Adversários nos bastidores da disputa pelo governo paulista, os marqueteiros Pablo Nobel, de 57 anos, e Otávio Antunes, de 45, já estiveram na mesma trincheira em eleições passadas. Hoje, eles têm o objetivo idêntico, de eleger o futuro governador paulista, mas com candidatos diferentes.
Formado em ciências sociais pela PUC-SP, o argentino Nobel, que atua na campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos), trabalhou durante 10 anos com Duda Mendonça e atuou nas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência, José Genoino (PT) para governador, Aloizio Mercadante (PT) para o Senado em 2002 e Marta Suplicy para a Prefeitura da capital em 2004. No mesmo período, o jornalista campineiro Otávio Nunes, que é filiado ao PT desde os 16 anos e hoje está ao lado do petista Fernando Haddad, trabalhou na área de comunicação das mesmas campanhas da legenda após desistir de tentar carreira na política.
Agora separados, os dois tiveram a mesma ideia ao traçar suas estratégias para a campanha paulista: trazer polarização nacional entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) para São Paulo e, assim, tirar o então candidato que tinha a máquina do governo do Estado na mão, Rodrigo Garcia (PSDB), do segundo turno.
O diagnóstico nas duas campanhas era o de que Tarcísio e Haddad só teriam chance de vitória se fossem juntos para a segunda rodada. Com a retaguarda do aparato estatal e o dobro do tempo de TV dos adversários, Garcia contaria com os votos antipetistas ou antibolsonaristas caso seguisse na disputa. “Não havia lugar para dois antipetistas, por isso fomos ocupar esse espaço. O PT também entendeu que a polarização mantinha o Haddad no jogo e preferiu apostar suas fichas contra o Rodrigo (Garcia)”, disse Nobel.
Avesso a entrevistas, Antunes preferiu não comentar sua estratégia, mas petistas envolvidos na campanha admitem que no início o temor era de que Haddad ficasse fora do segundo turno. Não fazia sentido, portanto, adotar outra estratégia. E assim foi feito. Segundo um integrante da cúpula da campanha de Garcia, os ataques de Haddad ao tucano começaram no primeiro dia de campanha na TV e rádio, em 26 de agosto.
A campanha do petista disse ainda ter mais um motivo para a ofensiva contra o tucano: a de que o candidato ao Senado na chapa de Garcia, Edson Aparecido (MDB), estava usando a maior parte de seus comerciais na TV para atacar Haddad.
Desafios
As estratégias traçadas pelos marqueteiros de Tarcísio e Haddad tinham desafios próprios. No caso do petista, era preciso reduzir o antipetismo enraizado no interior do Estado. Já o ex-ministro tinha de ser tornar conhecido pelo eleitorado de São Paulo.
“Apresentamos em pouco tempo o Tarcísio para uma grande audiência como um bolsonarista leal, mas moderado. Não é porque o candidato é de direita que ele não é moderado”, disse Nobel.
Os dois marqueteiros foram pegos de surpresa com o resultado do primeiro turno, quando Tarcísio venceu contrariando a maioria dos institutos de pesquisa. Os números dos trekkings (levantamentos internos) do PT eram parecidos, mas nenhum apontava para a vantagem do bolsonarista apresentada nas urnas.
As estatísticas da campanha de Tarcísio, segundo Nobel, apontavam um empate com Haddad. “As pesquisas são como uma bússola. É muito difícil saber para onde ir se você não sabe exatamente onde está”, afirmou o marqueteiro.
Entre petistas, o resultado do primeiro turno – 42,3% para Tarcísio e 35,7% para Haddad – foi um choque. Nos dias seguintes, o partido mergulhou em reuniões para entender o que havia dado errado e quais seriam as consequências para a campanha de Lula em São Paulo neste segundo turno.
Apesar da dianteira folgada do ex-ministro nas pesquisas, Antunes ainda acredita numa virada. Seu argumento é o de que os eleitores se interessam de fato pela disputa estadual só na reta final e os trekkings petistas apontam que o voto de Tarcísio é mais “volátil” – o porcentual dos que tinham certeza no voto dele teriam caído de 90% para 70%.
Já Nobel comemora o fato de a narrativa do candidato “forasteiro” que veio do Rio de Janeiro não ter emplacado Há, claro, um clima de otimismo no comitê do ex-ministro de Bolsonaro, mas com moderação para evitar “salto alto”.