Bomba planadora de longo alcance fornecida por Washington pode fazer a diferença no campo de batalha, destruindo equipamentos russos a cerca de 150 quilômetros de distância. ”GLSDB” é o nome da nova arma que promete permitir ao Exército ucraniano atacar os sistemas armados e as rotas de suprimentos russos muito atrás da linha de frente. A Ground Launched Small Diameter Bomb (bomba de pequeno diâmetro lançada do solo) é uma combinação da bomba planadora ar-terra (SDB), lançada de aeronaves e guiada por GPS, e dos foguetes M26t, que há muito estão fora de uso.
De acordo com o fabricante sueco Saab, a versão mais recente da SDB pode até mesmo atingir alvos em movimento. Com 93 quilos, sua ogiva bastante leve pode penetrar em concreto reforçado com quase um metro de espessura. A Saab e a empresa americana Boeing já haviam testado SDBs em 2015 para permitir que fossem disparadas do solo. Os motores M26 também aumentam o alcance de 110 quilômetros para cerca de 150 quilômetros.
Mais baratas e de emprego imediato
Para lançar uma GLSDB podem ser usados, entre outros, os lançadores múltiplos de foguetes M270 e o Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (Himars), que a Ucrânia já detém. “Portanto, a Ucrânia não precisa treinar mais gente e não precisa fornecer mais sistemas desse tipo”, disse à DW Mychajlo Samus, especialista ucraniano do Centro de Estudos do Exército, Conversão e Desarmamento de Kiev.
A GLSDB também é um projétil relativamente barato, de acordo com Samus. “Afinal de contas, nada precisa ser produzido, apenas duas partes – o motor e a bomba – precisam ser acopladas, e os sistemas de orientação, aprimorados. O preço de uma SDB é de cerca de 40 mil dólares (R$ 200 mil), e os motores M26 estão em estoque”, enfatiza Samus. Em comparação, um míssil de longo alcance ATACMS custa cerca de 1 milhão de euros. Segundo o site da Saab, cerca de 20 mil SDBs foram produzidas desde 2006.
Primeiro uso em condições de combate
A Ucrânia provavelmente será o primeiro país a utilizar GLSDBs em condições de combate. A vice-secretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, confirmou em Kiev, no final de janeiro, que elas já estão sendo fornecidos aos militares ucranianos na linha de frente. Ela disse que o presidente russo, Vladimir Putin, teria “boas surpresas” no campo de batalha e que “a Ucrânia alcançará alguns grandes sucessos este ano”.
Originalmente, as Forças Armadas da Ucrânia esperavam receber as GLSDBs muito antes, depois que os EUA anunciaram, em fevereiro de 2023, que fariam as remessas. O plano era elas chegarem à Ucrânia antes do final de 2023. “Não se trata apenas de uma questão de dinheiro, mas também do tempo necessário para criar a capacidade para produzir essas bombas”, explica Bradley Bowman, diretor sênior do Centro de Poder Militar e Político (CMPP, na sigla em inglês) do think tank Fundação para a Defesa das Democracias (FDD) em Washington. “Além disso, foi necessário realizar testes, que foram bem-sucedidos”, disse ele à DW.
Armas para ataques a equipamentos inimigos
De acordo com os especialistas entrevistados pela DW, as GLSDBs trarão muitas vantagens para a Ucrânia, pois os mísseis têm o dobro do alcance dos sistemas atualmente em uso. Em outono de 2023, o Exército ucraniano recebeu dos EUA os primeiros mísseis ATACMS com alcance de até 160 quilômetros. Mas, segundo especialistas, foi apenas uma pequena quantidade.
“Outros projéteis para lançadores múltiplos de foguetes que a Ucrânia têm podem atingir alvos a cerca de 80 quilômetros”, enfatiza Mychajlo Samus. No entanto, como os sistemas precisam ser colocados a uma grande distância da linha de frente devido à ameaça representada pelos drones russos, eles podem penetrar menos nas áreas ocupadas pela Rússia. Dessa forma, as GLSDBs poderiam mudar a situação no front a favor da Ucrânia, segundo Samus. “Cobriremos o norte da Crimeia, a região de Kherson na margem esquerda do rio Dnipro, toda a região de Zaporíjia e todo o Donbass”.
“Com a ajuda das GLSDBs, o Exército ucraniano poderia atacar alvos muito atrás da linha de frente, tornando mais difícil para os russos abastecerem suas tropas”, diz Bradley Bowman.
“Presumo que os ucranianos estarão interessados em atingir pontos de comando e controle e centros de logística para dificultar o comando e o controle das tropas.” De acordo com Bowman, veículos blindados, tanques e outros equipamentos militares em áreas de grupamento também são considerados alvos importantes.
O especialista militar ucraniano Petro Chernyk supõe que o equipamento dos russos será o principal alvo das GLSDBs. “É preciso observar a relação de custo. É melhor atingir equipamentos caros, e há muitos alvos desse tipo: sistemas de defesa aérea Tor-M2 e S-300, vários veículos blindados, sistemas de guerra eletrônica, alguns dos quais custam até 200 milhões de dólares”, diz ele em entrevista à DW, enfatizando que a Ucrânia precisa de milhares de GLSDBs.
“A Federação Russa tem 2,8 mil tanques somente na linha de batalha. Há cerca de 7 mil veículos blindados, aproximadamente 7 mil peças de artilharia e centenas de sistemas de defesa aérea”, diz o especialista militar.
Não há informações sobre quantos GLSDBs a Ucrânia receberá. Petro Chernyk supõe que, por enquanto, sejam apenas algumas dezenas.
“Essa é uma quantidade pequena, qualquer coisa até 100 é suficiente, mas não é muito”.
Chernyk estima que somente em novembro os russos tenham lançado cerca de 1.100 bombas pesadas guiadas sobre a Ucrânia.