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sexta-feira 29 de julho de 2022 às 08:08h

Como funcionam as pesquisas eleitorais e por que elas nem sempre acertam resultado final

CURIOSIDADES, ELEIÇÕES 2022, NOTÍCIAS


Como uma pesquisa com duas mil pessoas pode estimar os votos de 156 milhões de eleitores? Como meu candidato aparece atrás nas pesquisas eleitorais se é capaz de arrastar multidões nas ruas? E por que os resultados das urnas nem sempre batem com o que indicavam essas sondagens?

Essas são algumas dúvidas que aparecem com frequência quando uma nova eleição se aproxima e as pesquisas de intenção de voto se multiplicam. É comum o tema gerar desconfiança e questionamentos, ainda mais de quem aparece mal posicionado na corrida eleitoral.

A menos de três meses da eleição, diferentes pesquisas apontam para uma larga vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial. A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na quinta-feira (28/07), mostra o petista com 47% das intenções de voto, seguido do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 29%, e Ciro Gomes (PDT), com 8%. Todos os demais candidatos não superaram 2%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.

Nessa reportagem, a BBC News Brasil esclarece como funcionam as pesquisas eleitorais — como o levantamento do Datafolha — e os critérios rígidos que precisam ser seguidos para que elas consigam de fato captar a intenção de voto dos eleitores. E explica também porque mesmo assim o resultado das urnas pode ser diferente do que indicavam as sondagens. Confira a seguir.

1) A importância da amostra

Ao contrário do que o senso comum pode sugerir, pesquisas eleitorais não servem para prever o resultado da eleição. O objetivo dessas pesquisas é apenas medir a intenção de voto no momento em que são feitas as entrevistas. Como o eleitor pode mudar de ideia até a hora de entrar na cabine de votação, nada garante que uma pesquisa feita meses, semanas, ou mesmo dias antes, terá o mesmo resultado que o computado pela Justiça Eleitoral.

Mas como pesquisas que entrevistam algumas centenas ou milhares de pessoas podem ser bons termômetro de como os eleitores estão pensando em votar?

Esse conjunto de pessoas entrevistadas é chamado de amostra. Para que esse grupo represente bem todo o universo de eleitores é preciso que ele reproduza a composição e a distribuição do eleitorado.

No caso do Brasil, a população é bastante heterogênea. Há diferenças, por exemplo, entre o perfil dos brasileiros que moram no Sul, no Nordeste ou em outras regiões do país. Há também diferenças entre os que são católicos, evangélicos, ateus ou seguem outras religiões, ou mesmo entre homens e mulheres, jovens e idosos, e também entre os que têm maior ou menor renda.

Dessa forma, para que uma mostra, por exemplo, de duas mil pessoas entrevistadas meça bem a intenção de voto dos eleitores é preciso que sua composição reflita essa heterogeneidade.

Por meio de dados oficiais, sabemos que mulheres são 53% dos eleitores e homens, 47%. Uma pesquisa precisa, portanto, não pode entrevistar 55% de homens e 45% de mulheres. É necessário seguir a distribuição de gênero da população brasileira na sua amostra.

No mesmo sentido, esse levantamento vai entrevistar muito mais pessoas no Sudeste do que nas outras regiões, porque ali se encontra a maior fatia do eleitorado brasileiro. Mas não basta que o instituto entreviste uma quantidade maior qualquer nesta região. A pesquisa do Instituto Datafolha de junho, por exemplo, informa que 43% das suas entrevistas foram feitas no Sudeste e, segundo o TSE, 42,6% dos eleitores aptos a votar vivem lá. Ou seja, a composição da amostra segue a composição do eleitorado.

Essa mesma lógica serve para determinar a proporção de jovens, adultos e idosos entrevistados, ou quantos brancos, pardos ou pretos serão ouvidos, etc.

O estatístico Neale Ahmed El-Dash, que estudou métodos de pesquisa durante seu doutorado na USP e é fundador da empresa Polling Data, usa a seguinte metáfora para explicar como a amostra funciona.

