O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido aconselhado por auxiliares diretos a acelerar a indicação para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). O cálculo político no Planalto segundo Jeniffer Gularte e Mariana Muniz, do O Globo, é que a escolha deve ocorrer antes que o governo comece a sofrer eventual de desgaste com o andamento da CPI do 8 de Janeiro no Congresso.
Hoje, o favorito para ocupar a cadeira deixada pelo ministro Ricardo Lewandowski é o advogado Cristiano Zanin. Emissários do governo têm levado ao advogado a expectativa que seu nome seja indicado em até duas semanas.
Embora o próprio Zanin tenha evitado contato com parlamentares neste momento, buscando manter-se discreto em sua articulação, interlocutores do mundo jurídico, especialmente advogados com bom trânsito em Brasília, já tem feito esse papel. Em conversas com senadores, tentam medir qual ambiente para aprovação do seu nome junto ao Congresso. Parlamentares, por sua vez, já fizeram chegar até ele que não haverá problemas caso seja o escolhido por Lula.
O advogado tem recebido sinalizações positivas inclusive de senadores da oposição, como o de Flavio Bolsonaro (PL-RJ). O próprio governo não espera encontrar resistência em outros nomes da oposição, como o de Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro. A interlocutores, Nogueira avalia que, com cenário de maioria do governo no Senado, Zanin não terá dificuldade de aprovação. O cacique do PP prevê tramitação muito mais célere que a de André Mendonça. O ministro foi sabatinado mais de cem dias após sua indicação pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o senador Davi Alcolumbre (União-AP) também já mandou recado a Zanin de que não pretende repetir o impasse gerado na indicação de Mendonça caso a escolha de Lula seja mesmo pelo nome do advogado.
O indicado por Lula ao STF precisa ser aprovado por maioria absoluta do plenário do Senado — ao menos 41 dos 81 senadores. Antes, no entanto, a CCJ do Senado o submete a uma sabatina, onde são feitos questionamentos jurídicos, políticos e perguntas sobre a vida pessoal do futuro ministro.
Zanin tem viajado a Brasília com frequência para despachar em assuntos dos processos em que atua, sobretudo no caso Americanas, mas tem evitado frequentar eventos políticos. A pessoas próximas, afirma que já teve conversas com presidente sobre perfil e o papel do cargo, mas não admite se já recebeu convite.
Na semana passada, um movimento feito pelo ministro Dias Toffoli foi visto no meio jurídico como um potencial para favorecer a indicação do advogado. Com a aposentadoria de Lewandowski, que integrava a Segunda Turma do tribunal, Toffoli manifestou à presidente do STF, Rosa Weber, o interesse em ocupar a vaga.
O impacto dessa mudança em uma futura indicação de Zanin por Lula está em um detalhe: é na Segunda Turma que os processos da Lava-Jato são analisados pelo Supremo. Caso ficasse na vaga antes ocupada por Lewandowski, o advogado do presidente poderia ter que se declarar impedido nos julgamentos envolvendo a operação — um fator que entra no cálculo político de uma eventual indicação de Zanin à Corte.