninsula coreana.
O governo japonês ainda lembrou da assinatura de um acordo bilateral, em 1965, que permitiu aos dois países o reestabelecimento de relações diplomáticas. Seul recebeu, na época, centenas de milhões de dólares em subvenções e empréstimos a taxas baixas. Isso permitiu, segundo o governo japonês, “regularizar” a situação.
Em 2015, Seul e Tóquio também concluíram um acordo para resolver de maneira “definitiva e irreversivel” a questão: o Japão se desculpou oficialmente e um fundo de 1 bilhão de yens foi criado para os sobreviventes. Mas a Coreia do Sul desistiu do projeto porque parte das vítimas e de suas famílias não aprovaram o acordo.
O presidente americano, Joe Biden, elogiou a iniciativa sul-coreana, que ele chamou de “novo capítulo revolucionário da cooperação e da parceria entre dois aliados próximos dos Estados Unidos.”