Os “baby boomers”, expressão geracional dada àqueles nascidos entre 1945 e 1964, controlam US$ 93 trilhões, ou dois terços da riqueza familiar americana. E é hora de pensar em sucessão. Os aposentados da classe média gastarão suas economias e morrerão sem deixar herança, diz Chris Helma, da Forbes. Mas os bilionários deverão realizar a maior transferência geracional de riquezas de todos os tempos, com o 1% mais rico detendo 31% dos ativos líquidos. Essa minoria poderá deixar uma quantia considerável para seus filhos, netos e causas favoritas.
O governo se interessa pelo assunto, pois – teoricamente – o imposto americano sobre heranças é de 40%. O imposto sobre heranças costumava ser uma fonte significativa de arrecadação. No entanto, ele foi enfraquecido por 25 anos de decisões políticas, regulatórias e judiciais e pela engenhosidade de advogados. O Congresso elevou o valor que um casal pode transferir sem impostos para seus herdeiros de US$ 1,35 milhão em 2000 para quase US$ 26 milhões em 2023. Os recursos podem ser colocados em um trust, podendo render sem impostos adicionais.
Matemática e Microgerenciamento
Segundo Rubenstein, os grandes investidores possuem habilidades sólidas em matemática, demonstram uma curiosidade intelectual enorme e têm o hábito de ler o máximo que podem, mesmo que não seja diretamente relacionado à área em que estão investindo. Eles são como esponjas, absorvendo informações. Além disso, esses investidores gostam de ter a palavra final e, quando tomam uma decisão ruim, assumem a responsabilidade por ela.
“A coisa mais importante é ler, saber sobre o que está se envolvendo e não pensar que é um gênio. Seja realista em suas expectativas de taxa de retorno. A coisa mais importante a se reconhecer é que o maior erro que as pessoas cometem é vender quando os mercados estão em queda e comprar quando os mercados estão em alta.”
Como resultado, apenas 0,04% das heranças foram tributadas em 2020, ante 2,18% em 2000. É verdade que, de acordo com a lei atual, a isenção de impostos sobre heranças cairá pela metade até 2026, quando expirarem os cortes fiscais temporários de 2017, firmados na gestão de Donald Trump. No entanto, o Fisco concordou que, se isso acontecer, não tentará reaver o dinheiro transferido durante a vida.
Uma maneira de os ricos evitarem impostos e ainda serem elogiados é por meio da filantropia. Andrew Carnegie, que fez campanha pelo imposto moderno sobre heranças, doou 90% de seu dinheiro, que hoje giraria em torno de US$ 6 bilhões, antes de sua morte em 1919. Os 10% restantes foram para a organização sem fins lucrativos Carnegie Corp. “Quem morre rico morre desonrado”, escreveu em seu ensaio de 1889 “O Evangelho da Riqueza”.
Para atualizar esse conceito, Warren Buffett e Bill e Melinda Gates criaram em 2010 o Giving Pledge. A ideia é que os participantes dediquem a maior parte de sua riqueza a causas filantrópicas durante a vida ou após a morte. Desde então, 104 bilionários americanos, com um patrimônio líquido de US$ 1,5 trilhão, assinaram o compromisso. No entanto, nem toda doação é filantrópica. Recentemente, uma nova categoria de organizações sem fins lucrativos “de bem-estar social” começou a distorcer o significado da filantropia, uma vez que essas organizações podem se envolver em atividades políticas – coisas que as instituições de caridade tradicionais não fazem.
Os exemplos dos bilionários
A Forbes identificou 572 bilionários entre os 88 milhões de americanos nascidos antes de 1965. Eles deverão transferir cerca de US$ 3,9 trilhões a seus herdeiros. O que eles acham dos impostos? “Apenas idiotas pagam impostos sobre herança”, disse Gary Cohn, ex-presidente do Goldman Sachs, enquanto servia como principal conselheiro econômico do presidente Donald Trump.
Três membros da lista Forbes 400 compartilharam como fizeram para garantir que suas riquezas irão para as respectivas famílias e as causas que apoiam – técnicas que também podem funcionar para aqueles com menos recursos. Os quatro têm entre 77 e 87 anos, o que os torna membros da Geração Silenciosa (anterior à dos baby boomers). Eles não foram nada silenciosos ao discutir seus legados. Nossos “professores” são Phil Knight, cofundador da Nike; Harold Hamm, o caminhoneiro que se tornou o rei do fracking, com um patrimônio líquido de US$ 25,2 bilhões; e Barry Diller, um guru da televisão que se tornou empreendedor na internet, com US$ 4,1 bilhões – e o único democrata.
Phil Knight
Knight, cofundador da Nike, admite que doar a maior parte de sua fortuna, estimada em US$ 39,5 bilhões, é mais difícil do que parece. Seu desejo é garantir que sua fortuna vá para a família e para a caridade, e não para os impostos. “Converso o tempo todo sobre isso com meu consultor financeiro”, afirma. “Minha filosofia é que as instituições de caridade vão usar meu dinheiro melhor do que o governo. Então, minha consciência está tranquila.”
