O presidente Lula da Silva (PT) afirmou na última sexta-feira (11) que pretende comprar “alguns aviões” para o transporte de autoridades políticas em viagens oficiais pelo País. Nos últimos anos, diferentes países renovaram as frotas que transportam os chefes de governo. Outras nações, segundo reportagem de Gabriel de Sousa, do Estadão, como a Rússia, estão com a mesma unidade desde 1996.
A declaração de Lula ocorreu após a aeronave utilizada para o transporte do chefe do Executivo sofrer uma pane e sobrevoar o espaço aéreo do México por cinco horas, no início deste mês. A aeronave atual do governo brasileiro é um Airbus A319CJ, mais conhecido como “Aerolula”, e foi adquirida em 2005, no primeiro mandato do petista à frente da Presidência.
Ainda não foram informados os modelos que serão comprados pelo governo Lula, a quantidade de aeronaves e os custos para as modificações necessárias para transformá-las em veículos de transporte presidencial.
Em setembro do ano passado, porém, o Estadão mostrou que Lula exigiu um novo avião com cama de casal, banheiro com chuveiro, gabinete de trabalho privativo, sala de reuniões e uma centena de poltronas semi-leito. Um relatório da Defesa estimou que a opção mais barata pode custar de US$ 70 milhões a US$ 80 milhões, o equivalente a R$ 359 milhões a R$ 412 milhões em valores corrigidos.
As aeronaves presidenciais, em geral, são projetadas para garantir conforto aos chefes de Estado, eficiência em viagens de longo alcance e segurança contra problemas técnicos e ameaças externas. Dentro das cabines, há escritórios para reuniões, espaços de lazer e centros de comando em casos de emergências nacionais.
Em diversos países, os governos possuem mais de um avião equipado para o transporte do chefe de governo. Há também frotas de aeronaves chamadas “VIPs”, que fazem o deslocamento de demais autoridades. Além do “Aerolula”, outras duas aeronaves Embraer E190 PR são utilizadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar o presidente e outros membros do Executivo em voos de curta distância.
Alemanha
Há seis anos, o governo alemão vivenciou um cenário semelhante ao que ocorre atualmente no Brasil. Em 2018, o Airbus A340 que transportava a ex-chanceler Angela Merkel apresentou falhas durante um voo que saiu do território alemão em direção à Argentina. A aeronave com Merkel teve que sobrevoar os céus da Holanda até conseguir pousar no país de origem com segurança. No fim, a chanceler, que estava indo para uma reunião do G20, teve que ir ao destino em um voo comercial.
Após o episódio, o governo alemão decidiu comprar três Airbus A350-900, um modelo mais ágil e voltado para o transporte executivo. A terceira aeronave foi integrada ao comando da aeronáutica alemã em junho deste ano. Os valores da compra não foram divulgados.
De acordo com o site especializado em aviação AeroTime, o custo total do projeto foi estimado em 1,2 bilhão de euros (R$ 8,4 bilhões em valores corrigidos). Além da compra das aeronaves, 288 milhões de euros foram utilizados para modificar a cabine e outros 229 milhões de euros para instalar sistemas defensivos nos Airbus A350-900.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o presidente tem à sua disposição dois Boeing 747-200B modificados para o transporte em viagens oficiais. A aeronave não serve apenas como meio de locomoção do chefe do Estado americano, podendo atuar em caso de emergências nacionais. Ele também é capacitado para funcionar como um posto de comando das Forças Armadas em pleno ar.
Em 2018, o ex-presidente Donald Trump firmou um contrato com a empresa americana Boeing para trocar os dois aviões, que estão na ativa desde 1990, por dois Boeing 747-8i. Em comparação com o 747-200B, o modelo é maior, mais moderno e mais eficiente. O projeto, segundo o portal de notícias especializado em aviação militar DefenceOne, custou US$ 5,3 bilhões (R$ 24,93 bilhões em valores corrigidos).
Os custos vão desde a aquisição das novas aeronaves até as modificações feitas para suprir as necessidades do governo dos Estados Unidos. A previsão é que elas sejam entregues ao governo americano entre 2027 e 2028.
Além dos dois aviões presidenciais, a frota “VIP” dos EUA conta com outras oito aeronaves. Duas delas são Air Force Two, para transporte do vice-presidente do país, atualmente Kamala Harris.
Reino Unido
Desde 2016, o avião responsável pelo transporte do primeiro-ministro britânico e dos membros da família real do país é um Airbus A330-MRTT. O avião, que já era utilizado pela Royal Air Force (RAF) desde 2012, foi modificado para a atender às regalias do governo ao custo de 10 milhões de libras esterlinas (R$ 54,4 milhões em valores corrigidos).
