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sexta-feira 3 de janeiro de 2025 às 16:01h

Conheça as duas Capitais Europeias da Cultura de 2025

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O que a estátua de Karl Marx faz em Chemnitz, na Alemanha? E por que Nova Gorica/Gorizia é considerada a última cidade dividida da Europa? Ambas terão um programa especial de eventos neste ano.Trata-se de um dos maiores bustos do mundo e provavelmente o marco mais conhecido de Chemnitz: o monumento a Karl Marx. Desde 1971, a cabeça gigante do filósofo e sociólogo adorna o centro da cidade alemã. Originalmente, pensava-se em fazer uma escultura de corpo inteiro com 11 metros de altura. A ideia, no entanto, foi rapidamente descartada. “Karl Marx não precisa de pernas ou mãos; sua cabeça diz tudo”, teria dito o escultor soviético Lev Kerbel, que acabou por moldar um crânio de 40 toneladas. E foi assim que a cidade ao redor do busto de Karl Marx foi apelidada “local do crânio”.

Mas o que Karl Marx tem a ver com Chemnitz? Bem, pessoalmente, não muito. Ele nasceu em Trier, na fronteira com Luxemburgo, e morreu em Londres, na Inglaterra – bem no Ocidente, portanto. Chemnitz, que durante a Guerra Fria ficava na Alemanha Oriental, nunca recebeu nenhuma visita do teórico alemão. Mas, para o regime comunista, a conexão biográfica do grande pensador com a cidade não era um pré-requisito relevante para a nomeação – e assim Chemnitz foi rebatizada como Karl-Marx-Stadt (Cidade de Karl Marx). Otto Grotewohl, primeiro-ministro da República Democrática da Alemanha (RDA), justificou a medida com a forte tradição do movimento trabalhista. Aos olhos do regime da época, a cidade era um modelo de socialismo.

Chemnitz, situada na fronteira com a República Tcheca, realmente era um exemplo de cidade industrial e trabalhista muito antes da fundação da RDA. As indústrias têxtil, de engenharia mecânica, ferroviária e automotiva eram fortes no local, e a mineração nas montanhas de Erzgebirge também contribuiu para fazer da região um polo econômico. Não foi à toa que Chemnitz ficou popularmente conhecida como a “Manchester da Saxônia”, em alusão à cidade industrial inglesa.

Com o colapso dos regimes comunistas no leste europeu, a Cidade de Karl Mark passou não apenas por uma mudança estrutural, mas também por uma mudança de nome. Por meio de votação, 76% dos residentes votaram pela volta do nome antigo. Chemnitz vem do idioma sorábio e pode ser traduzido como “pedra” – uma referência à região mineradora ao redor da cidade.

Ao contrário de Leipzig, Dresden e Berlim (Oriental), Chemnitz tem tido uma existência um tanto sombria em termos de fama e popularidade desde a reunificação alemã. Em 2018, no entanto, a cidade virou manchete no país inteiro. O estopim foi a morte violenta de um cubano-alemão, desencadeando tanto protestos espontâneos de cidadãos contra o racismo e a violência,, quanto marchas xenófobas do grupo Pegida e outras iniciativas radicais de direita.

A história da cidade, portanto, é caracterizada por muitas reviravoltas e recomeços – e é justamente isso que faz com que valha a pena conhecê-la.

“C the Unseen” – explorando a diversidade de Chemnitz

Em 2025, Chemnitz, na Saxônia, ao lado das regiões vizinhas de Zwickau e as montanhas de Erzgebirge, será a Capital Europeia da Cultura. O lema escolhido pelos organizadores foi “C the Unseen” – tornar visível o que até então não era visto ou descoberto. O programa gira em torno de alguns pontos principais, como “Mentalidade do Leste Europeu”, “Vizinhança, respeito, tolerância” e “Democracia, participação, coesão social”.

Um dos destaques é o Projeto 3.000 Garagens: na época da RDA, foram construídas garagens por toda a cidade. Eram espaços não só para o estacionamento de carros, como também para encontros sociais ou retiros particulares. As histórias individuais dos proprietários dessas garagens, que podem ser vistas na exposição de retratos #3000Garagen, contam sobre a vida na antiga Karl-Marx-Stadt e as revoltas após 1989.

