Com a pré-campanha antecipada e a largada já dada no início do ano eleitoral, os principais pré-candidatos à Presidência da República já começaram a definir seus alvos preferenciais, aqueles que têm maior potencial de lhes tirar votos na corrida pelo Planalto ou contra os quais seja mais vantajoso debater.
Segundo reportagem do O Globo, a avaliação das campanhas leva em conta pesquisas encomendadas e o cenário político, e dá o tom dos embates públicos dos próximos meses. Principais antagonistas nos últimos anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) tem coincidido na estratégia de evitar brigas diretas com adversários que pontuam menos em intenção de votos. Já nomes da chamada terceira via, como Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), têm atirado para cima e para os lados na esperança de surpreender e chegar ao segundo turno.
Líder das pequisas até aqui, Lula mira a maioria de suas críticas no atual governo. Com frequência, evita personificá-las. O objetivo é fazer a comparação entre as duas gestões, a dele e a atual. Embora enxergue em Moro um adversário inevitável, já que o pré-candidato do Podemos foi o juiz responsável por suas condenações na Operação Lava-Jato, posteriormente anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Lula tenta não rivalizar com o ex-magistrado diretamente para não alavancá-lo. Quando o faz, lança mão de teses como dizer que ele agiu na Lava-Jato a serviço dos Estados Unidos para quebrar os principais setores industriais do país. Em outra frente, a campanha do PT ficou incomodada com alguns ataques feitos por Ciro Gomes ao partido, mas Lula evitou reagir. Aliados dizem que o petista ainda conserva respeito pelo adversário, que foi seu ministro. Outros alimentam esperança de que, diferentemente do que ocorreu em 2018 em relação a Fernando Haddad, Ciro apoie Lula num eventual segundo turno.
Com base em pesquisas qualitativas feitas neste ano, o comitê de campanha de Bolsonaro, composto pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), definiu o PT como principal alvo. Até o ano passado, Bolsonaro acreditava que iria rivalizar com Moro, já que eles tendem a disputar o mesmo eleitorado. Após análises mais recentes, contudo, o presidente e seu grupo concluíram que é preciso focar no petista para construir a imagem de que o atual titular do Planalto é o único capaz de derrotar o ex-presidente no segundo turno. Moro é objeto de críticas pontuais do presidente, na maioria das vezes para rebater acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça. A estratégia de Bolsonaro, adotada tanto em discursos oficiais quanto nas redes sociais, também passa por ridicularizar a terceira via como uma alternativa viável na disputa. Ele também costuma expor aliados históricos de Lula que estiveram envolvidos em escândalos de corrupção ou enfrentaram forte rejeição popular.
— Alguém acha que, se o cara voltar, José Dirceu não vai para a Casa Civil? Dilma (Rousseff) para o ministério da Defesa? É Defesa, né, já que ela é mandona. E é uma arma poderosa, vamos dizer assim — disse o presidente no final de janeiro.
Na raia da terceira via, onde estão os pré-candidatos que trabalham para tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno, o tiroteio tem sido mais intenso. Nos últimos dias, Ciro Gomes, que não poupa Bolsonaro e Lula, concentrou a maior parte dos ataques em Moro, em vídeos publicados diariamente nos quais rebate falas de diversos oponentes de forma descontraída nas suas redes sociais. O quadro ganhou o nome de “React do Cirão” e tem o intuito de atrair o público jovem. Após o ex-juiz divulgar que recebeu mais de R$ 3,5 milhões da consultoria Alvarez & Marsal, Ciro passou a explorar o episódio com a hashtag “#OsMilhõesDeSergioMoro”. Em uma série de postagens, o pedetista comparou quantos anos outros profissionais, como motoristas de aplicativo, professores e policiais, teriam que trabalhar para ganhar o mesmo que o ex-juiz recebeu em 11 meses.
Nas últimas pesquisas, o desempenho de Ciro oscila entre 5% e 7%, numericamente atrás de Moro, que costuma obter de 6% a 9%, de acordo com levantamentos do Datafolha e Ipec. O alvo preferencial é escolhido em conjunto pelo candidato, os analistas políticos e o marqueteiro da campanha, com base nas pesquisas. Normalmente, mira-se em quem está ao lado ou acima, dificilmente nos adversários abaixo, exceto quando estão em ascendência.
Moro chegou a responder a Ciro em algumas ocasiões, mas seu foco tem sido o ex-presidente Lula, principalmente, e Bolsonaro. O ex-juiz vem batendo firme no caso das rachadinhas, suposto esquema pelo qual Flávio e Carlos Bolsonaro são suspeitos de recolher parte dos salários de ex-funcionários de seus gabinetes. O tema é sensível para o presidente por envolver familiares e por botar em xeque seu discurso anticorrupção, que ajudou a elegê-lo quatro anos atrás. Em entrevista à rádio “Canoa FM”, Moro disse quem são seus alvos recorrentes:
— Não tenho problema nenhum em debater com Ciro, mas eu vejo hoje que os adversários são Lula e Bolsonaro. É com eles que a gente tem que se preocupar.
João Doria vem dando preferência à divulgação dos compromissos de sua gestão, evitando embates com os rivais. A decisão é calculada. Pesquisas nas mãos do PSDB indicaram que seu pré-candidato precisa evitar atritos para não piorar sua imagem. Ainda assim, quando questionado sobre a possível aliança de Lula e um de seus antigos correligionários, Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo tem dito que vai enfrentá-los.