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As moedas da Colômbia e do México foram as mais fortes na América Latina até agora em 2023 - Foto: Getty Images
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terça-feira 15 de agosto de 2023 às 20:30h

Como moedas de México e Colômbia se tornaram as mais fortes da América Latina

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As moedas do México e da Colômbia tiveram, até agora, um extraordinário ano de 2023.

Tanto o peso mexicano quanto o colombiano têm mostrado um contínuo fortalecimento em relação ao dólar, consolidando-se como as moedas mais robustas entre as principais economias latino-americanas neste ano.

O peso mexicano teve uma valorização de 16%, e foi cotado a 16.999 pesos por dólar em 14 de agosto, conforme dados da agência Bloomberg.

No mesmo período, o peso colombiano alcançou o patamar de 3.963 pesos por dólar, exibindo uma valorização ainda mais substancial, de 19%.

Em termos de ranking entre as moedas latino-americanas, tanto o peso colombiano quanto o mexicano estão liderando as posições, ocupando o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, no índice Bloomberg.

Esse índice é amplamente reconhecido como uma medida confiável para avaliar o desempenho das moedas de países emergentes.

Em um levantamento publicado no início de agosto, a Bloomberg aponta que, no Brasil, o real subiu 9,77% em relação ao dólar. Isso coloca o país entre os que tiveram maior variação, mas atrás de México e Colômbia.

No México, a recente estabilidade da moeda local levou alguns veículos de comunicação e indivíduos nas redes sociais a apelidá-la carinhosamente de “superpeso”.

Apesar da aparente vantagem de possuir uma moeda forte, a realidade é mais complexa.

Os mercados cambiais têm sido afetados por considerável volatilidade ao longo do último ano, influenciados por diversos fatores.

Um dos principais catalisadores é o aumento das taxas de juros em âmbito global, particularmente aquelas definidas pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.

Tanto o México quanto a Colômbia foram beneficiados pela melhoria das perspectivas econômicas globais.

Embora muitos analistas tenham inicialmente previsto uma possível recessão devido à pressão dos bancos centrais para conter a inflação, essas preocupações estão gradativamente se dissipando nos mercados.

Esse cenário tem resultado em um aumento no preço do petróleo, uma valiosa commodity que ambos os países exportam e que gera consideráveis receitas em dólares, contribuindo para a estabilização das taxas de câmbio.

Entretanto, é importante ressaltar que o desempenho das moedas mexicana e colombiana também está influenciado por fatores internos.

Embora elas tenham seguido trajetórias ascendentes semelhantes, suas valorizações são moldadas por diferentes circunstâncias e dinâmicas econômicas.

Peso mexicano: por que subiu tanto?

Elijah Oliveros-Rosen, analista responsável pela América Latina na agência de avaliação de risco Standard & Poor’s, compartilhou com a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, a seguinte avaliação:

“O México encontra-se em uma posição mais vantajosa em comparação com outros países emergentes, uma vez que, ao contrário destes últimos, sua situação fiscal não sofreu uma deterioração substancial durante a crise da pandemia de covid-19”.

O comprometimento com a estabilidade fiscal, uma prioridade destacada pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, desempenhou um papel fundamental na valorização do peso mexicano, segundo analistas.

O fenômeno conhecido como “nearshoring”, no qual muitas empresas estão transferindo suas atividades terceirizadas para países vizinhos após a pandemia, abriu uma nova janela de oportunidades para o México, permitindo-lhe aproveitar sua proximidade geográfica com a maior economia do mundo nos próximos anos.

“Uma expectativa global foi gerada, indicando que o México atrairá fluxos substanciais de investimentos nos anos vindouros, algo que sempre exerce impacto sobre as taxas de câmbio”, explica Oliveros-Rosen.

O aumento das remessas em dólares enviadas por emigrantes mexicanos, principalmente dos Estados Unidos, também elevou o valor do peso.

Segundo dados do Banco de México (Banco do México), em maio passado chegaram a US$ 5,7 bilhões, batendo o recorde registrado até agora.

Isso aumenta a demanda por pesos mexicanos, aumentando a quantidade de dólares em circulação que se deseja trocar pela moeda local.

Peso colombiano: por que subiu tanto?

As razões da ascensão do peso colombiano parecem ser menos robustas e mais circunstanciais.

Analistas apontam que a notável recuperação do peso colombiano é, em grande parte, resultado da significativa queda que havia experimentado em períodos anteriores.

Oliveros-Rosen lembra que “o peso colombiano foi uma das moedas que mais sofreu com os impactos da pandemia de covid-19, e desde então não conseguiu recuperar completamente seu valor”.

