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segunda-feira 6 de julho de 2020 às 14:15h

Como o mercado chinês está ganhando terreno no mapa global de IPOs

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Os papéis da chinesa SMIC fecharam o pregão desta segunda-feira, 6 de junho, na Bolsa de Hong Kong, em alta de 20,6%. Por trás desse rali, está uma nova oferta de ações da fabricante de semicondutores, dentro do segmento conhecido na bolsa de Xangai como STAR, conhecida como a Nasdaq chinesa, voltada a empresas de inovação e tecnologia.

No processo, a SMIC, que cancelou sua listagem na Bolsa de Nova York em 2019 conforme o NeoFeed, quer levantar US$ 6,55 bilhões. Além de configurar a maior captação global em 2020, a oferta fortalece o mercado de capitais chinês como um porto cada vez mais seguro e rentável para as empresas da Grande Muralha.

Não faltam números para traduzir esse movimento. Segundo a consultoria EY, sob o impacto da Covid-19, foram 412 IPOs em todo o mundo no primeiro semestre, um recuo de 20% comparado a igual período, em 2019. Nesse intervalo, o volume captado caiu 12%, para US$ 66,7 bilhões.

Nesse cenário, o mercado de capitais da China foi o que menos sofreu. As bolsas locais responderam por 43% das aberturas de capitais e por 46% do total captado nesse intervalo. O volume de IPOs cresceu 88%, enquanto os recursos captados registraram um salto de 132%.

Para o segundo semestre, a perspectiva é de que esses números ganhem novo impulso. Até meados de junho, havia 632 empresas na fila de espera para abrir capital nas bolsas locais. Somente no segmento STAR, eram 194 companhias nesse status.

“No segundo trimestre, as atividades de IPO na China continental e Hong Kong voltaram ao nível pré-Covid-19, uma vez que a pandemia foi controlada na China continental”, escreveu, no relatório, Terence Ho, head de IPO da EY na China.

“O governo chinês segue lançando estímulos econômicos, enquanto o Banco Popular da China continua a fornecer liquidez ao mercado, o que deve ajudar a acelerar a recuperação econômica e impulsionar as perspectivas do mercado de IPO para o segundo semestre.”, acrescentou Ho.

O cenário não se restringe a esses indicadores. Mas também no que diz respeito ao CSI 300, principal índice das bolsas de Xangai e de Hong Kong, que acumula um ganho de 14% em 2020. No mesmo período, para efeito de comparação, o S&P 500 recuou mais de 3% e o Stoxx 600, índice europeu, registra uma queda de quase 13%.

Disputa

Mais que um simples reforço no mercado doméstico, esses números são resultado da combinação de duas correntes. De um lado, as empresas chinesas encontram um ambiente cada vez mais hostil no mercado de capitais dos Estados Unidos, como reflexo da disputa comercial entre os dois países.

Em maio, por exemplo, a Nasdaq começou a estabelecer restrições nas regras para companhias estrangeiras listarem suas ofertas, que deve ser de no mínimo um quarto do valor de mercado da listagem ou de US$ 25 milhões.

A bolsa americana estabeleceu também padrões mais rígidos de governança corporativa. Por mais que as medidas fossem gerais, a decisão foi vista como uma maneira de ampliar as barreiras para as companhias chinesas.

Os novos parâmetros foram impulsionados pelo escândalo da Luckin Coffee, espécie de Starbucks chinesa, que forjou indicadores de vendas em 2019 e recebeu notificação de deslistagem da Nasdaq também em maio.

Outro fator foi a aprovação, pelo Senado americano, de uma proposta que obriga as companhias internacionais a adotarem padrões locais de auditoria e outras regulamentações financeiras. Essas determinações ainda dependem do aval da Câmara dos Representantes e da assinatura do presidente Donald Trump.

Em um contraponto a essa ofensiva, há uma série de medidas recentes implementadas pela China para flexibilizar e facilitar o acesso ao mercado de capitais local. Entre outras questões, o governo chinês decidiu, em março, que a decisão de vetar ou não um IPO cabe às bolsas de Xangai e de Shenzhen, e não mais ao órgão regulador chinês.

Ao mesmo tempo, o país vive um contexto de baixas taxas de juros, que está ampliando a busca dos chineses pelos investimentos em ações. Essa procura também está sendo alimentada pelas mídias estatais. Em editorial publicado nesta segunda-feira, por exemplo, o China Securities Journal defendeu que, no pós-Covid-19, um mercado de capitais saudável é mais importante do que nunca.

Diante desse cenário, algumas empresas de peso vêm tomando o caminho de volta para casa. Entre os casos mais recentes, estão a JD.com, gigante do e-commerce local, que, listada na Nasdaq, realizou um follow on, em junho, na Bolsa de Hong Kong, e captou US$ 3,9 bilhões.

Outra companhia listada na Nasdaq a seguir esse roteiro foi a NetEase, de games, que levantou US$ 2,7 bilhões em uma oferta subsequente, também em junho. No ano passado, outro gigante chinês, o Alibaba já havia investido no mesmo processo.

Entre as empresas que prepararam novos IPOs está a JD Digits, braço de ofertas financeiras da JD.com. Avaliada em 133 bilhões de yuans (US$ 18,8 bilhões), a fintech deve abrir capital por meio de uma oferta no segmento STAR, da Bolsa de Xangai.

Segundo o portal americano Crunchbase, desde 2018, 50 empresas chinesas abriram capital nos Estados Unidos. Em 2020, foram dez processos até o momento, sendo que, boa parte deles, aconteceu antes da pandemia e das novas regras impostas às companhias estrangeiras.

Mesmo diante do ambiente mais hostil, há empresas chinesas que seguem se arriscando a superar essa fronteira. É o caso da Agora, dona de uma plataforma de desenvolvimento de recursos de comunicação por voz, vídeo e mensagens. A empresa captou US$ 350 milhões em seu IPO na Nasdaq, há duas semanas.

No início de junho, a Dada, plataforma de e-commerce e de delivery de alimentos, foi avaliada em US 3,5 bilhões, ao arrecadar US$ 320 milhões, também na Nasdaq.

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