Construtoras de pequeno e médio porte vêm ocupando parte do espaço deixado pelas ex-líderes do setor em 2015 e 2016, depois do tombo sofrido no auge da operação Lava Jato.
Esse período foi também marcado por forte recessão. Houve renovação de 70% na lista das 20 maiores empreiteiras do país desde o início da operação anticorrupção até 2021. Só 6 das que estão no topo atualmente estavam entre as maiores em 2013, quando o país tinha o maior percentual de investimento em infraestrutura em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) do século (2,4%) e as grandes operações não haviam sido iniciadas.
Outras ex-líderes, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa Infra, não estão no ranking da revista O Empreiteiro de 2022 por falta de dados. Balanços anteriores apontam que as companhias têm um faturamento acima de R$ 1 bilhão. Se considerar que essas companhias mantêm esse faturamento em 2021, o percentual de renovação no ranking cai para 64%.
Houve reconfiguração na participação do Estado na economia ao longo desse período de quase uma década. O governo federal, que antes fazia grandes investimentos em infraestrutura, teve o Orçamento reduzido nos últimos anos por causa de restrições fiscais. A Lei de Teto de Gastos Públicos limitou o crescimento das despesas à inflação.
Ministérios responsáveis por obras, como os da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional, diminuíram substancialmente os contratos por grandes projetos (aqueles com custos acima de R$ 500 milhões por ano).
A crise econômica afastou obras privadas e instalou-se uma desconfiança com as empresas brasileiras. Em 2013, o setor de engenharia e construção atingiu o pico de faturamento de R$ 179,6 bilhões. Caiu para R$ 68 bilhões em 2016 (auge da crise). Em 2021, ficou em R$ 68,3 bilhões.
O governo federal e os governos estaduais e das cidades têm ampliado as concessões e parcerias público-privadas para compensar a falta de dinheiro público para investir em infraestrutura, como rodovias, aeroportos e saneamento básico (fornecimento de água e tratamento de esgoto).
O dono de uma dessas construtoras relatou ao Poder360 que as conversas com os bancos são muito difíceis. A empresa tem acesso a crédito, mas em condições muito piores do que as de companhias do mesmo porte no mercado. Antes da Lava Jato era o oposto: as grandes construtoras tinham acesso a crédito mais barato do que a média das empresas do mesmo tamanho.
Esta reportagem faz parte da série Brasil à frente. Trata-se de um abrangente levantamento de informações do jornal digital Poder360 sobre os desafios do país nesta 3ª década do século 21, em que a democracia está em fase avançada de consolidação, mas as instituições e vários setores da economia ainda precisam de aperfeiçoamento.