Historicamente, o peso colombiano tem demonstrado alta sensibilidade às flutuações do dólar, resultando em uma tendência de queda de seu valor durante períodos de fortalecimento da moeda dos EUA, e vice-versa.

Recentemente, também houve um paradoxo que não passou despercebido pelos analistas.

“Observamos que as dificuldades políticas enfrentadas por Gustavo Petro resultaram em vantagens para o peso colombiano”, diz Oliveros-Rosen.

O presidente da Colômbia havia se comprometido a implementar reformas ambiciosas no sistema de saúde, pensões e leis trabalhistas.

Entretanto, após um ano de seu mandato, esses planos parecem estagnados devido à incapacidade de avançar com sua agenda no Congresso e a presença de escândalos, como o envolvimento de seu filho, Nicolás Petro Burgos, em casos de corrupção.

“O mercado percebeu que tais reformas teriam um considerável impacto fiscal, e agora está refletindo a possibilidade de sua não realização, o que fortalece a confiança na moeda colombiana”, explica Oliveros-Rosen.

No entanto, especialistas acreditam que o peso colombiano não manterá sua alta cotação em relação ao dólar por muito tempo.

Standard & Poor’s espera que ambas as moedas comecem a cair em breve. Se sua previsão estiver correta, o peso colombiano terá uma queda mais acentuada devido à menor solidez fiscal da Colômbia e à incerteza política no país.

Por que moeda forte nem sempre é boa notícia

Em muitos países da América Latina, a memória das crises financeiras que resultaram em uma drástica depreciação de suas moedas ainda está fresca. Isso foi evidenciado na Argentina com o “corralito” (medidas econômicas para impedir uma corrida aos bancos) e no México com a chamada “crise da tequila” em 1994.

É por essa razão que uma grande parte da opinião pública acredita que uma moeda mais valorizada é melhor.

De fato, o fortalecimentio da moeda traz consigo vantagens como a preservação do valor das economias expressas naquela moeda. Quando você poupa em uma moeda que se mantém estável ou se valoriza, suas economias mantém ou aumentam de valor.

Além disso, existem outros benefícios, como a capacidade de um país com uma moeda forte de importar bens a preços mais acessíveis.

Com a diminuição dos custos das matérias-primas importadas, os consumidores também se beneficiam, uma vez que os preços finais são mantidos em cheque.

Portanto, uma moeda forte também desempenha um papel crucial ao conter a inflação, um fenômeno que tem sido uma fonte de preocupação para economistas, governos e famílias em todo o mundo nos últimos 18 meses.

Mas nem tudo são vantagens. Economistas apontam efeitos adversos com impacto real na vida das pessoas.

Muitas famílias colombianas e mexicanas que recebem remessas em dólares de seus parentes que emigraram estão testemunhando a perda de valor, resultando em um menor valor em pesos quando realizam a conversão no mercado cambial.

Além disso, empresas e outras entidades produtivas também estão enfrentando desafios.

Enquanto o petróleo e outras matérias-primas energéticas são cotados em dólares nos mercados globais, setores que exportam produtos em troca de pesos, como o setor alimentício, estão observando o aumento dos custos de produção e a redução de competitividade.

“Este cenário é particularmente relevante na Colômbia, onde o presidente Petro optou por reduzir a dependência das exportações de matérias-primas energéticas”, observa Oliveros-Rosen.

A valorização significativa do peso torna a realização desse objetivo um desafio adicional.

No caso do México, isso poderia se tornar um fator dissuasor para os consideráveis investimentos planejados para a fase pós-covid, como resultado do “nearshoring” ou realocação próxima.

A recentemente aprovada Lei de Redução da Inflação, liderada pelo presidente Joe Biden nos Estados Unidos, determina que minerais estratégicos, como lítio ou cobre, essenciais na produção de veículos elétricos, devem predominantemente ser produzidos ou processados em nações que tenham acordos internacionais de livre comércio com Washington, como o México.

Isso apresenta uma oportunidade notável para o México atrair substanciais influxos de investimentos.

Contudo, o aumento dos custos de produção e mão de obra derivado de uma moeda local valorizada pode levar os investidores a buscar alternativas em outros países. Esse cenário já está sendo percebido em diversos elos da cadeia industrial.

De qualquer maneira, a economia é intrinsecamente uma questão de equilíbrio, influenciada por múltiplos fatores. Nos próximos anos, o sucesso do México dependerá da capacidade de oferecer incentivos e garantias suficientes aos investidores, bem como da capacidade de sua indústria gerar bens de valor agregado que compensem o atual alto valor relativo de sua moeda.

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