Em 1986, no auge do Plano Cruzado, os preços nas prateleiras estavam congelados e a inflação artificialmente controlada. A população esperançosa, em poucos meses a seleção brasileira de Telê Santana disputaria a Copa do México como uma das favoritas e o PMDB, partido do presidente José Sarney, elegeria 22 dos 23 governadores na esteira do então bem-sucedido plano econômico. Enquanto isso, na cidade maranhense de Balsas, naquela época com apenas 23 mil habitantes, Ilson Mateus Rodrigues, com 22 anos, resolveu abrir um armazém.
Com sua história forjada nas calçadas do município de Imperatriz (MA) como engraxate, torneiro mecânico, garimpeiro e vendedor de cachaça, Mateus deu início a uma jornada que mudaria sua vida e a de muitos outros. Em uma modesta mercearia de apenas 50 metros quadrados, ele plantou as sementes de um império. Com uma visão empreendedora aguçada, transformou aquele pequeno estabelecimento em uma das maiores redes de varejo do País.
Em maio deste ano, 38 anos depois, o Grupo Mateus publicou em seu balanço:
• um lucro líquido de R$ 238 milhões nos três primeiros meses do ano,
• enquanto o faturamento do grupo totalizou R$ 7,4 bilhões no período,
• aumentando 25,8% em um ano.
Hoje, o grupo tem:
• mais de 40 mil funcionários,
• 261 lojas,
• e valor de mercado de R$ 17,7 bilhões.
Ilson Mateus, que poderia ir descansar, desafia a crise do varejo e cresce cada dia mais. Foram três novas lojas somente em 2024, somadas às 20 abertas em 2023.
Os números surpreenderam até gente grande do mercado financeiro.
• Os analistas do Itaú BBA afirmaram que os resultados da empresa ficaram acima das projeções da equipe, destacando a eficiência do atacarejo, que melhorou 33% em um ano, e do crescimento das vendas. Outro ponto destacado foi a margem bruta, que aumentou três pontos percentuais, para 22,3%. “Os investidores estavam céticos em relação aos resultados, considerando os desafios fiscais para o ano”, afirmou o relatório do BBA.
• Os economistas da Genial Investimentos destacaram a consolidação com o maior indicador de vendas mesmas lojas (crescimento orgânico) do segmento no trimestre.
• A Genial destacou ainda que o fim das subvenções governamentais para implementação de empresas na região Nordeste implicou em um aumento de impostos (ICMS) que pressionou os resultados finais.
• Para o economista e sócio da Corano Capital, Bruno Corano, a varejista vem fazendo a lição de casa de forma “surpreendente.” Segundo ele, a empresa tem sido capaz de expandir de uma maneira muito rápida e, ainda assim, conseguindo controlar o nível tanto de endividamento quanto de margens operacionais. “Recentemente o Grupo Mateus teve o desafio de readequar as margens, impactado por mudanças fiscais. E isso foi feito rapidamente. Os números demonstram isso”, completou. Corano acredita que, passada essa fase de expansão aguda, os números devem ser ainda melhores.
40 mil funcionários distribuídos pelas lojas do grupo nas mais de 100 cidades que atua
262 lojas em operação pelo país, concentradas nas regiões norte e nordeste
R$ 17,7 bilhões é o valor de mercado da companhia na b3 de acordo com a cotação em maio
SETOR
Recentemente o varejo supermercadista estava com dificuldades de aumentar sua lucratividade devido à deflação no preço dos alimentos. Nos últimos meses, com a retomada da inflação nesse segmento, o aumento dos preços voltou a dar impulso no crescimento das empresas do setor.
O vice-presidente comercial do Grupo Mateus, Sandro Oliveira, afirmou que, de fato, o setor vive um momento desafiador, mas com base em uma estratégia sólida de ocupação de espaços, ganho de relevância com fornecedores, e de apostar no que se faz melhor — que é a entrega de serviços nas lojas — o grupo está conseguindo crescer e com sustentação. “E a gente segue focado no Norte e Nordeste, ainda tem muito trabalho por aqui e a gente tem uma oportunidade muito grande para ampliar nosso ganho de relevância.”
Segundo relatório do BTG Pactual sobre o segmento, o faturamento das operações alimentícias dos grandes grupos, como Assaí, Carrefour Brasil, GPA e Grupo Mateus, cresceu impulsionados pela inflação dos alimentos, uma tendência que os analistas acreditam que deve persistir nos próximos trimestres. “Embora os varejistas de alimentos fossem quase sempre vistos como opções para investidores em busca de valor, o aumento da alavancagem das empresas nos últimos anos e o cenário volátil para a inflação trouxeram riscos adicionais ao segmento”, salientou o relatório.
No geral, espera-se que a inflação global se estabilize nos próximos trimestres, com a inflação de alimentos ligeiramente mais baixa no curto e médio prazos. Enquanto isso, os volumes das mercearias pararam de cair no final de 2023, até aumentando em alguns mercados. Por fim, o BTG apontou que, embora o setor ainda não seja uma grande aposta devido à concorrência acirrada, margens apertadas e inflação volátil, ainda é possível ver o Grupo Mateus como uma das melhores empresas.