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quinta-feira 25 de agosto de 2022 às 14:03h

Como a seca histórica de um rio na China pode afetar a economia global

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O rio Yangtzé é vital para a China. Ele é o maior rio do país — e terceiro do mundo —, provê recursos para um terço da população chinesa e tem papel crucial para a economia global.

Mas neste verão, o rio está em níveis alarmantemente baixos devido a uma seca sem precedentes. As consequências são sentidas em várias províncias, onde os habitantes sofrem apagões elétricos e várias fábricas tiveram que reduzir e interromper sua produção.

A China emitiu seu primeiro alerta nacional de seca do ano na semana passada, depois que regiões importantes, como Xangai e Sichuan, sofreram semanas de temperaturas extremas.

A onda de calor já dura dois meses e é a mais longa da China desde que há registros, segundo o Centro Nacional do Clima.

É uma situação que não só dificulta a dinâmica da economia chinesa, como aumenta a pressão sobre a economia global — já afetada pela seca e pelas altas temperaturas em vários continentes, pela disparada dos preços da energia e pelo aumento do custo de vida após a pandemia e os efeitos da guerra na Ucrânia.

Quedas de energia e fechamento de negócio

As luzes dos arranha-céus de Xangai, um dos cartões-postais da cidade, serão desligadas por duas noites para economizar energia elétrica.

Com a seca, aumentou o consumo de energia por aparelhos de ar condicionado, e, ao mesmo tempo, a demanda pelas águas do rio Yangtzé. Várias regiões da China dependem dele para obter energia. O rio cobre 19 províncias e fornece água para quase 600 milhões de pessoas. Sua bacia é responsável por 45% da produção econômica do país.

“O Yangtzé é muito importante. Muitas empresas exportadoras da China estão localizadas ao seu redor. Todos os tipos de produtos passam por ali”, explica Jan Knoerich, professor de economia do Instituto Lau China da Universidade King’s College London (Reino Unido).

Na província de Sichuan, onde mais de 80% da energia é obtida de hidrelétricas, grandes empresas sofrem com apagões.

A Volkswagen interrompeu sua produção em Chengdu, capital de Sichuan. Um porta-voz da empresa disse que eles sofrerão “pequenos atrasos”, dos quais esperam se recuperar em um futuro próximo.

“Estamos monitorando a situação e estamos em constante troca com nossos fornecedores”, disse um porta-voz da Volkswagen à BBC.

A Foxconn, fornecedora da Apple, também precisou fechar sua fábrica em Sichuan, embora diga que o impacto em sua produção “não é significativo” até o momento.

Enquanto isso, a Toyota disse à BBC que está retomando gradualmente a produção em Sichuan “usando geração interna de energia”.

Chenyu Wu, analista de China e Norte da Ásia da consultoria Control Risk, disse à BBC que o impacto dos apagões não deve ser duradouro.

“É provável que esforços locais para economizar energia e aumentar a geração ajudem a mitigar a escassez nas próximas semanas, especialmente se chegar o tão esperado fim da onda de calor”, explica Chenyu.

A corrida para proteger as colheitas

Homens trabalhando com caminhão e equipamentos em gramado

Autoridades ‘semeiam’ nuvens na província de Hubei, em foto de 16 de agosto CRÉDITO,REUTERS

As autoridades eso procurtãando provocar chuva no centro e sudoeste da China. Nas províncias ao redor do Yangtzé, especialistas usam técnicas para “semear” nuvens artificialmente.

O outono, que se aproxima, é uma estação vital para plantações importantes, como de arroz e soja — portanto, gerenciar os recursos hídricos é crucial para garantir uma colheita abundante e o suprimento de alimentos.

Mas o arroz e outros produtos de outono estão em um “período crítico” quando se trata de irrigação, disse Liu Weiping, vice-ministro de recursos hídricos, na semana passada.

Com a colheita de outono ameaçada, o Ministério da Agricultura enviou 25 equipes para as principais regiões para proteger as plantações, informou o jornal local Guangming Daily.

A onda de calor ainda deve continuar por mais uma semana, tornando este período de temperaturas extremas o mais longo desde que os registros começaram, em 1961.

Ano difícil para a China e para o mundo

Não está sendo um ano fácil para a segunda maior economia do mundo.

No segundo trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços de um país) caiu 2,6% em relação aos três primeiros meses. Isso atrapalha as metas de crescimento de 5,5% que a China estabeleceu para este ano.

A desaceleração econômica se deve em grande parte aos rígidos bloqueios impostos nas principais cidades como parte da estratégia “covid zero” do país. Essas restrições afetaram, entre outras cidades, Xangai, um centro industrial e financeiro vital.

Além da desaceleração do PIB, indicadores como o desemprego dos jovens estão em níveis recordes.

E o setor imobiliário, que responde por um terço da economia do país, vive tempos difíceis com um número crescente de proprietários que se recusam a pagar suas hipotecas devido ao aumento da desconfiança no setor.

São fatores que, somados aos problemas energéticos e à estiagem do verão, só aumentam a incerteza e a preocupação com a economia mundial.

“Temos as consequências da guerra na Ucrânia, secas na Europa… é difícil prever a magnitude, mas o que está acontecendo na China definitivamente acrescenta mais pressão à situação econômica global”, disse Knoerich à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC).

Embora as autoridades chinesas não esperem que o choque energético se alongue muito mais, é sem dúvida uma situação que serve como alarme.

“Se a China tem dificuldades para produzir energia e isso se torna um problema maior, este é outro fator que pode afetar os preços no mercado global de energia”, acrescenta o professor do King’s College.

Já em 2021, antes da guerra na Ucrânia piorar o preço da energia, um inverno muito frio na Ásia desencadeou uma forte demanda na China e em outros países densamente povoados — o que já encareceu o combustível.

Knoerich também menciona a importância da China conseguir manter suas lavouras protegidas.

“Se a China passar por problemas de segurança alimentar e tiver que aumentar suas importações do exterior, isso também pressionará os preços”, explica.

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