“Um risoto tem vários ingredientes diferentes: sei lá, você botou gorgonzola, cebola, tem o próprio arroz, tem sal, algum outro tempero. Então, se você simplesmente colocou tudo ali na panela, uma coisa em cima da outra (sem misturar), ao pegar uma colherzinha de qualquer lugar, você não vai conseguir sentir o sabor real daquele prato. Agora, se você misturou bem misturadinho, na hora que você pegar uma colher de qualquer lugar, vai estar com o sabor do risoto gostoso”, exemplifica.

“Então, se você consegue misturar direitinho toda a população e pegar uma colherada, você vai ter uma amostra que representa bem (todos os eleitores)”, compara.

Pesquisas sérias sempre informam o perfil da amostra. É possível checar essa composição no site do TSE, no qual os institutos precisam registrar o questionário que será aplicado antes de ir a campo.

Margem de erro

Agora, mesmo que a amostra esteja bem “misturadinha”, como explicou El-Dash, não é possível garantir que o seu resultado é um retrato exato da intenção de voto dos brasileiros.

Na verdade, se forem retiradas diferentes amostras de um mesmo universo, ainda que com as mesmas composições sócio-demográficas, seus resultados podem variar.

É por isso que toda pesquisa possui uma margem de erro e um nível de confiança (entenda melhor abaixo) que indicam qual o nível de precisão do resultado da pesquisa.

Segundo El-Dash, quanto maior a amostra, maior sua precisão para medir a opinião da população pesquisada (no caso das pesquisas eleitorais, o total de eleitores). Isso significa que levantamentos com amostras maiores têm margem de erro menor. No entanto, a partir de um determinado número de entrevistas, esse ganho de precisão, medido por uma fórmula matemática, já fica menos relevante.

“Uma amostra de mais de dois mil entrevistados, por exemplo, geralmente já não tem um custo benefício que vale a pena porque é caro fazer uma amostra maior e o ganho de precisão é pequeno”, diz ele.

A pesquisa feita em junho pela Quaest Pesquisa e Consultoria, por exemplo, informa que fez 2 mil entrevistas presenciais e tem margem de erro de dois pontos percentuais. O resultado do levantamento indicou que em um eventual segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o petista venceria com apoio de 54% dos eleitores, enquanto seu adversário teria 32%.

Isso significa que a intenção de voto em Lula em um segundo turno contra Bolsonaro naquele momento estava entre 52% e 56%, enquanto a do atual presidente ficava entre 30% e 34%.

Já o nível de confiança dessa pesquisa Quaest era 95%. Isso significa que, se essa mesma pesquisa fosse aplicada 100 vezes naquele momento, entrevistando outras pessoas com mesmo perfil da amostra inicial, ela daria resultados dentro da margem de erro em 95 dos casos.

“Então, essa teoria matemática não te diz que a pesquisa vai acertar toda vez que ela é feita, mas ela te diz, em média, quanto que ela vai acertar. Isso é a tal famosa combinação da margem de erro com a confiança”, resume El-Dash.

O nível de confiança mais comum usado por institutos de pesquisa é de 95%. Para usar um nível maior, de 99% por exemplo, sem aumentar a margem de erro, seria preciso ampliar o tamanho da amostra.

2) Cuidados na realização das entrevistas

A elaboração adequada da amostra é apenas uma das etapas para garantir que a pesquisa seja um bom termômetro da intenção de voto da população. É preciso também seguir uma série de parâmetros na aplicação do questionário e, depois, no processamento das entrevistas.

Após a definição do perfil da amostra, as pessoas entrevistas são selecionadas aleatoriamente, justamente para evitar viés para algum candidato. Por isso, os locais de aplicação dos questionários são definidos por sorteio.

Nas pesquisas presenciais, normalmente se utiliza o método de “Probabilidade Proporcional ao Tamanho” para sortear as cidades onde são feitas as entrevistas, explica Márcia Cavallari, diretora do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), instituto fundado por parte da equipe que atuava no antigo IBOPE.

Nesse método, cidades mais populosas têm maior probabilidade de serem sorteadas. Caso isso não fosse feito, as cidades menores, por serem mais numerosas, seriam mais frequentemente selecionadas para as entrevistas, deixando de fora da amostra uma parcela relevante do eleitorado dos grandes centros urbanos.