O estado do Oregon tem se beneficiado de sua filantropia. Estima-se que Knight já tenha doado cerca de US$ 3,4 bilhões, principalmente para a Universidade de Oregon e para Stanford. Ele foi atleta em Oregon, serviu um ano no Exército, obteve um MBA em Stanford, surfou e vendeu enciclopédias no Havaí a caminho do Japão, onde garantiu os direitos de importação dos EUA para uma linha de tênis de corrida, e se tornou contador público certificado. Tudo antes de fundar a Nike em 1964 com seu treinador de atletismo da faculdade. “O imposto sobre heranças é um grande motivo para as doações”, diz ele. “Eu escolhi focar em causas importantes que podem ter um grande impacto”, acrescenta.
A responsabilidade de colocar os planos em prática, diz Knight, será primeiro de Penny, sua esposa de 55 anos, que “tem 10 anos a menos do que eu e está em melhor forma”. Em seguida, o filho Travis, de 50 anos, tomará as decisões. Em sua autobiografia “Shoe Dog”, publicada em 2016, Knight mostrou seu arrependimento por não ter passado mais tempo com seus dois filhos enquanto construía a Nike. Seu filho mais velho, Matthew, morreu praticando mergulho em 2004. Agora ele está passando tempo com Travis, conversando sobre filantropia. Esse processo, Knight admite, “ainda está em seus primeiros estágios, porque começamos a falar sobre essas coisas nos últimos anos. Ainda estou tomando as decisões, mas ele está ao meu lado enquanto as tomo.”
Harold Hamm
“Dinheiro não o motiva de jeito nenhum”, diz Shelly Lambertz, diretora de cultura e administrativa da Continental Resources, sobre seu pai, Harold Hamm, fundador da empresa. “Ele ama a empresa. É o seu primeiro e favorito filho. Sua identidade.” Hamm é o 13º filho de um casal de agricultores de Oklahoma. Ele já colheu algodão descalço e dirigiu um caminhão tanque após o ensino médio. Começou a perfurar poços aos 25 anos e liderou a revolução do fracking nos Estados Unidos.
Ele diz que sua prioridade agora é gerar dinheiro para pagar um empréstimo de US$ 4,3 bilhões que ele usou para fechar o capital da Continental no ano passado. Naquela época, ele já havia transferido metade da participação da família na Continental, agora estimada em US$ 25 bilhões, para trusts em benefício de seus cinco filhos. Isso levou 25 anos de trabalho com advogados e uma série de transações complicadas que envolveram uma LLC familiar, empréstimos para os trusts e descontos de valor. “A chave é começar cedo, quando a empresa é pequena”, diz. “Você deve organizar as coisas para que seus herdeiros não precisem vender a empresa para pagar impostos quando você morrer”.
Até o momento, Hamm doou cerca de US$ 200 milhões – menos de 1% de sua riqueza – para caridade, destinando-os a pesquisas sobre diabetes, institutos de energia e outras causas. Em 2011, ele assinou o Giving Pledge com sua segunda esposa; três anos depois, escreveu um cheque de acordo de divórcio no valor de US$ 975 milhões, jurando que nunca mais iria se casar. Ele também não está inclinado a compartilhar com o IRS. “Não vi nada que me levasse a acreditar que o governo tem lidado bem com o dinheiro que a população dos Estados Unidos já lhe deu.”
Barry Diller
Diller, fundador e presidente do conglomerado de internet e mídia IAC, conversou com a Forbes em seu escritório em Manhattan em setembro, depois de passar o verão navegando pelo Mediterrâneo. Seu argumento é que o código tributário é injusto para quem não tem um iate. “Essa ideia de que o capital merece proteção enquanto os salários dos trabalhadores não merecem é uma monstruosidade”, afirma. Mesmo assim, ele diz não se arrepender de ter usado instrumentos financeiros para pagar menos impostos. “Você tem de obedecer ao código tributário. Se a lei diz que você pode fazer isso ou aquilo, por que uma pessoa sensata agiria de outra maneira?”
Embora seja um signatário do Giving Pledge, Diller ainda planeja deixar muito dinheiro para seus filhos. Ele cresceu em uma família de classe média alta em Beverly Hills, abandonou a faculdade e começou no departamento de correio da William Morris Agency. “Ou eles são ambiciosos ou não são. Eu não acredito que o dinheiro motive a ambição de qualquer maneira.” Ele mesmo foi o CEO prodígio da Paramount Pictures e depois da Fox antes de decidir, aos 50 anos, que queria ser dono de sua própria empresa.
Diller envolve os filhos na caridade. “Antes do Giving Pledge se tornar público, Warren Buffett me ligou e perguntou se consideraríamos estar no grupo inicial. Eu disse ‘vou perguntar ao meu filho, já que será o mais diretamente afetado’“, ele afirma. Seu filho é o príncipe Alex von Furstenberg, de 53 anos, um dos dois filhos de seu primeiro casamento. Diller casou-se com Diane von Furstenberg, a famosa estilista de moda, em 2000. “Alex é meio que um autodidata em investimentos”, diz o bilionário.