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sábado 12 de novembro de 2022 às 20:26h

Com sumiço de Bolsonaro, Lula já é tratado como presidente em exercício

NOTÍCIAS, POLÍTICA


O governo de Jair Bolsonaro sempre foi pautado pelo excesso de comunicação do mandatário, que pautava a imprensa e arrastava o país para sua distimia e confusões familiares, escreveu Madeleine Lacsko, do UOL.

Mesmo avesso às entrevistas e adepto da comunicação via “cercadinho”, o presidente pautava as manchetes, muitas vezes pelos absurdos que trazia ao debate público.

A condução da pandemia foi um festival de declarações absurdas, que pautaram a imprensa muito mais do que ações efetivas. E também houve episódios como o do “golden shower” e da defesa do asseio do órgão sexual masculino, que escapam à capacidade de compreensão da maioria.

Fato é que pautavam o debate público. A presidência de Bolsonaro incluía acordar com alguma declaração de muito impacto que seria reverberada de maneira incansável ao longo do dia. No dia seguinte, era substituída por outra.

Tínhamos as tais “lives de quinta”, feitas todas as quintas à noite, em que o presidente da República se comunicava diretamente com seus seguidores mais fiéis. Era ali também que ele pautava a imprensa.

Esse era o coração da gestão bolsonarista, o domínio do debate público, a condução da narrativa, a eterna campanha política. Tudo isso acabou. Desde a derrota, Bolsonaro silenciou.

Podemos especular o que ele pretende com isso e se vai conseguir, mas só o tempo dirá. Se, no início do mandato, a enxurrada de absurdos é que confundia a imprensa e os cidadãos, agora o silêncio é que faz esse papel.

A imprensa não consegue compreender o movimento de Jair Bolsonaro. É impossível saber com segurança se estamos diante de um grande plano ou apenas de uma contrariedade com os fatos da vida.

Os manifestantes que se mantém nas ruas em apoio ao presidente e contra a eleição do presidente Lula ficaram órfãos. Geralmente, esperavam a manifestação de Bolsonaro para saber como agir, o que dizer, de que forma pensar. Agora somente resistem à espera de uma palavra que nem sabem se virá.

O governo passou a ser a transição. Diante do sumiço e do silêncio de Jair Bolsonaro, os fatos que interessam à imprensa e ao cidadão vêm do gabinete de transição.

Lula tem experiência com isso. Não é a primeira vez que conduz um processo como este. Mas é a primeira em que vemos um processo de transição se misturar com uma passagem antecipada de faixa presidencial.

É Lula – e não Bolsonaro – quem vai à Conferência do Clima da ONU, a COP 27 no Egito. Já teve diversas reuniões bilaterais solicitadas por chefes de Estado estrangeiros, como se tivesse efetivamente recebido a faixa.

O presidente efetivo chegou, segundo consta na imprensa, a reclamar de “usurpação”. Mas fato é que Bolsonaro não frequentava esse círculo, o Brasil estava fora dele. Com Lula, o Brasil entra.

Pode parecer só bônus ser tratado como presidente antes de receber a faixa, mas há um ônus gigantesco conforme Madeleine Lacsko, do UOL, que Lula e a equipe de transição precisarão administrar. Já são efetivamente tratados como governantes mas não têm a caneta na mão.

É um processo completamente diferente daquele que Lula viveu na transição do governo Fernando Henrique, que se encarregou inclusive de assentar as bases legais para o processo, com a criação de cargos e ritos específicos.

Ali havia espaço para testar nomes e ideias, fazer balões de ensaio para imprensa e o mercado, medir a opinião pública e a receptividade a cada tipo de ideia que se pretendia implementar. Agora isso não existe. Na cabeça das pessoas, Lula já vestiu a faixa.

Sem ter informações completas do cenário que vai encontrar, o presidente eleito será cobrado pela opinião pública e pelo mercado como alguém que tem poder de mando.

Some-se a isso o fato de Lula ter conseguido fazer uma campanha sedimentada no antibolsonarismo, uma força suprapartidária que talvez seja maior do que todas as forças políticas atuais. Seguramente é maior que o petismo e este é o governo da frente ampla, não do PT.

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