“O processo de sorteio é probabilístico e leva em conta o número de eleitores de cada município. É um processo aleatório de seleção através de um método estatístico. Antes de fazermos a seleção dos municípios, asseguramos que os estratos da amostra entrem com o peso de seus eleitores, ou seja, cada região do país e cada Estado entram com os seus respectivos pesos na amostra”, detalha Cavallari.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, tem usado de forma distorcida as escolhas das cidades para acusar os institutos de pesquisa de manipularem os levantamentos eleitorais. É o que ele fez, por exemplo, no vídeo “Saiba como certas pesquisas mentem!”, publicado em seu canal no YouTube no final de junho.

Nessa gravação, ele faz duros ataques à Quaest, que realiza mensalmente pesquisas de intenção de voto para o pleito presidencial de outubro, encomendadas pela corretora Genial Investimentos.

O deputado analisa no vídeo as entrevistas feitas na pesquisa de abril no Maranhão. Segundo a lista informada ao TSE, o levantamento ouviu eleitores de cinco municípios do Estado: Alcântara, Alto Alegre do Maranhão, São Francisco do Brejão, São Luís e São Luís Gonzaga do Maranhão.

Eduardo Bolsonaro, então, reclama no vídeo do fato de todas as cidades selecionadas terem votado majoritariamente em Fernando Haddad (PT) no segundo turno de 2018, candidato que foi derrotado por Bolsonaro.

“Nenhuma pessoa foi entrevistada em Imperatriz, que é a segunda maior cidade do Estado e uma das três do Maranhão que o Bolsonaro ganhou no segundo turno em 2018. E olha que no Maranhão tem 217 municípios. Mas será por que? Será coincidência?”, questiona o filho do presidente.

Procurado pela BBC News Brasil, o diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, Felipe Nunes, refuta as acusações do deputado. Ele explica que todas as cidades onde ocorrem as entrevistas são definidas por sorteio, assim como os locais dentro das cidades onde as pessoas são abordadas pelos pesquisadores.

Como o Maranhão votou em peso em Haddad, a probabilidade maior é de as cidades sorteadas terem votado mais no petista do que em Bolsonaro. A BBC News Brasil checou as cidades de Santa Catarina, Estado que deu larga vitória em 2018 ao atual presidente, e encontrou o oposto do que ocorreu no Maranhão: todos os municípios visitados pela Quaest em abril eram cidades em que Bolsonaro venceu Haddad.

Eduardo Bolsonaro não cita essa informação do seu vídeo.

Para responder às críticas do deputado, a Quaest enviou à reportagem uma tabela com todas as cidades visitadas na pesquisa de abril, acompanhadas do percentual de votos válidos que Bolsonaro obteve no segundo turno de 2018 em cada uma delas. Ao tirar a média desses percentuais, o resultado é 54,9%, praticamente o mesmo resultado que o presidente obteve na eleição (55,1%).

“A crítica dele (Eduardo Bolsonaro) é absurda, não faz o menor sentido. A diferença de uma enquete para uma pesquisa é demonstrada exatamente pelo ponto dele. O que ele sugere é pegar as pessoas nos lugares que ele quer e fazer enquete lá para parecer bom (para Bolsonaro). O que a gente faz na pesquisa é ignorar esse critério, de onde tem mais ou menos gente que votou (num determinado candidato), sortear a amostra de modo que todo mundo tenha a mesma chance de ser entrevistado e, a partir desse critério probabilístico de aleatoriedade, ser capaz de pegar todo tipo de eleitor”, rebate Nunes.

O vídeo traz ainda outras críticas à Quaest. Para reforçar que o instituto não seria confiável, Eduardo Bolsonaro mostra uma pesquisadora da Quaest que foi gravada manifestando apoio a Lula. Além disso, ressalta que Felipe Nunes já foi consultor político da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel, ambos petistas.

Questionado pela reportagem, o diretor da Quaest disse que trabalha com eleições desde 2014 e já prestou consultoria ou realizou pesquisas para diferentes partidos, como PT, PSDB, MDB, DEM, PSD, PSB, PDT e Novo. Sobre a entrevistadora que manifestou apoio a Lula, Nunes disse que o próprio controle de qualidade da Quaest já havia identificado o problema, pois todas as entrevistas realizadas são depois ouvidas por outra equipe da empresa.

“Imediatamente aquela senhora foi desvinculada da empresa, as entrevistas que ela fez foram anuladas e outra pessoa foi colocada para fazer no lugar”, contou.

