Enquanto esteve no Planalto, Jair Bolsonaro (PL) foi um presidente segundo a coluna de Robson Bonin, na revista Veja, de muitas aventuras fúteis — passeios de moto, de jet ski e jornadas de trabalho que terminavam no meio da tarde, com o sol ainda alto em Brasília — e pouco interesse pelo pesado trabalho de fazer política e discutir a fundo os temas urgentes da nação em debate no Congresso.
Seus auxiliares, não raro, admitiam a “falta de paciência” de Bolsonaro para debater reformas ou medidas consideradas importantes em outros setores da administração, diz o colunista da Radar. Tirando o Ministério da Saúde, local onde decidiu estabelecer seu controle — levando o país ao caos na pandemia —, gostava mesmo era de viajar e discursar a adoradores, atacando as instituições para justificar sua falta de interesse pelo trabalho pesado. Ele dizia que não conseguia governar — quem se lembra? — porque o STF não deixava.
Bolsonaro perdeu a eleição para Lula (PT), atacou constantemente o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas. Agora, inelegível, percebeu o recado irônico do destino. Sem as urnas tão odiadas por ele, sua força não existe. O desespero é tão grande, veja só, que o ex-presidente resolveu debater política para manter-se relevante na oposição, ainda que sem perspectiva de poder.
Nesta terça, reuniu-se com Valdemar Costa Netto, Braga Netto e o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes, para discutir, veja só, reforma tributária. Ele passou quatro anos no Planalto sem querer envolver-se no tema. Agora, quer liderar, como disse ao Radar um aliado, a oposição no debate. “É o que restou para ele fazer. Sem depressão ou aposentadoria, o partido serve para fazer esse debate político”, diz um aliado.
O ex-presidente até assinou um artigo — “Reforma Tributária do PT: um verdadeiro soco no estômago dos mais pobres” — batendo na reforma discutida no Congresso nesta semana, que também desagrada a governadores e prefeitos.
Bolsonaro descobriu que é difícil ser farol político para aliados e apoiadores não tendo a força das urnas. Inelegível, busca agora ser referência intelectual para seu campo político. Talvez seja tarde.