Nova Gorica, Gorizia, Görz – três nomes para o mesmo local

Uma das novidades na tradição das Capitais Europeias da Cultura é dois lugares aparecerem juntos como capitais culturais – e, ainda assim, cada um deles como uma cidade separada. Por trás disso está a história da última cidade dividida na Europa, hoje Nova Gorica, na Eslovênia, e Gorizia, na Itália.

Fundada por volta do ano 1000, a cidade era o lar dos condes de Görz, dinastia governante que era uma das mais importantes da região alpina do sul. Mais tarde, os Habsburgos governaram o local, que na época ainda levava o nome de Görz. Tratava-se de uma cidade vibrante e cosmopolita, onde se falava esloveno, italiano e alemão. Após a Primeira Guerra Mundial e a queda da monarquia de Habsburgo, Görz se tornou italiana e recebeu um novo nome: Gorizia. A população eslovena foi assimilada e a diversidade cultural da cidade ficou para a história.

Após a Segunda Guerra Mundial, os mapas foram redesenhados: as potências vitoriosas traçaram novas fronteiras nacionais bem no centro da cidade. Embora a maior parte dela tenha permanecido italiana, Josip Broz Tito, o chefe de Estado da Iugoslávia, à qual a atual Eslovênia pertencia na época, reivindicou sua parte da área urbana e construiu Nova Gorica no prado verde ao lado. Era uma cidade planejada, moderna e funcional.

A fronteira entre a eslovena Nova Gorica e a italiana Gorizia foi então cimentada. Famílias foram separadas e terras foram redistribuídas, fomentando também a desconfiança em ambos os lados. Era a Guerra Fria entre o Leste e o Oeste numa pequena cidade – entre supostos fascistas e supostos comunistas.

Mesmo após a queda da Cortina de Ferro, a fronteira permaneceu em vigor por mais 16 anos. Somente em 2004, quando a Eslovênia se tornou membro da União Europeia e, depois em 2007, quando o país aderiu ao Espaço Schengen, que ambas as cidades puderam trabalhar na construção de uma história compartilhada, que alcançará um ponto alto em 2025. No ano que vem, a última cidade dividida da Europa será homenageada com o título de Capital da Cultura.

“Sem fronteiras” entre o Oriente e o Ocidente

Apesar de as fronteiras já terem desaparecido, a arquitetura ainda revela algo sobre a história deste local fascinante: no lado italiano, um centro com fachadas decoradas em estuque; no lado esloveno, prédios pré-fabricados da era socialista. A natureza de tirar o fôlego, por outro lado, não foi afetada pela divisão – ela é única tanto em Nova Gorica quanto em Gorizia. O rio Soča, de cor azul-turquesa, o verde do Vale Vipava e a Ponte Solkan – a maior ponte ferroviária de pedra em forma de arco do mundo – são um convite à contemplação e a uma imersão na natureza.

A praça que antes cimentava a separação passou a simbolizar o vínculo entre as cidades gêmeas. O lema do programa cultural de 2025, “Borderless” (Sem fronteiras), é, portanto, mais do que autoexplicativo: uma cidade é reunificada simbolicamente. Juntas, Nova Gorica e Gorizia se apresentam como a “Capital Europeia da Cultura Sem Fronteiras 2025 ” – algo inédito na história das Capitais da Cultura.

Descobrindo a Europa

O ano de 2025 será o ano de dois lugares que vivenciaram e superaram muitas transformações ao longo da história. Eles são únicos, inovadores, multifacetados e merecem uma visita. E esse é exatamente o objetivo do programa Capitais Europeias da Cultura, lançado em 1985 por iniciativa da então ministra da Cultura da Grécia, Melina Mercouri: promover a diversidade cultural na Europa e, ao mesmo tempo, os pontos em comum das culturas europeias e um senso de pertencimento europeu.

Chemnitz é a quarta cidade da Alemanha a ser homenageada com o título de Capital Europeia da Cultura. Com abertura planejada para 18 de janeiro, a programação consiste em cerca de 150 projetos e mil eventos, que podem ser conferidos num livro com mais de 400 páginas. Já a abertura em Nova Goriza/Gorizia está planejada para 8 de fevereiro. O programa começará com um desfile da estação de trem de Gorizia até a de Nova Gorica.

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