Na semana em que atingiu mais um recorde de mortes por covid-19 e enfrentou uma crise política sem precedentes, o Brasil ganhou destaque em publicações estrangeiras.
Dessa vez, além de voltar a noticiar o descontrole da pandemia do novo coronavírus, jornais de todo o mundo chamaram atenção para a troca de comando nas Forças Armadas.
“Bolsonaro não conseguiu impedir a covid-19. Agora, pode estar mirando a democracia” foi o título do artigo de opinião publicado pelo jornal americano Washington Post.
Em meio a “um dos piores picos de infecções por covid-19 que o mundo já viu”, disse o diário, “não há fim para a onda à vista: graças à impressionante incompetência do presidente Jair Bolsonaro e seu governo, apenas 2% dos brasileiros foram totalmente vacinados e as medidas de lockdown necessárias para frear novas infecções, incluindo de uma variante virulenta que surgiu no país, são praticamente inexistentes”.
“Em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que poderiam removê-lo do cargo”, afirmou o Washington Post.
Segundo o jornal, há “motivos para preocupação”, “embora as instituições democráticas do Brasil sejam relativamente fortes após mais de três décadas de consolidação”.
“O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia covid-19 em seu próprio país e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo. Ele não deve ter permissão para destruir uma das maiores democracias do mundo também”, concluiu o Washington Post.
O também americano New York Times publicou reportagem intitulada “Enquanto vírus e problemas econômicos assolam o Brasil, Bolsonaro improvisa e confunde”.
“Mesmo para um líder polarizador que muitas vezes parece agir por instinto, os movimentos recentes do presidente Jair Bolsonaro do Brasil confundiram e enervaram muitos no maior país da América Latina, onde o coronavírus está matando pessoas a uma taxa recorde”, disse o jornal, em texto assinado pelos correspondentes Ernesto Londoño e Letícia Casado.
Do outro lado do Atlântico, o britânico Financial Times, especializado em notícias financeiras, descreveu a troca de comando na Defesa, com a substituição do ministro Fernando Azevedo e Silva e dos chefes das três forças, como “o poder explosivo de uma bomba” detonada.
“Um dos maiores céticos do coronavírus do mundo, Bolsonaro recusou-se a usar máscara durante a maior parte do ano passado, criticou as vacinações e classificou a pandemia como “gripezinha”. Ele agora está lutando para manter seu governo unido e suas esperanças de reeleição vivas em meio a alguns dos piores números da covid-19 do mundo”, disse o jornal.
Já o também britânico Guardian deu destaque à movimentação de líderes da oposição pelo impeachment de Bolsonaro.
“O que quer que tenha acontecido, poucos duvidam que o drama da semana representa um momento crucial e potencialmente perigoso na história moderna de um país que emergiu apenas de duas décadas de ditadura em 1985”, escreveu Tom Phillips, correspondente do jornal no Rio de Janeiro.
“Com mais de 66 mil mortes somente em março, o Brasil está em meio a uma crise política e de saúde. Como o país chegou a esse ponto?”, questiona o britânico Telegraph em reportagem intitulada ‘Milhares de mortos e um país em turbulência: a contagem regressiva do Brasil para a catástrofe da covid’.
Para o francês Le Monde, Bolsonaro está cada vez mais “isolado e impopular”.
Em reportagem assinada pelo correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Bruno Meyerfeld, a saída “deste respeitado e influente general de 4 estrelas (Fernando Azevedo), considerado uma das poucas figuras pragmáticas do poder de Brasília, causou espanto e indignação de grande parte do Estado-Maior”.
O italiano Corriere della Serra definiu a troca de comando da mais alta cúpula militar brasileira como “a pior crise desde o fim da ditadura”, escreveu a jornalista Sara Gandolfi.
Em artigo no alemão Frankfurter Allgemeine, o editor de política do jornal, Klaus-Dieter Frankenberger, classificou como “fatal” a gestão da pandemia de covid-19 por Bolsonaro. “O Brasil merece mais”, escreveu ele.
“Bolsonaro, o presidente populista de direita, não é inocente. De muitas maneiras, ele imitou seu modelo e seu herói Donald Trump: ignorou e minimizou o perigo do vírus por muitos meses; na verdade, até hoje. No trade-off entre conter a epidemia e manter a economia aberta, nunca optou pela proteção à saúde. Em vez disso, ele se gabava de sua resiliência”.
Por sua vez, no argentino Clarín, o jornalista Marcelo Cantelmi, chefe de política internacional do diário, escreveu em artigo intitulado “Brasil em crise Por que é o pior momento de Jair Bolsonaro?”: “O presidente brasileiro está encurralado, perdeu o apoio do establishment e de seus aliados. Por isso, demitiu a liderança das Forças Armadas, para tentar rearmar uma verticalidade militar que o proteja de um possível julgamento político”.