Desde o começo do ano, o executivo gaúcho Felipe Costa passa boa parte do tempo na cozinha e na lavanderia. Sempre com o celular na mão, abre e fecha a geladeira, aciona o micro-ondas, aquece o forno elétrico, liga e desliga a máquina de lavar, ajusta a temperatura da adega climatizada… E tudo isso é trabalho. Como CEO da Midea Carrier para a região Brasil, Argentina e Chile, o engenheiro mecânico que começou a carreira como estagiário da americana Springer do Brasil em 1989 tem se especializado cada vez mais em eletrodomésticos e conectividade. Isso porque a companhia, líder do segmento de ar-condicionado no País, com 25% de participação de mercado no segmento residencial e com fatia 35% na área corporativa, segundo a associação Eletros, está investindo cerca de R$ 1 bilhão neste ano para mergulhar no setor de equipamentos residenciais. Metade desse recurso garantiu, em março, a abertura de uma fábrica de refrigeradores na cidade mineira de Pouso Alegre, a terceira por aqui, junto das unidades de Manaus e Canoas, no Rio Grande do Sul. “O Brasil se tornou prioridade do grupo para receber investimentos”, disse o CEO à revista ISTO É Dinheiro. “Em cinco anos, seremos uma das três maiores marcas no segmento de eletrodomésticos no País”, afirmou.
A convicção e a confiança do executivo são sustentadas pela performance da companhia no varejo brasileiro. Com faturamento de R$ 3,3 bilhões no ano passado — crescimento de 15% sobre 2020 —, a Midea multiplicou por sete suas vendas no País entre 2018 e 2021. A meta definida pela matriz da joint venture sino- -americana (o capital é formado por 51% da chinesa Midea e 49% da americana Carrier) é crescer no Brasil pelo menos 30% ao ano até 2026, segundo Costa. Para isso, novos combos de investimento — além do bilhão da atual fase um — serão definidos. “O objetivo da empresa é claro: triplicar de tamanho e replicar a posição de liderança em ar-condicionado também nas demais frentes de negócios”, disse.
O core da estratégia da empresa não é encher as prateleiras com novos eletrodomésticos ou se tornar estrela dos programas da Polishop ou do Shoptime. O plano é atrair o consumidor pelas inovações em conectividade, principalmente. A maioria dos novos equipamentos da marca pode ser acionada e controlada pelo aplicativo do smartphone, de forma presencial ou a distância. Assim, basta o celular na mão para definir a temperatura da casa, a potência da geladeira ou o tempo de funcionamento do aspirador robô. Tudo pelo app MSmartHome. “O grande diferencial dessa ofensiva em lançamento de produtos é a alta tecnologia embarcada e as soluções possíveis com a conectividade.”
No começo do ano, a Midea decidiu montar e equipar uma mansão em Ilhabela, no litoral paulista, com todos os produtos do novo portfólio da companhia. Chamada de Casa Surpreendente, o local se tornou uma espécie de showroom para demonstração das tecnologias a convidados, artistas, influenciadores digitais e potenciais clientes.
primeiro passo, segundo Costa, é ampliar ao máximo na nacionalização dos produtos oferecidos no Brasil. Em dois anos, a empresa dobrou a participação de itens fabricados nacionalmente. Hoje, 85% de tudo que é vendido por aqui sai das fábricas de Manaus, Canoas e Pouso Alegre. Os demais 15% que entram via porto de Itajaí (SC), onde a companhia opera um megacentro de distribuição, que deve ser proporcionalmente reduzido, ano após ano.
O segundo pilar da estratégia de fortalecimento da marca será o pós-venda. Além de oferecer dez anos de garantia em produtos como compressores e motores, a Midea quer utilizar toda a capilaridade de estrutura da assistência técnica já disponível para os aparelhos de ar-condicionado e atender aos demais produtos. A terceira frente do plano é se consolidar, cada vez mais, como empresa de tecnologia, não apenas uma fabricante de eletrodomésticos.
SEGMENTAÇÃO
A execução do plano passa pela segmentação. Desde 2016, a marca japonesa Toshiba está sob o comando da Midea Carrier. A companhia, no Brasil e no mundo, pretende posicioná-la como uma grife no segmento premium de eletrodomésticos. Assim, a marca Midea deve se posicionar no mercado intermediário e a Comfee na faixa mais popular. “Na China, o grupo já é visto pelo consumidor com uma companhia de tecnologia, que tem escala de produção e, ao mesmo tempo, produtos de ponta”, disse o CEO.
A julgar pelo empenho da Midea Carrier em buscar novos ares, parecer boa, aquecer os negócios e se tornar top três no segmento de eletrodomésticos no País não serão um problema.