A caçada ao brasileiro Danilo Cavalcante, de 34 anos, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos pelo assassinato de sua ex-namorada e capturado nesta quarta-feira após 14 dias foragido, foi explorada politicamente por conservadores republicanos.
Nas redes sociais, eles questionaram por que Cavalcante, que entrou no país ilegalmente, não foi deportado pelo governo do presidente democrata Joe Biden, apesar de ter sido procurado por assassinato no Brasil em 2017.
Também criticaram a demora na captura do brasileiro, aproveitando o temor de que ele permanecia foragido e tinha sido descrito como “extremamente perigoso” para defender a posse de armas de fogo — ao passo que os democratas têm renovado apelos por seu controle.
Cavalcante foi capturado nesta quarta-feira (13) por volta das 8h20 (9h20 de Brasília).
A captura “acaba com o pesadelo das últimas duas semanas”, disseram os três comissários do condado de Chester em comunicado conjunto.
Segundo eles, o foco agora será evitar outra fuga da prisão.
No X, anteriormente conhecido como Twitter, um usuário brincou com o fato de que o cachorro que mordeu e imobilizou Cavalcante até os policiais se aproximarem e algemarem o brasileiro era “republicano” porque “deu conta do recardo”.
Outros lembraram que não só Cavalcante, mas também sua irmã eram imigrantes irregulares nos Estados Unidos. Ela também foi detida e enfrenta “processo de deportação”.
Antes da captura de Cavalcante, Jack Posobiec, ativista político americano da alt-right e teórico da conspiração, afirmou que “Danelo Cavalcante (o nome de Danilo é grafado como Danelo pela polícia e pela imprensa americana) é um microcosmo perfeito da anarcotirania que reina na América de Joe Biden, onde os criminosos podem sair da prisão à vista de seus captores, onde o vigilantismo substituiu a polícia subfinanciada e subestimada, e onde nossos tão chamados “líderes” têm mais simpatia pelos assassinos condenados do que pelas suas vítimas massacradas e pelas crianças traumatizadas deixadas no seu rasto”, escreveu ele em artigo no Human Events, site de notícias e análises políticas conservadoras americanas.
Promotores que atuaram no julgamento do brasileiro, condenado à prisão perpétua depois de ele ter matado sua ex-namorada, Débora Brandão, na frente dos filhos dela em 2021, argumentam, contudo, que não havia garantias que Cavalcante seria levado à Justiça pelo crime que cometeu nos Estados Unidos.
Segundo as autoridades, Cavalcante entrou nos Estados Unidos ilegalmente via Porto Rico, depois de fugir do Brasil, onde se tornou réu pelo assassinato de um homem em 2017 devido a uma briga relacionada ao conserto de um carro.
Na segunda-feira, aumentou em US$ 5 mil (R$ 25 mil), para US$ 25 mil (cerca de R$ 123 mil), a recompensa por informações que levassem à captura do brasileiro.
A polícia informou que ele estava armado após roubar um rifle calibre 22. Também recomendou a moradores que “tranquem portas e janelas” e não saíssem de casa.
A irmã de Cavalcante foi detida no domingo (10/9). Após se recusar a ajudar na busca policial, ela foi detida por ultrapassar o prazo de validade do visto, segundo a polícia, e enfrenta um processo de deportação.
A caçada ao brasileiro envolveu mais de 500 agentes municipais, estaduais e federais, além de helicópteros e drones. Cães farejadores e cavalos também foram usados nas buscas.
Segundo as autoridades, a demora em sua captura se deveu a uma combinação de fatores, principalmente à complexidade do terreno.
Cavalcante escapou da prisão do condado de Chester, em West Chester, no estado americano da Pensilvânia, na manhã do dia 31 de agosto.
Ele escalou paredes separadas por um corredor de 1,5 metro de largura (veja vídeo abaixo). Sua fuga viralizou nas redes sociais e virou notícia ao redor do mundo.
Cavalcante foi visto diversas vezes desde então, por testemunhas e por câmeras de vigilância.
No fim de semana, Cavalcante havia sido flagrado por uma câmera de campainha com uma nova aparência, sem barba e bigode.
Captura
Segundo os responsáveis, a prisão de Cavalcante aconteceu sem disparos de tiros. Nenhum agente da polícia ficou ferido.
A polícia havia informado que o brasileiro estava armado e o considera “extremamente perigoso”. Havia tensão em relação ao desfecho porque os agentes estavam autorizados a usar força letal se Cavalcante não se rendesse voluntariamente.
A operação começou um pouco depois da meia-noite na Pensilvânia, 23h da terça no horário em Brasília, e culminou com a prisão de Cavalcante na manhã desta quarta.
O brasileiro foi localizado em uma área de floresta por um detector de calor de uma das aeronaves da polícia.
As equipes perceberam a movimentação do brasileiro e passaram a segui-lo. Quando a patrulha se aproximou de Cavalcante, ele tentou rastejar pela vegetação, mas a polícia soltou um cachorro, segundo relato das autoridades. O animal mordeu e imobilizou o fugitivo até os policiais se aproximarem e algemarem o brasileiro.
Segundo as autoridades da Pensilvânia, o brasileiro recebeu tratamento médico no local por conta da “mordida leve” e foi levado para a prisão.
A polícia foi questionada sobre a foto em que Cavalcante aparece sangrando e informou que o sangue era de um ferimento na cabeça — não ficou claro se era o mesmo machucado causado pelo cachorro —, mas que ele não era grave.
Na coletiva de imprensa sobre a prisão, o chefe de polícia pediu para que civis não se envolvam em “caçadas” envolvendo fugitivos no futuro, pois elas podem se machucar e atrapalhar a busca oficial. A fuga de Cavalcante havia inflamado grupos civis armados que tentavam encontrá-lo.