terça-feira 19 de novembro de 2024
Foto: Pedro França/Agência Senado
Home / DESTAQUE / Congresso prepara nova lei para afrouxar fiscalização do Fundo Eleitoral
quinta-feira 5 de agosto de 2021 às 09:48h

Congresso prepara nova lei para afrouxar fiscalização do Fundo Eleitoral

DESTAQUE, NOTÍCIAS


Sem alarde conforme o portal Uol, o Congresso Nacional se prepara, nos bastidores, para aprovar um projeto de lei para afrouxar a fiscalização dos gastos do Fundo Partidário. O texto com o novo Código Eleitoral foi apresentado na terça-feira (3), um dia depois da retomada das atividades parlamentares. Antes do recesso, foi aprovado o aumento do Fundo Eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões. .

O projeto é de autoria da senadora Soraya Santos (PL-RJ) e recebe o apoio do Centrão — que, nos bastidores, articula para levar logo o texto para votação em plenário. Enquanto as atenções estão voltadas para as discussões sobre do voto impresso, o grupo político correu por fora para tentar “passar a boiada” do Fundo Eleitoral. Além de ter engordado o cofre, agora quer facilitar o uso do dinheiro.

Em caráter reservado, técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirmaram à coluna que, se o projeto for aprovado, será “inviável” a fiscalização das contas dos partidos e dos candidatos. Isso porque o novo Código Eleitoral extingue o sistema de prestação de contas desenvolvido em 2018 pela Justiça Eleitoral. O sistema tem campos específicos tabulados para o preenchimento dos gastos – como passagens aéreas e eventos.

O projeto de lei determina que a prestação de contas seja feito por meio de um sistema da Receita Federal que é mais genérico. Ele funciona como um livro contábil em que o partido ou o candidato anotam o tipo de gasto que efetuaram. Como não é padronizado, fica inviável para os técnicos da Justiça Eleitoral verificarem todas as movimentações de todos os partidos e candidatos do país.

“O sistema da Receita não é disponível em formato aberto, não tem padronização no preenchimento e, então, o acompanhamento dos gastos partidários pela imprensa, pela sociedade e pela academia ficaria prejudicado”, diz o advogado Marcelo Issa, diretor-executivo do Transparência Partidária, um movimento de entidades dedicadas ao sistema eleitoral brasileiro.

“Na prática, a Justiça Eleitoral ficaria sem condições de fazer a fiscalização adequada dos recursos públicos recebidos pelos partidos”, conclui o advogado.

Brecha para uso do Fundo Eleitoral

O novo Código Eleitoral também abre brecha para que o Fundo Eleitoral seja usado de forma mais flexível. Hoje, a lei traz uma lista de situações que o dinheiro pode ser aplicado. O projeto inclui no texto “outros gastos de interesse partidário, conforme deliberação da executiva do partido político”.

Segundo Issa, esse trecho permitiria, por exemplo, que a legenda gaste dinheiro público com festas de fim de ano regadas a bebida alcoólica, sem que a Justiça Eleitoral possa intervir.

Outro ponto polêmico é a possibilidade de devolução dos recursos públicos usados irregularmente somente em caso de “gravidade”. A inclusão dessa condição deixa a cargo do juiz examinar se a situação é ou não grave – permitindo, na prática, que o partido fique impune.

Em caso de punição com multa, o projeto traz mais uma vantagem para os partidos. Hoje, a lei impõe multa de até 20% sobre gastos considerados irregulares. Segundo o novo Código, a punição seria de, no máximo, R$ 30 mil reais. “Na prática, a punição ficaria insignificante”, afirma Issa.

O projeto ainda traz uma mudança técnica que facilita a vida dos partidos. Hoje, os processos de prestação de contas são jurisdicionais. Eles passariam a ser administrativos. No primeiro caso, os partidos e candidatos têm prazos fixados em lei para apresentarem provas e documentos. No segundo, esses prazos não existem.

Por lei, um processo administrativo dura cinco anos. Ou seja, se os partidos e candidatos não apresentarem documentos nesse prazo, a Justiça ficaria impossibilitada de julgar as contas – o que acarretaria em impunidade para casos de aplicação irregular de recursos públicos.

Mas a flexibilização não para por aí. O projeto de lei quer reduzir de cinco para dois anos o prazo do processos de prestação de contas. Logo, os partidos e candidatos ficariam livres do encalço a Justiça ainda mais cedo – e, diga-se, com mais chances de se livrar de qualquer tipo de punição.

Veja também

Moema Gramacho já demitiu mais de 1,6 mil servidores após derrota de outubro em Lauro de Freitas, diz jornal

A gestão da prefeita Moema Gramacho (PT) demitiu ao menos 1.666 pessoas relacionadas a cargos …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!