“Lido com isso com muita naturalidade. Existem erros no campo e, é justamente porque a gente tem um controle muito rígido de qualidade sobre o dado que sai, que a gente consegue, inclusive, capturar esse tipo de situação e não permitir que isso gere qualquer tipo de problema pro dado que está sendo publicado”, acrescentou.

A BBC News Brasil tentou contato com o deputado Eduardo Bolsonaro por meio do seu gabinete, mas não obteve retorno.

“Datapovo” x Datafolha

Apoiadores de Bolsonaro

Apesar de estar atrás nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro mantém uma base fortemente mobilizada CRÉDITO,REUTERS

No vídeo de 26 de junho em que ataca as pesquisas eleitorais, Eduardo Bolsonaro também repete um argumento comum aos apoiadores de seu pai: a ideia de que que para medir a popularidade do presidente, basta ver as multidões de apoiadores que o acompanham nas ruas. É o que chamam de “datapovo”, num trocadilho com o nome do Instituto Datafolha.

“O Bolsonaro essa semana esteve em Caruaru, Pernambuco, Nordeste. E também esteve em Santa Catarina. Por onde quer que ele vá, é sempre assim: arrasta multidões. E daí vem aquela pergunta: se o Bolsonaro parece um artista de rock por onde passa, por que o Lula, que é o primeiro colocado nas pesquisas, não consegue sair nas ruas sem ser para esses eventos pré-organizados pelo PT, e olhe lá?”, questiona o deputado, antes de listar supostas manipulações dos institutos para tentar explicar essa aparente contradição.

A resposta dos especialistas é que, por mais que o presidente seja capaz de mobilizar alguns milhares ou até dezenas de milhares de apoiadores em eventos, esse grupo não é representativo de todo o eleitorado brasileiro.

“A minha maneira de responder essa questão é muito provocativa. Um dos movimentos mais fortes de rua que o Brasil tem é a Parada do Orgulho LGBT, que acontece na Avenida Paulista. Se a gente fosse utilizar o critério que algumas pessoas tentam usar para descredibilizar as pesquisas, seria pegar as fotos e os vídeos da Parada LGBT e dizer que, então, em São Paulo, o público LGBT seria o mais representativo na Câmara Municipal, na Assembleia Estadual”, afirma Felipe Nunes.

“E, na verdade, a gente tem uma subrepresentação até desse público (LGBT) nos locais de poder. Ou seja, isso (citar aglomerações como medida para intenção de voto) não é critério. Isso é enviesar a visão, isso é não querer ver o todo”, acrescenta.

Cuidados na realização das perguntas

Além dos cuidados na composição da amostra e na escolha dos locais das pesquisas, os institutos também adotam regras para evitar algum viés na forma como as entrevistas são realizadas. A pergunta sobre a intenção de voto deve ser feita de forma neutra, sem direcionar a resposta para um ou outro concorrente. E os nomes dos candidatos não podem ser apresentados em uma ordem fixa, pois os primeiros da lista tenderiam a ser favorecidos.

Por exemplo, na pesquisa de junho do Datafolha, quando as candidaturas presidenciais ainda não estavam formalizadas pelas convenções partidárias, o instituto fez a pergunta dessa forma aos entrevistados ouvidos de forma presencial: “Alguns nomes já estão sendo cogitados como candidatos a presidente esse ano. Se a eleição para presidente fosse hoje e os candidatos fossem estes, em quem você votaria?”.

Em seguida, era apresentado um cartão circular com nomes de 13 pré-candidatos, de modo que não houvesse uma hierarquia entre eles. As opções incluíam desde os líderes na pesquisa, como Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT), às opções menos conhecidas, como Vera Lúcia (PSTU) e Felipe d’Avila (Novo).

Já a pesquisa Ipespe de julho, feita por telefone, fez a seguinte pergunta: “Se a eleição para Presidente fosse hoje e os candidatos fossem esses que vou ler, em quem o(a) Sr(a) votaria?”.

Nesse caso, como não é possível apresentar um disco com os candidatos, o instituto realiza um “rodízio de nomes”, apresentando os concorrentes cada vez em uma ordem diferente.

Disco de candidatos à presidente do questionário do Datafolha

Nomes dos concorrentes ao Palácio do Planalto são apresentados em disco pelo Instituto Datafolha CRÉDITO,REPRODUÇÃO QUESTIONÁRIO DATAFOLHA

3) Por que o resultado das urnas nem sempre bate com as pesquisas?

