Segundo o Rfi, enquanto organizações ambientais presentes na conferência do clima da ONU (COP27) lamentaram, nesta quinta-feira (10), que a presença do setor de energias fósseis no encontro tenha aumentado em relação às edições anteriores, o painel do Brasil sobre energias renováveis mostrou que o país sai na frente neste assunto. “O Brasil tem 85% de energias renováveis, enquanto a média mundial é de 25%”, disseram os especialistas.
A maior parte das energias renováveis do Brasil é produzida em usinas hidrelétricas, mas nos últimos anos, a geração de energia eólica, produzida pelo vento, e a solar vem ganhando destaque, além do hidrogênio verde, que começa a ser produzido no país.
Ariel Scheffer, superintendente da Itaipu Binacional, abriu o painel sobre o tema, organizado nesta quinta-feira (10) pelo Ministério do Meio Ambiente na COP27, em Sharm el-Sheik, no Egito. Ele afirmou que a matriz energética brasileira é exemplo mundial e sublinhou que a solução para a crise energética mundial passa pelas energias renováveis.
Scheffer também chamou a atenção para a importância de se garantir a segurança energética por meio da segurança hídrica, climática e ambiental.
Energia eólica
“Tenho orgulho de ter participado da implementação e do boom da energia eólica no Brasil, que passou de 1 gigawatt de capacidade em 2011 para 24 gigawatt em 2022”, disse Rosana Santos, doutora em Energia pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética. Rosana contou que ela colocou o primeiro gigaWatt (GW) em ação na matriz brasileira.
Rosana Santos destacou a vantagem competitiva do Brasil por poder, principalmente com as hidrelétricas, armazenar as energias renováveis – um problema para a maioria dos países-, “assim como poder contar com a complementaridade entre as energias eólica, hídrica e solar”. Mas alerta: o Brasil precisa de planejamento para continuar “esverdeando” a sua matriz energética.
Amônia e hidrogênio verde
Jurandir Picanço, consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, ressaltou o potencial de estados do Nordeste do Brasil, citando nominalmente Ceará e Bahia, para produzir energia eólica, solar e também hidrogênio verde. “Não basta só investir em hidrogênio, tem que ser o hidrogênio verde, energia limpa, pois o mercado mundial vai privilegiar cada vez mais produtos com menos pegadas de carbono”, afirmou.
Esse hidrogênio verde produzido no Nordeste brasileiro, segundo ele, pode ser transportado para os países que não têm essa condição para produzir energia renovável em seus territórios.
De acordo com Picanço, a amônia – um dos produtos químicos mais amplamente produzidos no mundo – produzida a partir de hidrogênio verde na Bahia é uma grande oportunidade para o Brasil, e pode ser usada nas indústrias de transportes, cimento e cerâmica, entre outras, para substituir os combustíveis fósseis.
A demanda por amônia verde como base química deve dobrar até 2050. A razão é que a amônia verde é ideal para o transporte de hidrogênio e, portanto, é fundamental para a transformação da indústria e o sucesso da transição energética.
De acordo com Rosana Santos, “o hidrogênio verde representa, para o país, uma oportunidade para mudar os fundamentos de sua economia”, destaca.
Descarbonização da cadeia
Além disso, “temos que mudar as formas como produzimos e consumimos”. “Precisamos da descarbonização da cadeia até o último pedaço de pão”, aponta a diretora-executiva do E+ Transição Energética.
“A pauta de descarbonização e a abundância de recursos naturais do Brasil colocam o país em posição privilegiada e reabre uma janela de oportunidade para modernizarmos nossa economia e passarmos a exportar – para além dos tradicionais produtos primários – produtos industrializados verdes, de enorme valor agregado para nossa sociedade”, conclui Rosana Santos.
Emirados Árabes e Rússia lideram no uso de energias fósseis
De acordo com as ONGs presentes na conferência, a COP27 tem mais lobistas do setor de energias fósseis do que o total de representantes de dez dos países mais afetados pela mudança climática.
Isso representa um aumento de mais de 25% em relação à COP26, realizada em Glasgow, há um ano. O maior contingente é dos Emirados Árabes Unidos, que sediará a COP28 em 2023, seguido da Rússia.
“Há grandes delegações da indústria de petróleo e gás. Alguns até fazem parte de delegações nacionais, e há governos dos países do Norte que vêm buscar oportunidades de petróleo e gás na África, com grandes delegações”, disse à AFP Thuli Makama, da Oil Change International.
“Os países africanos estão, por sua vez, representados por um punhado de autoridades de cada país”, acrescentou.
A COP27, realizada no balneário de Sharm El-Sheikh, reúne cerca de 45 mil pessoas, conforme dados da presidência egípcia, anfitriã do evento.
Assim como nas edições anteriores, a COP27 é palco de centenas de reuniões e seminários abertos a todos os participantes, cujo tema, praticamente exclusivo, é a ameaça da mudança climática e as alternativas para enfrentar esse fenômeno – em particular, a transição energética.