De acordo com o IstoÉ, Carlos Augustin, um dos conselheiros para o agronegócio do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, avaliou nesta terça-feira que a posição da associação de produtores de soja e milho de Mato Grosso contra interlocutores do PT com o setor agrícola representa uma “minoria”.
Em entrevista à Reuters, ele disse ainda que um dos nomes que tiveram a legitimidade questionada pela Aprosoja-MT é na verdade gabaritado para ser o futuro ministro da Agricultura.
Augustin se referiu a Neri Geller, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) na Câmara e ex-ministro da Agricultura e ex-secretário de Política Agrícola no governo Dilma Rousseff.
Geller, além de Augustin, produtor rural e empresário do setor de sementes de soja em Mato Grosso, e Carlos Fávaro, senador mato-grossense pelo PSD, formam a trinca cuja legitimidade para representar o agronegócio em conversas com o novo governo foi questionada pela Aprosoja-MT.
Augustin, irmão do ex-secretário do Tesouro Arno Augustin no governo Dilma, disse que a decisão da assembleia da Aprosoja-MT foi de “meia dúzia” e representa uma “minoria”.
“Que a maioria de Mato Grosso votou em Jair Bolsonaro, todo mundo sabe. Mas quer escolher o ministro quem perdeu a eleição?”, questionou Augustin, em referência à Aprosoja-MT, que segundo ele apoiou a candidatura à reeleição do presidente, embora se diga apartidária.
Para o empresário do agronegócio afinado com Lula, é natural que Geller e Fávaro, os “dois políticos que desde o primeiro turno tiveram posicionamento enorme” a favor do petista, sejam lembrados para o ministério.
“Claro que não é só isso que cacifa alguém, mas o Neri, por ter sido ministro e pela articulação com o setor, é um candidato imbatível”, considerou Augustin.
Segundo ele, o cotado para ministro “é bem quisto” pelo setor e mesmo esses que hoje “jogam pedra” sabem o quanto aquele que já foi ministro fez pela agropecuária brasileira.
Em sua manifestação, a Aprosoja-MT citou o fato de o mandato de deputado federal de Geller ter sido cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral neste ano, por suposta prática de triangulações de contas bancárias para captar doações de pessoas jurídicas.
Questionado, Augustin disse que este processo foi um “absurdo” e será esclarecido, não devendo afetar a eventual escolha de Geller por Lula.
Apesar de tudo, o Geller teria “capacidade de, neste momento, fazer a intermediação com os perdedores”, pelas suas históricas relações com segmento.
“Ele tem essa capacidade, acho um ativo muito importante para a pacificação, apesar da manifestação da Aprosoja, que há pouco tempo era só elogio ao Neri”, disse Augustin, citando que Geller também foi um dos líderes do movimento Grito do Ipiranga, marcado pelo fechamento da BR-163 para chamar a atenção do governo para pautas do setor de soja em 2006.
Augustin disse que prova de que Geller e Fávaro são bem vistos pelo agricultor –inclusive no Estado que é o maior produtor nacional de grãos– seria uma manifestação nesta semana do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, de que o senador teria potencial para ser ministro.
Embora também considere que Fávaro tenha qualificações para eventualmente assumir o Ministério da Agricultura, Augustin admitiu que a suplente do senador, Margareth Buzetti (PP), é “bolsonarista”, o que poderia ser um empecilho para a formação do novo governo, já que afetaria a composição do bloco governista no Senado, no caso de uma ausência do titular para ocupar o cargo de ministro.
“A maior qualidade do Neri é a articulação política, ele sabe o que tem de fazer para aprovar uma lei”, disse Augustin, para quem Geller tem o respeito até de ruralistas mais radicais, como Luis Carlos Heinze (PP-RS).
Essa capacidade de lidar com os radicais foi importante para a aprovação inclusive de leis polêmicas na Câmara, como a dos defensivos, avaliou Augustin.
Geller foi ainda relator da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, projeto criticado por ambientalistas, inclusive pela deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), que apoiou Lula e deverá ter importante voz nas políticas ambientais do novo governo.
Por outro lado, Augustin disse que os formuladores de políticas do agronegócio para o PT entendem que o governo brasileiro deve ser contra o desmantamento, mesmo porque há forte oposição de consumidores globais contra o avanço da agropecuária em áreas de florestas da Amazônia ou Cerrado.
Segundo ele, há 30 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser transformadas em lavouras, colaborando para agricultura sustentável, que poderia atrair financiamentos das nações desenvolvidas.