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quarta-feira 24 de fevereiro de 2021 às 05:01h

Conselhos defendem vacina prioritária para além da linha de frente

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O Brasil aplicou mais de sete milhões de doses da vacina contra a Covid-19 após aproximadamente um mês de campanha de imunização no país. Nesta largada, o programa tem como grupos prioritários profissionais de saúde, idosos e populações tradicionais – os critérios são níveis de exposição e risco diante da doença.

Mas dentro do campo da saúde, que reúne diversas especialidades, há controvérsia sobre qual deve ser a abrangência dessa prioridade.

A orientação do Programa Nacional de Imunização é foco nos profissionais que atuam na linha de frente contra a Covid-19, com alto nível de exposição ao vírus. A realidade, porém, traz vários relatos de categorias que integram esse segmento, mas não estão no front do combate à pandemia.

Psicólogos, educadores físicos, nutricionistas, médicos veterinários, dentistas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais são algumas das categorias que se enquadram nos relatos.

Até o momento, não há números exatos de quantos profissionais estão nessa situação. Os respectivos conselhos profissionais, questionados pela CNN, não souberam informar quantos de seus associados se imunizaram, mas defendem que estes sejam incluídos e vacinados. A justificativa são elementos e práticas concernentes a suas especialidades.

O Ministério da Saúde, também questionado, não se manifestou até a publicação desta reportagem.

O que dizem os conselhos

As categorias citadas acima são organizadas em conselhos profissionais, que regulamentam e representam a profissão.

Em contato com a CNN, os conselhos federais defenderam a aplicação da vacina nesses profissionais, mas em alguns casos ponderaram que a aplicação ocorra de forma coerente, dando prioridade aos grupos de risco.

Das entidades procuradas, apenas o Conselho Federal de Psicologia (CFP) não respondeu aos questionamentos da CNN.

Educação Física

O Conselho Federal de Educação Física (Confef) afirmou que segue as orientações do governo federal, que considera trabalhadores dos serviços de saúde “todos aqueles que atuam em espaços e estabelecimentos de assistência e vigilância à saúde, sejam eles hospitais, clínicas, ambulatórios, laboratórios e outros locais”.

O Confef argumenta ainda “que o profissional de Educação Física possui formação para intervir em contextos hospitalares, em níveis de atenção primária, secundária e/ou terciária em saúde”.

Questionados sobre em que casos a categoria deve se vacinar em caráter de prioridade, o Conselho informou que “nos casos em que se cumpram os requisitos descritos no Informe Técnico da Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19, do Ministério da Saúde, e/ou, quando houver, do plano regional de vacinação”.

Fisioterapia e Terapia Ocupacional

O posicionamento do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), enviado à CNN, é o de que todos os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais sejam inseridos na primeira fase da vacinação, uma vez que, de acordo com o Conselho, são profissionais de primeiro contato, que atuam em hospitais, clínicas, atendimento domiciliar, asilos, entre outros.

“Para o COFFITO, este entendimento justifica-se pelo fato de que estes profissionais atendem pessoas com diversas enfermidades e comorbidades, muitas delas também enquadradas nos grupos de risco, como idosos, deficientes, e pacientes oncológicos, por exemplo”.

Para o presidente do COFFITO, Roberto Mattar Cepeda, os profissionais de saúde, em especial os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, que seguem atendendo seus pacientes “não se eximiram das suas responsabilidades e colocaram a vida do outro em primeiro lugar, portanto, agora, está nas mãos do governo retribuir este ato e permitir que todos tenham acesso à imunização”.

Medicina Veterinária

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou seu posicionamento na página oficial da categoria.

“Devem ser vacinados aqueles que atuam em diversas frentes e estão inseridos nas clínicas, hospitais, defesa sanitária, desempenhando atividades como a gestão até a vigilância de zoonoses, vigilância ambiental em saúde, epidemiológica e sanitária, o que os torna mais suscetíveis à doença”.

Mesmo com o incentivo à vacinação para veterinários, o Conselho pondera que deve ser considerada a disponibilidade das doses de vacina e a adequação de acordo com a realidade local.

“O Informe Técnico do Ministério da Saúde, enviado aos secretários estaduais de saúde e ao CFMV, em janeiro, aborda o escalonamento dos grupos prioritários para vacinação, conforme a disponibilidade das doses de vacina, sendo facultado a estados e municípios a possibilidade de adequar a priorização de acordo com a realidade local”.

O conselho que representa os veterinários ressalta ainda a recomendação do Ministério da Saúde, para que seja solicitado documento que comprove o vínculo ativo do trabalhador com o serviço de saúde no ato da vacinação.

Nutrição

A orientação do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) é para que todos os profissionais desta categoria se vacinem, desde que as vacinas estejam disponíveis. “Isso vale para os profissionais da linha de frente e os que estão atuando na atenção primária, média e alta complexidade. Tanto na rede pública como na suplementar”.