Com um alcance máximo de 14.800 quilômetros de distância e uma velocidade máxima de 880 quilômetros por hora, o A330-243 é um modelo comumente utilizado para o transporte de autoridades mundo afora. Em 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou, em uma live, que havia um estudo do governo brasileiro para adquirir duas unidades, sem dar maiores detalhes. O projeto não vingou.
Em 2020, o ex-primeiro-ministro Boris Johnson se envolveu em uma polêmica ao ordenar a mudança da pintura do avião governamental. A intenção era reforçar a imagem do Reino Unido como um país separado da União Europeia após a vitória do Brexit. O custo da reforma, segundo projetado por Johnson, foi de 900 mil libras esterlinas (R$ 1,18 milhão em valores corrigidos).
Argentina
Vizinha do Brasil, a Argentina possui três aviões presidenciais. O mais recente foi um Boeing 757-200, adquirido no ano passado pelo ex-presidente Alberto Fernández. O valor da compra não foi divulgado, mas sabe-se que o governo do país liberou uma verba de US$ 25 milhões (R$ 123,2 milhões em valores corrigidos) para adquirir uma nova aeronave.
O avião substituiu o “Tango 01″, outro Boeing 757 que, entre 1992 e 2016, era o principal avião da frota das aeronaves presidenciais argentinas. Ele está guardado em um depósito desde então, após o ex-presidente Maurício Macri desistir de utilizá-lo por riscos operacionais. Ainda não se sabe qual será o destino da aeronave, mas, segundo a imprensa argentina, a intenção do presidente Javier Milei é vendê-la.
A outra aeronave utilizada pelo governo argentino é um Learjet 60-SE. Esse avião é um pequeno jato, utilizado pelo governo argentino para transportar o presidente em viagens de curta distância.
Rússia
O avião que transporta o presidente da Rússia, Vladimir Putin, é um Ilyushin-96, que opera desde 1996. A aeronave conta com equipamentos futuristas de segurança, como sistema ininterrupto de contato com as forças armadas do país e proteção imediata contra ataques externos. O custo da aquisição da aeronave não foi divulgado.
Há também espaço para luxo. O Ilyushin possui salas de conferências, áreas de descansos e diversos espaços que podem servir de escritórios para os líderes russos. Todo o interior contém uma decoração neoclássica, com bordados feitos por artesãos russos.
O avião escolhido por Putin para viajar é um quadrimotor, ou seja, possui quatro turbinas coladas às asas. A escolha não é por acaso: mesmo se dois motores falharem, o piloto poderá decolar, pousar e manobrar a aeronave sem maiores dificuldades. Se apenas um funcionar, ele pode viajar por até 800 quilômetros.
França
Na França, o avião presidencial é um Airbus A330-200, modelo comum na aviação comercial para a operação de voos internacionais. No Brasil, a aeronave integra a frota da Azul Linhas Aéreas. O modelo foi integrado em 2010, substituindo dois Airbus A319, o mesmo modelo do “Aerolula”. Para atender às exigências do governo francês, a aeronave foi modificada e se transformou em um modelo de transporte executivo.
Segundo um relatório do governo francês, o A330-200 custou 176 milhões de euros (R$ 1,022 bilhão em valores corrigidos).
O avião, que hoje transporta o presidente francês, Emmanuel Macron, possui escritório privado, sala de conferências e instalações para atendimentos médicos. Assim como as aeronaves presidenciais dos outros países, há uma comunicação facilitada com as forças armadas do país.
Além da aeronave presidencial, o governo francês possui outros 15 aviões e cinco helicópteros em uma frota destinada para o transporte de autoridades governamentais.
Índia
Desde 2020, o primeiro-ministro indiano, Nahendra Modi, utiliza dois Boeing 777 modificados como meio de transporte. Antes, Modi viajava em dois Boeing 747-400 utilizados pela Air India para voos comerciais. O valor das novas aeronaves não foi divulgado.
As aeronaves utilizadas por Modi estão entre as mais modernas do mundo. Elas possuem um escudo defletor de mísseis e um sistema de feixe de luzes que é capaz de enganar qualquer artefato disparado do chão em direção aos aviões. Os dois Boeing 777 também possuem blindagens que oferecem maior segurança em caso de explosões nucleares.
Japão
Assim como na Índia, o governo japonês utiliza, desde 2019, dois aviões do modelo Boeing 777 modificados para transportar o imperador, Naruhito, e os membros do governo japonês. Cada uma das aeronaves tem capacidade para 140 passageiros e conta com um sistema que possibilita o uso para a evacuação de cidadãos japoneses em emergências.
Além dos espaços privativos para os membros do governo japonês, as aeronaves possuem espaços destinados a jornalistas, além de um local para a realização de coletivas de imprensa. Os aviões substituíram duas unidades de Boeing 747-400 que eram utilizados desde 1991. Os custos não foram divulgados pelo governo do país.