Ainda que a pesquisa realizada tenha seguido todos os padrões de excelência, mesmo assim seu resultado pode ser diferente dos votos computados pelas urnas — e isso não significa que a pesquisa “errou”.

Os especialistas explicam que a pesquisa eleitoral é um retrato do momento. Ela mostra qual seria o resultado provável caso a eleição ocorresse no mesmo período do levantamento. No entanto, como muitos eleitores mudam seu voto ou escolhem seu candidato apenas próximo ao dia da eleição, ou mesmo no próprio dia de votação, é esperado que os resultados das pesquisas se modifiquem ao longo da campanha e sejam diferentes do saldo das urnas.

“A pesquisa não tem o papel de antecipar o resultado eleitoral. A pesquisa eleitoral capta atitudes e as intenções de voto, não medem o comportamento do eleitor. Apenas as pesquisas de boca de urna (feitas no dia da votação, logo que as urnas fecham) podem ser comparadas com os resultados oficiais, pois estas estão medindo comportamento”, afirma Cavallari.

Embora as pesquisas não tenham a função de prever o resultado das urnas, elas costumam captar bem qual a tendência da evolução do voto. “Via de regra, observamos que os resultados oficiais são um ponto a mais nas curvas de tendência apontadas pelas pesquisas”, ressalta a diretora do Ipec.

Para ilustrar seu ponto, Cavallari chama atenção para a evolução das intenções de voto em Bolsonaro e Haddad nas semanas anteriores ao primeiro turno de 2018, medidas por dez pesquisas do antigo IBOPE.

Elas mostram que, no final de agosto, Bolsonaro liderava a corrida eleitoral com 32% das intenções de voto. Esse percentual foi subindo paulatinamente até chegar a 41% na véspera do primeiro turno (dia 6 de outubro). Já a pesquisa de boca de urna do dia da eleição (7 de outubro) indicou que 45% dos eleitores haviam votado em Bolsonaro. Esse número ficou muito próximo do resultado oficial das urnas divulgado pelo TSE: o futuro presidente recebeu 46% no primeiro turno.

O mesmo ocorreu com Haddad. Ele começou com apenas 6% de intenção de voto em 20 de agosto, e as pesquisas mostraram seu percentual subindo até chegar a 25% no dia 6 de outubro. Já a pesquisa de boca de urna indicou o apoio de 28% dos eleitores, enquanto o resultado oficial do TSE mostrou 29% de votos para o petista.

Pesquisas Ibope para o primeiro turno de 2018. Evolução das intenções de voto (%) de Bolsonaro e Haddad. .

“Voto útil”

Outro fator que explica as diferenças entre as pesquisas e o resultado oficial é o fenômeno do “voto útil”, em que as próprias pesquisas influenciam o rumo dos votos, ressalta Felipe Nunes, da Quest. Isso ocorre, por exemplo, quando eleitores que votariam no candidato A, mas rejeitam fortemente o candidato B, entendem pelas pesquisas que é o candidato C que tem mais chances de derrotar o B. Com isso, acabam migrando seu voto do A para o C.

“Se existe mudança de opinião de alguém que está prestes a se casar, muita gente abandonou o noivo ou a noiva no altar, por que o eleitor não poderia fazer a mesma coisa diante da urna? Ele tem intenção de votar em alguém, mas muda de opinião. Isso é normal”, diz Nunes.

“E o mais sério: as pessoas mudam de opinião baseadas nas pesquisas. Então querer que as pesquisas acertem é um exagero equivocado. Pesquisa serve para informar o eleitor. É a própria dinâmica da informação que faz com que as pessoas mudem de opinião”, reforça.

Para saber se uma pesquisa é confiável, portanto, não adianta comparar seu resultado com o saldo final das urnas. O que os especialistas recomendam é que o eleitor busque comparar pesquisas de diferentes institutos, pois a tendência é que pesquisas bem feitas por diferentes empresas mostrem cenários semelhantes nos rumos das intenções de voto.

Por outro lado, quando um instituto de pesquisa traz resultados muito “fora da curva” dos demais, aí é sinal de que algo pode estar errado no levantamento.

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