Em atividade há 80 anos, o advogado Hermano de Villemor Amaral Filho, OAB 3099-RJ, completa 103 anos nesta terça-feira (11). Apontado como um dos mais longevos advogados do País em exercício, ele segue trabalhando nos processos de sua banca e aconselhando, com sua larga experiência, o elenco de profissionais do Villemor Amaral Advogados – escritório fundado pelo pai em 1909 e que reúne mais de 300 bacharéis, 70% mulheres.
Nesta quarta (12) ele será homenageado no Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), no Rio.
Quando Hermano de Villemor Amaral, o pai de Villemor, inaugurou o escritório à Rua do Carmo, 51, o País era presidido por Afonso Pena – com sua morte, Nilo Peçanha assume a Presidência.
Formado em 1908 na Faculdade de Sciências Jurídicas e Sociais do Rio, doutor Hermano abriu uma sala, no ano seguinte. Pujantes sociedades de advogados ainda não existiam. Eram os tempos da tinta e do mata-borrão. As ações eram preenchidas à mão, data máxima vênia.
Villemor, aos 103, é um dos mais antigos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio, onde ingressou em 1937. Diplomou-se em 1945. O curso se chamava Pré-Jurídico da Faculdade Nacional de Direito – hoje UFRJ.
Assista:
Sua primeira função no escritório do pai foi aprender a reconhecer firmas, ainda na faculdade. O pai só o associou ao escritório em 1945.
Oitenta anos depois, adaptado aos computadores e às atualizações da legislação, se dispõe a contar alguns segredos da longa carreira. “Inovação, rigor ético e muito respeito ao Judiciário.”
“Eu trabalho com computadores há duas décadas, mas sigo sendo um aprendiz. No começo, eu era um fanático: aderi à modernidade. O computador facilitou a vida de todo mundo. Principalmente a do advogado, pela capacidade de reunir informação”, diz.
Villemor Filho destaca que, além das revistas especializadas, busca sempre se atualizar nos sites jurídicos e relatórios online. “A legislação muda constantemente, é uma grande necessidade a atualização”, anota.O veterano causídico conta que já foi considerado ‘muito moderno’ porque datilografava com agilidade as ações com papel carbono no escritório fundado pelo pai. “Na verdade, minha caligrafia é tão ruim que nem eu entendo o que escrevo. Então, quando surgiu a máquina, eu tinha que me tornar um exímio datilógrafo”, diz.
Ele explica que seguiu rápido na ‘novidade da digitação’ e na capacidade de atualização em tempo real das informações pelos computadores.
‘Levar a profissão a sério’
O centenário advogado explica que, além de estimular a inovação no escritório, segue à risca a tradição do pai, adotando antigos valores que, em seu entendimento, dão credibilidade à classe.
“A profissão do advogado é muito exigente em matéria de ética”, ensina. “Os advogados importantes seguem os conselhos em vigor. Eu quero ser sempre lembrado como um colega ético.”Villemor Filho insiste em uma orientação especial: a importância do respeito ao Código de Ética da OAB. “Os grandes da profissão sempre seguem esses valores.”
Quando assumiu o escritório do pai, criou um slogan. ‘Honestidade, zelo e competência.’
Sua recomendação aos advogados. “A nossa profissão é muito exigente em matéria de ética. O segredo que eu tento sempre ensinar é a ética e o respeito ao Judiciário. É preciso sempre acreditar na imparcialidade do Judiciário.”
E qual é o segredo da longevidade, doutor? “Há um livro sobre nosso escritório cujo título é ‘Continuamos…’ , com a história de três gerações, baseada na ética. A minha vida foi, toda ela, dedicada ao trabalho profissional. Hoje, espontaneamente, eu sigo trabalhando.”
Dedica-se também aos estagiários. A eles transmite ‘o que há de bom no exercício da profissão’.
Sua mensagem, reitera, é ‘levar a profissão a sério, não vacilar’.
Viúvo desde 1981, tem dois filhos. Hermano de Villemor Amaral Neto, que segue os passos do pai e se dedica ao Direito Comercial. É sócio da banca. E Maria Cecília Combacau de Villemor Amaral Chauveau.
Dois netos – Hermano de Villemor Amaral, que cursa Direito, e Phelippe de Villemor Amaral Chauveau.
Doutor Villemor Amaral Filho vive no Jardim Botânico com Deolinda Costa Purificación, de 91 anos.
Segue uma rotina rígida no escritório, atualmente em Ipanema, com instalações também em São Paulo, na Vila Olímpia.
Faz check-up anualmente. Desde os 75 anos passa pelo médico com mais frequência.
Esbanja bom humor, conta anedotas. Como aquela do médico que lhe pergunta ‘como o sr. está?’.
“Não posso dizer porque estarei exercendo ilegalmente uma profissão…”
Adora um Dry Martini, uma bebida alcoólica que é uma mistura de gin e vermute seco, normalmente utilizando a proporção de seis para um (seis partes de gin para uma de vermute) em sua receita clássica, e servido em taça cocktail. “Rainha Elizabeth II também fazia o mesmo e por isso viveu tanto”, acredita – a monarca britânica, mais longeva da história, morreu aos 96, em setembro de 2022. Sente-se confortável quando orienta estagiários do escritório, É seu hábito questionar o filho, Hermano, se todos os mais de 300 advogados do escritório tiveram seus honorários pagos em dia, ‘se as contas estão certas’.
Ele faz uso de dois computadores.
À mesa, serve-se de tudo, exceto leite, não gosta.