O CFN destacou que há mais de 160 mil nutricionistas no Brasil e que o profissional atua em todas as frentes de assistência à população. “Mesmo no ambulatório ou na produção, o nutricionista está exposto à contaminação pelo contato direto com o paciente/público. E, também, se estiver contaminado (assintomático), pode expor o paciente/público que assiste”.

“O Conselho Federal de Nutricionistas entende que a vacinação dos profissionais da área de saúde deve ser prioritária, independente da área de atuação. Lembramos que o profissional de saúde, inclusive o nutricionista, mesmo se não estiver atuando na linha de frente, pode ser convocado a qualquer tempo para atuar no combate a pandemia”, afirmou o CFN à CNN.

Odontologia

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) e os Conselhos Regionais de Odontologia afirmaram que “são incisivos na defesa e cobrança para a vacinação imediata dos Cirurgiões-Dentistas, Técnicos e Auxiliares da Odontologia nesta primeira etapa que contempla os grupos prioritários”.

“Desde o início da pandemia, 82% dos profissionais de Odontologia não interromperam o atendimento odontológico, pelo contrário, intensificaram os cuidados com a biossegurança para garantir total segurança à saúde dos pacientes nos procedimentos realizados. Por isso, a importância da vacinação desse grupo prioritário que, inclusive, foi reconhecido e convocado para o trabalho na linha de frente contra a Covid-19 no Sistema Único de Saúde”, disse o CFO à CNN.

O Sistema Conselhos de Odontologia ainda acrescenta que “está inconformado com a falta de celeridade e logística essenciais para imunização dos mais de 500 mil profissionais de Odontologia em pleno exercício em todo o país, seja na rede pública ou privada”.

A categoria destaca os riscos expostos aos profissionais durante a pandemia.

“É preciso evidenciar o risco de infecção viral predominante aos profissionais de Odontologia devido a procedimentos que envolvem comunicação face-a-face com pacientes e exposição frequente a saliva, sangue e outros fluidos corporais, bem como manuseio de instrumentos perfuro cortantes”, finaliza.

Quem não vai se vacinar agora

Apesar de já estarem aptos a serem imunizados, muitos profissionais optaram por esperar, uma vez que não se consideram pertencentes ao grupo de risco e não atuam diretamente na linha de frente contra a Covid-19.

A educadora física Ana Flávia Corrêa de Almeida, atua como professora de Cross Training em um centro de treinamento e como personal trainer, mas não irá tomar a vacina agora. Ela diz que se preocupa com a escassez da vacina para os grupos de risco.

“Eu tenho direito de tomar a vacina, por ser considerada da área da saúde. Optei por não tomar, eu quis deixar para as pessoas que eu considero parte do grupo de risco, como idosos, pessoas com patologias, doenças cardiovasculares e cardiorrespiratórias, diabéticos, pessoas em tratamento de câncer e pessoas com Aids”.

A profissional destaca que acredita na eficácia da vacina e irá tomar assim que estiver disponível para todos os grupos.

“Professores estão mais na linha de frente do que os educadores físicos, por conta do contato com diversos alunos e eles não estão no primeiro grupo para tomar a vacina. Recentemente foram incluídos no próximo grupo, mas achei um descaso, uma vez que as aulas já voltaram”, diz Ana Flávia.

A também educadora física Alessandra Pereira afirma que não irá tomar a vacina por enquanto para que outros grupos mais expostos se protejam primeiro. “Optei por não tomar, para deixar para outras pessoas que mais precisam, inclusive a minha mãe, que não tomou ainda e gostaria muito que ela se imunizasse”.

A psicóloga Rita de Cássia Martins faz parte do time de profissionais da saúde que prefere aguardar para se vacinar, dando prioridade a outros grupos mais prioritários. “Irei tomar a vacina no período certo da minha idade, ou quando liberaram para pacientes em tratamento oncológico”, afirma a psicóloga, que se recupera de um câncer de mama.

Matthaws Rodrigues Walfall é médico veterinário e atua como ortopedista na área. Ele opina que demais profissionais que trabalham com ele também deveriam ter o mesmo direito de se vacinar, mas ainda não fazem parte do plano de imunização. Com isso, o veterinário prefere aguardar para se vacinar.

“Por motivo profissional não fiz quarentena, transitei por cidades, acredito que estive e estou em boa exposição, mas não tão diferente de outras pessoas como recepcionistas, auxiliares, seguranças, manobristas, auxiliares de limpeza, que comigo trabalham e lidam diariamente com exposição a possível contato com o vírus”, diz.

“Não vejo motivo para eu correr para ser vacinado, enquanto meu pai, de 68 anos, minhas tias e outras pessoas desse mesmo grupo ainda não foram vacinados. Os mesmos ainda trabalham em zona de risco. Nesse momento há um desespero da população em iniciar a imunização, mas as prioridades deveriam ser mais equilibradas com mais bom senso e empatia”, acrescenta Walfall.

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